Comunicação Animal – parte 2

Continuando a discussão sobre o conceito da comunicação animal, hoje veremos alguns exemplos que melhor esclarecem a ideia de que a efetividade da comunicação animal depende das interferências do ambiente físico, das capacidades sensoriais e cognitivas do recebedor, bem como da influência de outros possíveis sinalizadores emitindo mensagens e que estejam no mesmo ambiente ou contexto. A partir disso fica mais fácil visualizar os obstáculos, dificuldades e complexidade que podem estar envolvidos no processo de comunicação animal. Os dois primeiros exemplos que mencionarei abaixo são baseados nas informações apresentadas com relação ao conceito de comunicação animal no dicionário de McFarland (Dictionary of Animal Behaviour) já citado e indicado aqui no Blog.

Vamos falar primeiramente sobre o caso mais específico relacionado ao canto das aves, que claramente exemplifica a interferência de fatores ambientais na transmissão e codificação das informações. Neste caso das aves, os maiores problemas relacionados à transmissão das mensagens se refere à atenuações e distorções dos sons emitidos enquanto que, por outro lado, com relação aos problemas relacionados à codificação da mensagem, os maiores problemas se relacionam a interferências na frequência e amplitude do som emitido. Na transmissão da informação, a distorção em si dos sons frequentemente resulta tanto da dissipação causada pela vegetação (ex: folhagens), quanto pela reverberação causada por rochas, troncos ou outros possíveis obstáculos no ambiente. Nessas condições, emitir sons mais puros pode ajudar na transmissão, pois eles estão menos sujeitos a esse tipo de problema de distrorção. Entretanto, os sons mais puros sofrem muito com o problema de atenuação por interferências causadas pelo ambiente, ou seja, emitir sons mais puros também não resolve todos os problemas… Já com relação às dificuldades envolvidas no processo de codificação da mensagem, a frequência da codificação é menos afetada por variáveis relacionadas às condições climáticas que a amplitude dessa codificação. Entretanto, nem sempre é possível variar a frequência na emissão dos sons ao invés de suas amplitudes… Veja o caso da vocalização de pássaros pequenos, que não são capazes de produzir sons de frequência baixa, e, portanto, produzem sons de frequência mais alta. Nesses casos, problemas de interferências na codificação da mensagem podem ser minimizados quando emitidos de uma posição mais elevada e mais limpa de obstáculos.

Alem desse exemplo sobre as possíveis interferências das estruturas do ambiente na comunicação animal, uma boa forma de exemplificar com clareza a questão da efetividade do processo com relação a presença de outros sinalizadores no ambiente é imaginarmos uma condição ambiental em que ocorram, no mesmo habitat, espécies proximamente aparentadas. Nesses casos, quando tais espécies além de serem bem aparentadas também estão mais ativas (especialmente com relação ao contexto reprodutivo) numa mesma estação do ano, pode haver interferência no processo de comunicação entre elas, pois os sinais emitidos podem ser muito semelhantes. Um claro exemplo disso pode ser observado em algumas espécies de peixe elétrico (Gymnotus spp.) na qual a comunicação entre os indivíduos ocorre em águas turvas através da emissão de discargas elétricas. Tais discargas podem ser emitidas por meio de pulsos variados dependendo das mensagens transmitidas e, além disso, permitinfo que a interferência de comunicação entre as espécies seja reduzida. Assim, quando um peixe dessas espécies está sofrendo influências das emissões elétricas de outro peixe ele é capaz de modificar a taxa de emissão de pulsos elétricos, reduzindo assim os problemas de intrerferência na comunicação entre indivíduos de espécies distintas.

Além dos exemplos vistos acima que foram retirados do dicionário do Dr. McFarland, gostaria de mencionar um exemplo que claramente mostra a relação entre o processo de comunicação e as capacidades sensoriais e cognitivas do recebedor. Emitir um sinal complexo não significa nada se ele não for devidamente decodificado e compreendido pelo recebedor. Nesse aspecto, um belo exemplo que podemos apontar aqui é a famosa “dança das abelhas” que já foi vista aqui no Blog. Veja que a interpretação adequada da “dança” que a abelha faz ao retornar para sua colmeia permite que as demais abelhas sejam capazes de indentificar direção, sentido, distância e quantidade de alimento numa fonte que a abelha “dançarina” detectou fora da colmeia. Caso ainda não tenham o visto o vídeo indicado aqui no Blog sobre isso, não deixe de conferir!