Estratégias predatórias e anti-predatórias – parte 2

Continuando o assunto da semana passada aqui do blog, ou seja, as estratégias predatórias e anti-predatórias dos animais, hoje veremos sobre as estratégias de defesa em grupo. Nesse sentido, quais seriam as maiores vantagens da defesa em grupo? Acredito que uma das primeiras coisas que possam passar pela sua mente neste momento é a questão da força. Animais agrupados tem muito mais força para encarar um possível predador do que animais isolados. Realmente, em programas de TV que retratam a vida dos animais silvestres, podemos até encontrar situações mais extremas de defesa em grupo associadas a questão da força. Por exemplo, há situações nas quais uma presa atacada e isolada do seu grupo por um predador é posteriormente consegue desvencilhar-se do predador graças a ação de outros membros do seu grupo (ou mesmo de todos eles!), que retornaram e contra-atacaram o predador. Mas será que apenas a maior força por estar agrupado é o que importa nas estratégias anti-predatórias de grupo?

Não! Há diversas outras estratégias anti-predatórias de grupo. Uma delas é o próprio efeito da diluição. Esta estratégia  na verdade é uma consequência de estar agrupado, mas depende de algumas características morfológicas e da tomada de decisão dos indivíduos. O efeito da diluição, como o próprio nome já diz, representa a menor probabilidade de um indivíduo ser predado quando está agrupado do que quando está sozinho por ele estar “diluído” em meio aos outros membros do seu grupo. Assim, quanto mais próximas forem as características morfológicas do indivíduo com os outros membros do seu grupo, mais forte será o efeito da diluição, pois mais difícil será distinguir esse indivíduo dos demais (e lembre-se que o predador precisa focar-se em um deles para atacar!). Tal fato influencia os animais que vivem em grupos na hora de tomarem decisões sobre a qual grupo irão se associar, como já foi visto numa espécie de peixe conhecida popularmente como molinésia.

Além disso, estar em grupo também favorece a possibilidade de “distrair” o predador, até mesmo em estratégias mais completas como o mobbing behavior. Nesse caso, quando o predador se aproxima, vários membros do grupo (que seriam potenciais presas) simultaneamente se aproximam, normalmente cercando o predador, movimentando-se e fazendo barulho. Nessa situação, é comum que os indivíduos do grupo simulem ataques e retiradas em relação ao predador com suas movimentações. Como vários indivíduos fazem isso ao mesmo tempo, o predador pode acabar distraído e confuso, abandonando a área.

Uma estratégia anti-predatória de grupo bem conhecida é a da vigilância. Neste caso, enquanto os demais membros do grupo se alimentam e se deslocam mais distraidamente, um indivíduo permanece como sentinela, vigiando a área. Assim, quando um predador é avistado, o sentinela dispara um sinal de alarme alertando todos os outros membros do grupo para a aproximação de um possível predador. Em programas de TV é comum observarmos essa estratégia em suricates. Níveis mais complexos desta estratégia podem ser observados nos casos em que o indivíduo sentinela dá sinais diferenciados dependendo do tipo de predador que aparece. Por exemplo, se for uma cobra, o sinal é um tipo específico de som, mas se for um leopardo, o tipo de som é outro e se for uma águia, o som disparado pelo sentinela é ainda outro.

Ao viver em grupo há ainda uma outra possibilidade que favorece a defesa dos indivíduos: a divisão de tarefas. Há espécies de animais em que o grupo formado pelos indivíduos constitui uma verdadeira sociedade, como é o caso dos cupins, por exemplo. Nesses casos, pode ser vantajoso para todo o grupo que haja divisão de tarefas, nas quais os indivíduos se especializam em determinadas atividades, chegando ao ponto de apresentarem características morfológicas distintas entre si, relacionadas aos tipos de tarefas que desempenham no grupo, como ocorre nos cupins. Nesse caso temos indivíduos especializados apenas na defesa do grupo, normalmente conhecidos como “soldados”. Tais cupins apresentam o aparato mandibular bem mais desenvolvido que os demais, sendo assim mais capazes de defender o grupo contra a invasão de predadores ou outros intrusos.

Até agora vimos sobre estratégias anti-predatórias dos animais, mas e quanto aos predadores? Como eles caçam suas presas? Veremos em breve aqui no blog!