Cuidado com extremismos no bem-estar animal!

Sabemos como é importante considerar a questão do bem-estar animal para melhorar as condições dos animais que estão sob nossa responsabilidade. É nosso dever zelar para que os animais que retiramos das condições naturais, inclusive aqueles já domesticados, estejam sob as melhores condições que forem possíveis, tanto considerando caratecterísticas ambientais quanto interações intra e inter-específicas. Caso você acompanhe meu blog, já deve ter percebido meu claro posicionamento a esse respeito. Entretanto, considerar a importância do bem-estar dos animais e da necessidade de lutarmos para cada vez mais progredirmos nesse aspecto, é apenas o primeiro passo… Mas o que eu quero dizer com isso? Hoje estou aqui para falar de algo muito importante que venho vendo cada vez com mais frequência entre as pessoas quando falam em bem-estar animal: o extremismo.

Quando pensamos em bem-estar animal, objetividade, embasamento científico e, principalmente, a devida contextualização da questão em foco é fundamental. E quando falo em contextualizar, quero dizer em considerar a história evolutiva da espécie, o histórico e as experiências pelas quais o indivíduo em foco já passou ao longo de sua vida, as características biológicas de sua espécie (incluindo a importância da interação com outros indivíduos), as limitações do ambiente em que está inserido no momento, as limitações dos humanos que são responsáveis por ele, e, finalmente, as interações que ele tem com tais humanos. Assim, não adianta radicalizar determinando medidas que devem melhorar o bem-estar animal no sentido de que apenas tais medidas devem ser eficazes e, ao mesmo tempo, aplicáveis do ponto de vista prático. Tudo depende do contexto e da situação em que o animal está vivendo.

O que é possível melhorar numa situação específica considerando todos esses aspectos mencionados acima? Depende! Enriquecimento ambiental que gera pouca interação do animal não funciona? Depende! Às vezes o animal interage pouco, mas isso é suficiente para gerar impacto significativo em suas condições. Animais sempre se estressam com barulhos? Depende! Alguns animais são naturalmente mais sensíveis que outros, isso depende da personalidade. Estereotipia sempre indica uma condição muito ruim? Depende! Às vezes um animal que está expressando uma estereotipia está numa condição melhor do que outro que nem isso consegue expressar numa situação ruim. Se o animal não está sofrendo, automaticamente ele está em boas condições de bem-estar? Depende! Ele também tem algum estímulo que lhe cause prazer? Estresse indica que o animal está em condições ruins de bem-estar? Depende! O animal pode estar estressado em momentos em que expressa alguns comportamentos naturais, os quais escolhe livremente desempenhar se tiver a oportunidade. O que um animal escolhe num momento é o que ele prefere a longo prazo? Depende! Se a resposta for consistente ao longo do tempo sim, mas em caso contrário provavelmente não… Vejam que essas são apenas algumas questões que podemos fazer quando pensamos em bem-estar animal…O importante é ter uma mentalidade crítica e sempre nos questionarmos sobre o que realmente parece fazer mais sentido e ser mais adequado considerando as circunstâncias específicas sob as quais o animal se encontra.

Além disso, é importante não radicalizar também a ideia de que ou melhoramos tudo no ambiente ou de nada valem as alterações que fizermos para melhorar o bem-estar dos animais… Veja que há um contínuo entre uma condição muito ruim e uma condição ótima de bem-estar, bem como claramente proposto pelo Dr. D. Broom. Nesse aspecto, não faz sentido melhorar o que for possível, dentro das limitações que existirem (e.g. pessoa que mantém o animal não quer ou não pode gastar dinheiro ou alterar significativamente a estrutura do ambiente do animal), para melhorar ao menos um pouco as condições do animal? Alguma melhora certamente será melhor do que nada… Quanto mais melhorias pudermos implementar com base em tudo que apontei no parágrafo acima para considerarmos em relação ao bem-estar, maior será o benefício para os animais… E, por último, fica aqui uma dica importantíssima: devemos procurar avaliar a situação a partir do ponto de vista dos animais e não do nosso. O que é ruim para nós nem sempre é para eles e, mais importante do que isso, o que não é ruim para nós pode ser para eles… É esse o maior cuidado que devemos tomar. E lembre-se, a vida (inclusive na natureza) é cheia de momentos de estresse e problemas a serem resolvidos… também não é colocando o animal numa “redoma de vidro” que ele estará protegido de todo o sofrimento que possa aparecer. Às vezes, estar nessa “redoma” pode causar ainda mais sofrimento do que ser capaz de lidar com situações aversivas que possam estar presentes no ambiente. Assim, tome cuidado com esse tipo de extremismo também!