Etograma – parte 1

Já falei sobre muitos conceitos no blog, mas ainda não havia abordado um conceito fundamental para o estudo do comportamento animal: o etograma. Basicamente, o etograma é uma descrição formal ou um inventário dos comportamentos que os animais expressam. É uma lista ou catálogo que apresenta comportamentos discretos e claramente definidos, sendo uma ferramenta que nos permite mensurar e quantificar os comportamentos dos animais. E por que quantificar os comportamentos é importante? Porque com isso podemos conhecer melhor a expressão comportamental dos animais e testar hipóteses envolvendo alterações comportamentais frente a diversas situações.

Um exemplo clássico é avaliar alterações comportamentais dos animais quando são expostos a enriquecimento ambiental para ver se o enriquecimento funcionou e se está melhorando a qualidade de vida do animal em questão. Quando comportamentos anormais, tais como estereotipias, são reduzidos, e/ou outros mais ‘naturais’, por exemplo, exploração do ambiente, interação com outros indivíduos e movimentação, são estimulados pelo enriquecimento, esse é um sinal de que ele está funcionando.

O etograma pode envolver uma lista completa dos comportamentos ou pode ser apenas de um ou alguns comportamentos específicos do animal que o pesquisador deseja investigar. É importante que os comportamentos sejam claramente e objetivamente definidos no etograma. Nesse sentido, algo que ajuda é a classificação dos comportamentos em eventos ou estados comportamentais. Os eventos são comportamentos de curta duração, enquanto os estados são aqueles de longa duração. Assim, um estado comportamental pode ser composto por vários eventos diferentes. Por exemplo, se pensarmos num comportamento frequente nos cavalos, como o de rolar no chão, esse pode ser visto como um estado comportamental composto por diversos eventos comportamentais, incluindo: deitar, girar o corpo para a direita, girar o corpo para a esquerda, girar a cauda, levantar… Percebe melhor agora o que é um evento e o que é um estado comportamental?

Na hora de descrever o comportamento no etograma, podemos escrever o evento ou o estado comportamental (dependendo do que estamos avaliando), juntamente com um complemento que complete a descrição. Por exemplo, se uma rapousa dorme sobre um tronco, podemos incluir na descrição o local onde ela está dormindo. Essas descrições devem ser feitas da forma mais objetiva possível, evitando assim possíveis antropomorfismos ou outras subjetividades a que podemos estar facilmente sujeitos… Nesse sentido, no etograma devemos evitar colocar algo relacionado à intenção do animal, como uma descrição do tipo ‘chamar o filhote’, por exemplo. Como sabemos que está chamando o filhote mesmo? Em casos assim, o ideal é colocar algo como ‘vocalização’.

Mas, uma vez que sabemos descrever os comportamentos no etograma, como devemos fazer nossas amostragens? O que exatamente podemos quantificar? Quais cuidados temos que tomar ao observar e registrar o comportamento animal? Essas perguntas serão respondidas na minha próxima postagem sobre etogramas 🙂