Comportamentos Inatos x Comportamentos Aprendidos

Na última postagem que fiz aqui no blog, expliquei a vocês o que é imprinting, um tipo de um comportamento aprendido. Mas o que seria um comportamento aprendido exatamente? Qual a diferença entre um comportamento aprendido e um comportamento inato? Quando falei sobre o imprinting já expliquei a diferença básica entre comportamentos inatos e aprendidos, mas agora gostaria de discutir esse ponto mais a fundo com vocês. Um comportamento reconhecido como “inato”  é aquele sob forte influência genética, ou seja, que não necessita de muita (ou nenhuma) prática através de experiências no ambiente para ser eficientemente expressado pelo animal. O comportamento inato normalmente representa uma resposta motora estereotipada e é mais típico da espécie como um todo. Por outo lado, um comportamento reconhecido como “aprendido”  é aquele que vai sendo modificado e moldado ao longo do tempo com base nas experiências pelas quais o animal vai passando ao longo de sua vida. Comportamentos aprendidos podem variar desde muito simples como o imprinting, até muito complexos, como a transmissão cultural (que veremos mais adiante aqui no blog). Nesse contexto, já houve muita discussão sobre a classificação dos comportamentos em puramente inatos (genéticos) ou aprendidos, que pode ser resumida no famoso dilema “nature x nurture”. Tal dilema pode ser entendido em português como “essência ou índole x criação ou adestramento”. Mas será que realmente existem comportamentos puramente inatos que dependem apenas da “essência” do animal e comportamentos puramente aprendidos que dependem apenas da criação/adestramento do animal? 

Hoje sabemos que “nature x nurture” na verdade não existe. Cada comportamento expressado pelo animal deve ser fruto tanto de sua base genética quanto do que ocorre no ambiente ao seu redor. É claro que existem comportamentos que não dependem de experiências com o ambiente, mas que, entretanto, são desencadeados apenas quando estímulos ambientais apropriados são deflagrados. Ou seja, não devem existir comportamentos puramente genéticos ou puramente aprendidos/ dependentes de experiências com o ambiente. Tanto sem a base genética apropriada quanto sem ao menos o estímulo ambiental apropriado não há a deflagração dos comportamentos do animal. Assim, todo comportamento tem base genética inata e também é influenciado pelo contexto ambiental em que o animal se encontra. A diferença entre “inato” e “aprendido” é que nos comportamentos mais inatos a maior influência sobre sua ocorrência é a base genética, enquanto que nos comportamentos mais aprendidos, a maior influência sobre sua ocorrência é ambiental. Uma vez que nós sabemos essa diferença, uma pergunta fundamental que pode ser feita é: qual seria a vantagem de não ter que aprender ou a vantagem de aprender ao longo do tempo?

A vantagem de não ter que aprender é expressar uma reação rápida a estímulos ambientais que exigem urgência de resposta, tais como a defesa anti-predatória, o cuidado da prole, o reconhecimento de parceiros e os rituais sexuais, a construção de ninho, a locomoção e a orientação em cursos de migração. Ou seja, a vantagem de não ter que aprender é justamente não depender de aprendizagem quando a resposta imediata ao estímulo aumenta muito as chances de sobrevivência, reprodução e sucesso do animal. Por outo lado, a vantagem do aprendizado é ajustar o desempenho do animal aperfeiçoando seu comportamento em determinada atividade ao longo do tempo. A aprendizagem permite ao animal aperfeiçoar a capacidade de integração sensorial e motora, evitar estímulos nocivos, discriminar diferentes objetos do ambiente e reconhecer indivíduos diferentes, além de associar eventos com suas possíveis consequências. Assim, com a aprendizagem os animais podem aperfeiçoar seus comportamentos e expressá-los de forma mais eficiente com o passar do tempo. Ou seja, a aprendizagem permite ao animal maximizar seu desempenho no ambiente que o rodeia conforme ele passa por diferentes experiências ao longo do tempo. 

Nesse contexto, o que eu gostaria que ficasse bem claro para vocês é que todos os comportamentos tem influência genética e ambiental, o que muda entre diferentes comportamentos é a intensidade da influência de cada um desses dois fatores. Além disso, é importante sempre pensar que tanto comportamentos mais inatos quanto aqueles mais aprendidos trazem vantagens adaptativas para os animais, dependendo do contexto e das circunstâncias que os cercam.