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Eu já expliquei aqui no blog o que é Enriquecimento Ambiental e que a forma de análise de seus efeitos sobre os animais cativos ainda não está clara e deve ser mais complexa do que a forma como geralmente tais efeitos vem sendo avaliados. Mas será que apenas isso dificulta a aplicação e interpretação dos resultados do enriquecimento ambiental? Eu diria, com base em minha experiência em alguns trabalhos com enriquecimento e também no que tenho ouvido de colegas que trabalham com isso, que há muito mais dificuldades envolvidas…
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Trabalhos de enriquecimento muitas vezes são feitos em zoológicos, ambientes nos quais geralmente não encontramos uma amostragem significativa de indivíduos da mesma espécie. Ou seja, ao aplicarmos e avaliarmos os efeitos do enriquecimento, podemos inferir se as condições dos indivíduos testados melhorou, mas pouco podemos extrapolar para a respectiva espécie. É claro que isso não invalida a aplicabilidade do enriquecimento, pois o foco principal é melhorar as condições do animal que foi submetido a ele, mas se for possível testar vários indivíduos da mesma espécie com o mesmo tipo de enriquecimento é melhor no sentido de generalizar as respostas. Dessa forma, ao testarmos vários indivíduos da mesma espécie, podemos gerar conhecimento científico que pode ser diretamente aplicado visando melhorar as condições de outros indivíduos cativos da mesma espécie, em outros zoológicos ou ainda outras condições. Entretanto, se isso não for possível, ainda assim podemos gerar conhecimento científico por meio de”estudos de caso”. Nesses estudos, apresentamos os efeitos do enriquecimento em um ou poucos indivíduos e, futuramente, com outros estudos em mais indivíduos da mesma espécie, alguma resposta geral pode ser inferida.
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Muitas vezes o pessoal que trabalha no zoológico, desde coordenadores até os tratadores que cuidam diretamente dos animais, tem certa dificuldade em entender a necessidade de gerar novos estímulos ambientais por meio de enriquecimento para os animais. Isso normalmente decorre da incompreensão do verdadeiro significado do bem-estar animal, que inclui componentes fisiológicos, comportamentais e emocionais, como já vimos aqui. Assim, por terem dificuldade de aceitar a importância das características comportamentais e, principalmente, emocionais nas considerações de bem-estar dos animais, fica difícil convencer essas pessoas da relevância da manutenção de programas de enriquecimento ambiental. Claro que há exceções dentre esses profissionais, como minha grande amiga, Dra. Eliana Ferraz Santos, que por vários anos trabalhou em zoológicos como coordenadora e sempre esteve mais do que empenhada na busca pela melhoria das condições de cativeiro dos animais, mas muitos desses profissionais ainda não pensam assim…
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Em zoológicos há a visitação pública, além de normas internas que muitas vezes impedem que enriquecimentos promissores possam ser aplicados aos animais. Dependendo do item que estiver no interior do recinto dos animais, o público pode achar que é apenas sujeira, ou seja, um descuido do zoológico, ou os animais podem usar certos itens para arremessar no público, o que pode gerar uma situação muito perigosa, especialmente considerando que boa parte do público visitante é constituído por crianças. Se muitos dos profissionais que trabalham nos zoos tem certa dificuldade de entender a importância do enriquecimento, imagine o público em geral! Nesse sentido, é muito importante realizar um processo de conscientização, primeiramente assegurando que todos os membros que trabalham em zoos entendam, aceitem e concordem com a importância da aplicação e manutenção de programas de enriquecimento ambiental. Posteriormente, sem dúvida a educação do público visitante é fundamental, o que deve, inclusive, gerar uma melhor interação público-animal, melhorando a experiência das pessoas que visitam o zoológico
Assim, vemos que as dificuldades com relação a aplicação/interpretação de enriquecimento ambiental em zoológicos são várias, sendo algumas difíceis de superar… Mas, se visamos a melhoria das condições dos animais cativos que estão nessas condições por nossa causa e sob nossa responsabilidade, é mais do que necessário implementar planos de enriquecimento ambiental em todos os zoológicos, além de estimular a conscientização das pessoas sobre a importância dessa prática.