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Eu já mencionei para vocês aqui no blog o que é motivação e qual sua importância quando pensamos em considerações sobre o bem-estar animal. Em estudos de bem-estar, em geral a motivação dos animais para acessarem diferentes recursos ambientais é inferida com base em esforço físico empregado para conseguir obter os recursos. Nesses estudos, o esforço físico é determinado quando os animais precisam empurrar portas pesadas, cujo peso é gradativamente ou randomicamente alterado ao longo do tempo em diferentes testes, para acessar o recurso. Dessa forma, quanto mais esforço o animal aplica para acessar o recurso conforme o peso da porta que lhe dá acesso aumenta, mais motivado ele deve estar para acessar o recurso.
Uma outra forma utilizada para medir o esforço físico dos animais é bloquear o acesso ao recurso e liberá-lo apenas quando o animal realizar determinada frequência de um comportamento anteriormente condicionado em testes prévios ou que o animal naturalmente expresse. Assim, quanto maior a frequência de repetições do comportamento necessária para acessar o recurso, mais o animal deve se esforçar para acessá-lo, ou seja, mais motivado ele deve estar por tal recurso. Há ainda outras formas de inferir o esforço físico dos animais. Por exemplo, num dado estudo, os autores avaliaram a motivação de galinhas poedeiras para acessar áreas próprias para nidificação por reduzirem o corredor de passagem que dava acesso a tais áreas. Quanto menor o espaço do corredor, mais as aves tinham que se esforçar para passar através deles. Assim, o esforço físico dos animais pode ser inferido de diferentes formas.
Entretanto, será que a motivação para acessar os recursos pode ser inferida apenas a nível físico? O bem-estar animal envolve diversos componentes, incluindo a saúde física e o estado fisiológico do animal, os comportamentos que ele expressa e ainda um componente psicológico mais difícil de ser acessado, como as emoções. Embora algumas vezes as emoções possam ser expressas em diferenças comportamentais familiares a nós como indicativas de determinadas emoções, nem sempre isso acontece. Aliás, dependendo da espécie, isso nunca acontece! Com o desenvolvimento do conceito de bem-estar, características fisiológicas e comportamentais passaram a ser incluídas e aceitas como parte das considerações do estado do animal. Entretanto, o envolvimento do componente psicológico parece mais difícil de ser aceito, embora tal componente tenha ganhado mais espaço recentemente. Assim, será que a motivação dos animais para acessarem os recursos não pode ser inferida a nível psicológico também? Ou seja, será que o esforço pode ser avaliado a nível psicológico, indicando que o animal está disposto a ultrapassar um estímulo aversivo, por exemplo, para acessar um recurso que seja importante para ele?
Até o momento, de meu conhecimento, não há estudos na literatura que avaliaram esforço psicológico para acessar recursos buscando inferir sua importância para os animais. Em meu doutorado, que acabei de defender, nós utilizamos testes de esforço físico e também psicológico buscando inferir a motivação dos animais para acessar recursos anteriormente preferidos para determinar o quão relevantes tais recursos eram para os animais testados. Se a motivação pode ser considerada como um estado do animal influenciado por fatores internos e externos, é fácil pensarmos que ela é naturalmente um componente psicológico. Assim, a motivação pode então ser inferida por testes que incluam desafios não apenas físicos mas também psicológicos, como por exemplo, a superação de um estímulo considerado aversivo para alcançar determinado recurso. Dessa forma, é possível que a motivação dos animais para acessarem diferentes recursos possa ser inferida a partir de diversos tipos de testes de esforço, incluindo aqueles que avaliam o esforço psicológico dos animais, mas essa abordagem ainda não é comum na literatura e muito pode ainda ser descoberto nesse aspecto.