Etograma – Parte 2

Agora que já expliquei aqui o que é um etograma, vamos ver alguns detalhes importantes na hora de registrar o comportamento dos animais usando essa ferramenta. O que quantificar ao observar os comportamentos dos animais com o etograma é algo que precisa estar claro. Podemos quantificar quantas vezes o animal expressa o comportamento (frequência), o período de tempo que ele exibe o comportamento (duração), a frequência do comportamento por unidade de tempo, ou seja, a taxa desse comportamento (por exemplo, quantas vezes por minuto ou por hora) e também a intensidade desse comportamento.

Para amostrar isso, é fundamental saber qual técnica utilizar. Para isso, podemos fazer amostragem ad libitum, do animal focal, por escaneamento, ou comportamental. Na amostragem ad libitum, basicamente registramos tudo em termos de comportamento do animal. É um tipo de amostragem que é bom para as observações preliminares de um estudo, ou seja, enquanto nos familiarizamos com o animal e suas expressões comportamentais. A amostragem do animal focal é aquela em que, quando observamos mais de um indivíduo, focamos em um único animal do grupo e registramos apenas os seus comportamentos. Essa técnica é boa quando temos que registrar interações entre os animais, por exemplo. Já na mostragem por escaneamento, de tempo em tempo, registra-se tudo o que acontece em termos de comportamento de todos os indivíduos que estão sendo observados. Na amostragem comportamental, registra-se apenas um ou poucos comportamentos específicos, o que é ideal quando nosso interesse é em apenas um ou alguns comportamentos de baixa frequência, ou seja, que ocorrem só de vem em quando.

E para registrar os comportamentos dos animais com essas técnicas de amostragens descritas acima, é importante levar em conta que podemos registrar os comportamentos continuamente ou em intervalos fixos de tempo, que são duas estratégias diferentes. Além disso, para fazer os registros comportamentais, podemos simplesmente observar os animais e registrar os dados em planilhas com a velha e boa dupla ‘lápis e papel’. Podemos também fazer descrições verbais que são registradas em um gravador, o que é muito útil quando registramos os comportamentos continuamente ou na amostragem ad libitum. Agora, algo que ajuda muito para registrar os comportamentos é filmar os animais. Com as filmagens, podemos deixar para registrar os comportamentos depois, com calma, a partir dos vídeos. Mesmo se registrarmos os comportamentos já enquanto filmamos, posteriormente poderemos checar algum dado nos vídeos, se for necessário. Há também registradores automáticos que podem ajudar na hora de registrar os comportamentos a partir das filmagens dos animais.

Outro ponto importante a ser considerado na hora de registrar os comportamentos com o etograma é saber identificar os animais individualmente quando agrupados. Alguns animais tem características naturais (ex: machas ou listras específicas na pelagem) que já permitem identificá-los. Mas, quando isso não é possível, pode-se também usar algumas técnicas para individualizar os animais, como marcações por raspagens ou com tinta no pelo, por exemplo. O único problema aqui é que temos que tomar cuidado com possíveis interferências dessas alterações que fazemos no corpo do animal sobre os dados comportamentais que estamos coletando. O ideal, nesses casos, é testar previamente se a tinta ou a raspagem interfere no comportamento do animal em relação àqueles sem esses tipos de marcação.

Um último ponto importante que precisamos considerar ao usar o etograma é a questão da possível interferência do observador. O quanto interferimos na expressão comportamental dos animais enquanto observamos seus comportamentos? Para minimizar esse efeito, podemos usar alguns recursos como anteparos visuais, por exemplo, embora isso não signifique que os animais não percebam a presença do observador pela audição, pelo olfato ou ainda através de outros sentidos. Por isso, é importante também manter um distanciamente razoável dos animais e, se possível, fazer um processo de habiatuação com eles antes de observá-los para o estudo. Enquanto fazemos as observações ad libitum para nos familiarizarmos com os animais e seus comportamentos, isso também pode ajudar na familiarização dos próprios animais conosco.