Comportamento parental

Seguindo as postagens anteriores sobre Seleção Sexual, hoje começo a postar sobre um tema relacionado, o comportamento parental. É a partir de tal comportamento que podemos observar mais especificamente o cuidado parental, ou seja, os comportamentos dos pais associados ao cuidado com sua prole. A definição que expressarei abaixo sobre o comportamento parental é baseada na definição apresentada no Dicionário de Comportamento Animal do Dr. David McFarland (Dictionary of Animal Behaviour, que já recomendei aqui no blog). 

O comportamento parental é aquele que auxilia no desenvolvimento da prole, sendo que podem haver desde formas mais rudimentares até aquelas bem mais complexas desse comportamento. Por exemplo, uma forma mais rudimentar limita-se, simplesmente, a deposição de ovos em um local mais escondido e sombreado, evitando assim a fácil detecção dos ovos por predadores (comportamento comum em insetos bem como em alguns anfíbios e peixes). Em outras espécies, além da deposição de ovos num local mais protegido, há também o fornecimento de alimento às larvas recém nascidas. Além disso, quando a fertilização é interna, o ambiente é restrito e assim a fertilização dos gametas é potencializada, e quando os filhotes se desenvolvem no interior da mãe (ou do pai em alguns casos) a chance de sobrevivência deles após o nascimento é maior. Ainda em níveis mais complexos, o comportamental parental antes e após o nascimento dos filhotes é intenso e bem complexo… 

Considerando os animais vertebrados, podemos ver diferenças e características mais peculiares de cada grupo (peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos). Vejamos abaixo:

Considerando peixes e anfíbios, o comportamento parental pode variar muito. Por exemplo, podemos observar desde casos em que praticamente não há comportamento parental como quando ocorre fertilização externa somada ao abandono da prole, passando por diferentes formas de guarda da prole, até chegarmos à viviparidade (nascimento de filhotes em contraposição à deposição de ovos), como ocorre em tubarões, por exemplo. Nesse último caso, os filhotes se desenvolvem completamente no interior do trato reprodutivo da fêmea, incluindo uma estrutura que equivale à placenta observada em mamíferos.

Já entre os répteis, a fertilização é quase sempre interna, o que já representa algum grau de comportamento parental. Além disso, há várias formas de viviparidade, potencializando assim a probabilidade de sobrevivência de cada filhote. Em alguns animais desse grupo, o comportamento parental é muito desenvolvido, chegando à elaborada construção de ninhos que são guardados e protegidos. Existe aqui até mesmo o transporte dos filhotes pela boca e a permanência da fêmea em proximidade de seus filhotes por várias semanas  logo após o nascimento.

Nas aves podemos destacar o cuidado dos filhotes após o nascimento, que pode ser extremamente complexo e durar até que os filhotes atinjam a maturidade. Além disso, o comportamento parental em aves frequentemente envolve construção de ninhos, incubação de ovos, guarda e proteção do ninho, além de envolver a alimentação e proteção dos filhotes após o nascimento. E um fato interessante nas aves é que é comum que ambos os pais estejam envolvidos no comportamento parental. Assim, como o nível tal comportamento é geralmente elevado, o pareamento entre os pais é frequentemente forte e duradouro.

Entre os mamíferos, podemos ver que a complexidade do comportamento parental atinge níveis muito altos, sendo que as fêmeas são especialmente equipadas com as glândulas mamárias, o que permite que os filhotes sejam bem alimentados facilmente em uma alta frequência. Assim, nos mamíferos podemos destacar o comportamento parental materno, ou seja, o comportamento maternal. Tal comportamento  pode ser bem complexo, geralmente envolvendo o imprinting dos filhotes (veja aqui o que é imprinting) entre outros comportamentos mais complexos de aprendizagem (incluindo até mesmo a transmissão cultural – veja aqui). O pareamento entre os pais é frequentemente mais temporário, embora ocorra de forma mais característica nos primatas.

Em minha próxima postagem veremos mais especificamente sobre o cuidado parental como uma das formas de comportamento parental.