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Uma das definições mais famosas de bem-estar animal, proposta por um dos fundadores dessa ciência e que também foi o primeiro professor de bem-estar animal no mundo, o Dr. Donald Broom, inclui o termo “cope” em sua definição. De acordo com o Dr. Broom, podemos definir o bem-estar animal como “o estado interno do animal nas suas tentativas de lidar e se ajustar ao seu ambiente” ou, na sua versão original em inglês: “welfare of an animal has been defined as its state as regards its attempts to cope with its environment”.
Assim, vemos que “to cope” remete a forma como o animal lida e se ajusta às condições ambientais que o cerca. Ambientes artificiais impõem diversas restrições aos animais, pois, ao contrário das condições naturais o cativeiro geralmente é um ambiente muito estável e previsível. As estruturas do ambiente geralmente permanecem constantes e as pessoas que cuidam dos animais geralmente são sempre as mesmas e mantém uma rotina diária constante de cuidados/alimentação dos animais. Ou seja, o ambiente cativo geralmente é muito previsível, ao contrário das condições ambientais na natureza. Em laboratórios, as condições podem ser ainda piores, pois nesses ambientes a temperatura, iluminação e outras variáveis ambientais geralmente também são mantidas constantes. Além disso, em ambientes cativos, os animais não tem controle algum sob as condições em que são mantidos, pois não tem como se deslocar e sair do ambiente em que se encontram se estão desconfortáveis ou se sentindo ameaçados. Nesse contexto, como será que os animais “lidam/se ajustam” a esses ambientes?
É comum as pessoas considerarem que animais realizando comportamentos considerados como anormais como as estereotipias estão em condições ruins de bem-estar, ou seja, não estão lidando bem e , portanto, não estão conseguindo se ajustar ao ambiente artificial, de acordo com essa definição de bem-estar do Dr. Broom. Entretanto, se um animal está apresentando um comportamento diferente daquele observado em vida livre nas condições naturais, isso não poderia representar uma forma de tentar lidar com as condições artificiais impostas? Seguindo esse pensamento, será que um animal mais inativo num ambiente artificial não poderia estar numa condição pior que um outro que estivesse se comportando de forma diferente do esperado? Um animal inativo pode estar tão frustrado com as condições artificias que o cercam que nem sequer consegue tentar lidar com tais condições. De fato, como já mencionei aqui para vocês antes, o próprio Dr. Broom e também o Dr. Hill sugerem que comportamentos naturais não devem necessariamente ser esperados em ambientes não-naturais. Assim, torna-se relevante pensar cuidadosamente na maneira que iremos interpretar o sentido da palavra “cope” ao olharmos a expressão comportamental de animais cativos no contexto do bem estar animal.