Comunicação animal

A capacidade de se comunicar de forma eficaz, ou seja, enviar uma mensagem que é adequadamente percebida por outro indivíduo é uma característica com alto valor adaptativo. Basta pensar em animais sentinelas que detectam a aproximação de predadores e emitem sinais que indicam a seus companheiros de grupo sobre a presença do predador (veja ou relembre essa estratégia anti-predatória aqui) para melhor percebermos a importância da comunicação animal na sobrevivência das espécies. Além disso, basta pensarmos nos displays visuais e sonoros expressados por machos de várias espécies de aves do paraíso que são percebidos e usados pelas fêmeas no processo de seleção de parceiro sexual (veja ou relembre a seleção sexual nas aves do paraíso aqui) para melhor percebermos a importância da comunicação animal na reprodução das espécies. Certo…mas o que exatamente é a comunicação animal? Em uma postagem anterior, coloquei aqui no blog um comentário e a indicação de dois vídeos relacionados à complexidade que essa comunicação pode ter… Hoje veremos mais exatamente como definir o conceito de comunicação animal.

Segundo o dicionário de comportamento animal de David McFarland (citado nas indicações de livros aqui no blog), a comunicação animal pode ser definida como a capacidade de transmitir uma determinada informação de um indivíduo para outro de forma a influenciar o comportamento do indivíduo que recebe a mensagem. Assim, perceba que é um processo que envolve uma coevolução entre a capacidade de formar o sinal que é enviado e a capacidade de percepção desse sinal. Assim, transmissão casual ou mesmo percepção oportunista de informação não é considerada como uma forma de comunicação. Isso pode ser mais complicado de entender, mas um exemplo claro que está no próprio dicionário de David McFarland nos ajuda a entender mais claramente. Quando uma vaca, por exemplo, ergue sua cauda logo antes de defecar e um animal que esteja atrás dela rapidamente se afaste, não houve comunicação entre esses animais, já que “erguer a cauda” não foi um sinal intencional da vaca… 

Nesse cenário, podemos falar em sistema de comunicação animal, desde os mais simples, quando uma fonte (animal que envia a mensagem) codifica e transmite um determinado sinal que é então detectado por um receptor (animal que recebe a mensagem), sendo então decodificado de forma que tenha um significado para o receptor. Veja aqui que codificar um determinado sinal envolve o processo de transformar tal sinal de uma representação específica para outra distinta através de um sistema de códigos. Novamente, um claro exemplo apontado no dicionário de David McFarland nos ajuda a melhor compreender esse processo. Quando temos um cão que está bravo, tal animal deve expor seus dentes e rosnar, por exemplo. Tais sinais físicos representam a incorporação de uma mensagem específica pelas quais os cães, quando bravos, influenciam o estado de outros animais ao seu redor. Assim, o estado de “estar bravo” foi codificado na expressão de colocar os dentes a mostra e rosnar, o que mostra uma representação específica que indica o estado de “braveza” do animal.

É importante destacar que a efetividade das mensagens transmitidas pelos animais vai depender do contexto ambiental em que os animais estão inseridos. Assim, diferentes modalidades sensoriais podem ser melhores ou piores para enviar e perceber sinais dependendo do ambiente, principalmente com relação à natureza física desse ambiente. Além disso, veja que  a efetividade das mensagens transmitidas também depende da natureza do receptor da mensagem (aparato sensorial e capacidade de processamento cognitivo do receptor) e também da influência de outros possíveis sinalizadores (principalmente quando há espécies proximamente aparentadas ocorrendo no mesmo ambiente – podem emitir sinais muito semelhantes). 

Em minhas próximas postagens vou colocar alguns exemplos para deixar mais claro sobre as possíveis influências na efetividade da transmissão de mensagens no processo de comunicação animal vistos no parágrafo acima. Não percam!