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Já vimos aqui no blog sobre a técnica conhecida como enriquecimento ambiental que é utilizada visando melhorar as condições de bem-estar dos animais em ambientes restritos. Também já vimos aqui sobre algumas dificuldades na aplicação dessa técnica mais especificamente nos zoológicos. Entretanto, as dificuldades associadas a implementação adequada de enriquecimentos para os animais não se restringem ao que já discutimos. Quando vamos enriquecer o ambiente onde os animais sob nossos cuidados permanecem, independentemente de ser em um zoológico ou não, uma dúvida frequente seria relacionada ao que exatamente devemos usar procurando obter os melhores resultados, ou seja, melhorando significativamente as condições de vida dos animais.
É claro que alguns pontos, indubitavelmente, devem ser sempre levados em consideração quando estamos preparando algum enriquecimento ambiental para os animais, tais como a biologia da espécie, a história de vida especificamente do animal em questão, estruturas que podem ser perigosas para o animal considerando seus hábitos/biologia, ou mesmo estruturas que o animal pode usar para fugir do seu ambiente ou contra outros animais ou seres humanos, etc. Entretanto, ainda nesse contexto, gostaria de aprofundar agora um ponto questionado em minha postagem inicial sobre enriquecimento ambiental aqui do blog relacionado à escolha do que podemos incluir na preparação de itens de enriquecimento ambiental. O questionamento mencionado é o seguinte:
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Apenas enriquecimentos que simulem uma condição mais natural para os animais devem ser considerados? Ou seja, enriquecimentos que incluem estímulos mais artificiais não devem ser considerados na hora de preparar e oferecer itens de enriquecimento ambiental aos animais?
Alguns etólogos, como eu mesma já presenciei num minicurso que realizei em um congresso importante dessa área que eu frequento periodicamente, pontuam que se o enriquecimento ambiental não for extremamente similar a alguma condição natural em que o animal viveria (ou vivia anteriormente) em vida livre, ele não é válido. Na época em que ouvi isso (há vários anos!), lembro-me de ficar pensando bastante sobre isso após o minicurso. Mas qual seria o sentido de afirmar isso?
Nesse cenário, o que eu coloco hoje para vocês como meu próprio ponto de vista sobre isso é o seguinte: por que não incluir itens artificiais (por mais distintos que sejam da realidade natural da vida livre!) para os animais em ambientes restritos? E se esses enriquecimentos funcionarem bem, ou seja, e se forem capazes de aumentar consideravelmente o repertório comportamental do animal, reduzir estresse e comportamentos associados à frustração ou excesso de inatividade para a espécie, além de outros comportamentos anormais? Baseado nas experiências que tenho nessa área, incluindo os próprios trabalhos dos quais já participei, eu sei que muitas vezes isso funciona! Então por que não? É claro que nesse ponto precisamos considerar que em algumas situações, tais enriquecimentos “não-naturais” realmente não devem ser usados. Por exemplo, quando animais silvestres estão em recuperação visando uma possível soltura/reintrodução na natureza. Nessa situação, realmente a inclusão de estímulos mais artificiais pode posteriormente prejudicar a desenvoltura dos animais no ambiente natural. Mas se esse não for o caso, repito o questionamento… por que não?
Num ambiente artificial, obviamente (como sempre mencionamos por aqui!) as condições não são nada naturais para o animal. Essa é uma situação nova para ele, com a qual sua espécie não está habituada. Assim, nesse cenário, podemos esperar que o animal expresse comportamentos diferentes daqueles observados em vida livre, o que não necessariamente representa que ele está numa situação pior do que um animal que não expressa tais comportamentos. Esse pode ser seu jeito de lidar com a situação nova, e é por isso que nem sempre a expressão de um comportamento classificado como “anormal” para a espécie é indicativo de condições ruins de bem-estar. Lembre-se de que estereotipia não é indicador inequívoco de mal-estar e de como é complexo determinar o bem-estar de um animal com base em indicadores fisiológicos e comportamentais.
Então por que acrescentar estímulos apenas naturais se todo o contexto não é natural para o animal? Claro que aproximar o ambiente que cerca o animal de seu próprio ambiente natural em vida livre certamente deverá ajudá-lo a melhor lidar com a situação de restrição ambiental em que está inserido, mas não devemos nos restringir a isso… Assim, salvo exceções (como mencionei acima), não vejo por quê um animal num ambiente artificial e que, de fato, deverá permanecer em tal ambiente por toda sua vida não possa interagir com algo artificial se isso lhe colocar em melhores condições de vida.