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Você já ouviu falar em desextinção? Esse termo não é muito comum, mas seu significado é relativamente fácil de compreender. Desextinção, como seu próprio nome já indica, é o oposto de extinção… Assim, se a extinção de uma espécie representa que ela desapareceu da face da Terra, “desextinguir” uma espécie, por outro lado, representa a ideia de trazer uma espécie extinta de volta a vida através de um processo genético… Num primeiro momento, isso pode parecer uma ideia muito fictícia e, inclusive, maluca, que nos remete a filmes de ficção cintífica, tais como os filmes da famosa franquia Jurassic Park. Entretanto, atualmente sabemos que é um tema discutido na ciência e que há cientistas envolvidos em possíveis processos de desextinção. Ou seja, a ideia já não é mais tão fictícia assim… Mas será que “desextinguir” espécies é uma boa ou má ideia?
Nesse contexto, hoje gostaria de deixar aqui minha opinião sobre isso. O processo de trazer de volta uma espécie já extinta e inseri-la no ambiente atual claramente tem incitado debates a cerca da validade desse processo. Um dos quais eu tive o privilégio de participar há alguns anos. É claro que a ideia de desextinguir espécies que estamos perdendo como consequência de ações antrópicas no ambiente, a primeira vista, pode parecer algo positivo. Mas será que desextinguir uma espécie não poderia trazer mais problemas do que soluções? Se for uma espécie que é uma presa, será que ainda há predadores, ao menos em potencial, para ela no ambiente? Por outro lado, se for um predador, será que ainda há presas em potencial para ele no ambiente? Será que há competidores, que também podem ser importantes no controle do crescimento, para essa espécie no ambiente? Esses e vários outros possíveis questionamentos basicamente podem ser resumidos a um único: será que o ambiente natural suporta a introdução da espécie desextinta de forma equilibrada?
Quando uma espécie está extinta há milhares, milhões ou mesmo bilhões de anos, o ambiente que ela encontraria atualmente seria, provavelmente, completamente diferente de seu ambiente e contexto originais. Assim, condições ambientais e ecológicas do planeta na época em que tal espécie viveu podem facilmente ser incompatíveis com as condições atuais. Condições climáticas, relações interespecíficas, disponibilidade de alimento, pressões predatórias, etc, tudo isso foi mudando gradativamente ao longo dos bilhões de anos de existência de nosso planeta. Assim, ao trazermos de volta uma espécie extinta há muito tempo, estaremos, ao mesmo tempo, inserindo tal espécie num ambiente que passou por todo um processo de transformação desde sua extinção. Um ambiente que pode (e, certamente, muitas vezes deve!) ser incompatível com a espécie. Nesse aspecto, ao invés de estarmos salvando uma espécie, creio que estaríamos, na realidade, potencialmente condenando várias outras à extinção… Portanto, não concordo com a ideia de desextinguir espécies que foram extintas há muito tempo… Esse seria um processo, no mínimo, muito perigoso e arriscado, com potencial de trazer grandes problemas ecológicos e prejudicar ou mesmo extinguir outras espécies.
Por outro lado, esse cenário pode ser bem diferente quando pensamos em espécies que acabaram de entrar em extinção. Se a espécie acabou de ser extinta, o ambiente ao qual ela estava naturalmente adaptada, incluindo as relações ecológicas em que ela estava envolvida (principalmente relacionadas à predação e competição) ainda devem estar presentes no ambiente. Nesse contexto, acredito que realmente possa ser válido desextinguir espécies que recentemente foram extintas. Entretanto, mesmo assim, ainda é necessário ter cautela… Por que essa espécie foi extinta? É possível evitar nova extinção dessa espécie considerando os fatores que a levaram previamente à extinção? O ambiente em que será inserida tem capacidade de suportá-la com equilíbrio? Haverá medidas protetivas associadas ao acompanhamento e manutenção dessa espécie? Assim, no caso de usar o processo de desextinção para trazer de volta espécies recentemente extintas como consequência de ações antrópicas (ex: fragmentação, desmatamento, etc), eu acho válido. Entretanto, acredito que é necessário haver estudos cautelosos, bem como o acompanhamento dessa espécie após sua reintrodução no ambiente visando avaliar a viabilidade de sua manutenção no ambiente.