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Imprinting é um tipo de comportamento aprendido, ou seja, tem grande influência dos estímulos ambientais e pouca influência da base genética. Mas é necessário lembrar aqui que a base genética e o ambiente que cerca o animal estão ambos sempre presentes em todos os comportamentos expressados pelos animais. Ou seja, não existe comportamento determinado apenas pela base genética (só “instintivo”), pois sem o estímulo ambiental apropriado o comportamento não é desencadeado, por mais base genética que o animal tenha pra isso. Por outro lado, também não existe comportamento determinado apenas pelo ambiente, pois a base genética é necessária para que determinado comportamento possa se desenvolver, independentemente da força do estímulo ambiental que esteja presente. Assim, o imprinting é um tipo de comportamento que inclui tanto componentes mais inatos (genéticos) como aprendidos (ambientais), assim como todos os comportamentos dos animais, mas sua maior influência vem dos estímulos ambientais.
O imprinting ou “estampagem” em português, é um comportamento distinto de outros tipos de aprendizagem por ter um período de sensibilização, ou seja, uma fase limitada em que o animal desenvolve determinado comportamento. Tal fase pode ser compreendida como uma “janela temporal”, ou seja, um único momento em que certos comportamentos podem ser aprendidos e, uma vez aprendidos, geralmente tornam-se irreversíveis. Esse conceito foi definido por Konrad Lorenz, um dos “pais” da Etologia, como já mostrei para vocês aqui no blog. Lorenz observou que logo ao nascerem, gansinhos estampavam (carimbavam) imediatamente e irreversivelmente o primeiro objeto em movimento que observassem, e assim passavam a seguí-lo. Ele também observou que o estímulo que desencadeava a estampagem poderia ser bem “rústico” mesmo, ou seja, não se parecer em nada com a mãe dos gansinhos. Em um caso específico, ele mesmo foi a primeira imagem em movimento que alguns gansinhos recém-nascidos observaram e assim, passaram a seguí-lo por toda parte. Como normalmente a primeira imagem que os gansinhos tem ao nascerem é da mãe, esse se torna um comportamento muito adaptativo, pois ao seguí-la, os filhotes tornam-se mais protegidos no ambiente que os cerca, pois estarão frequentemente ao lado da mãe.
A janela temporal para o imprinting é comum quando os animais são bem jovens, como descrito acima. Normalmente é uma fase ideal para “dessensibilizar” o animal, ou seja, acostumá-lo a presença de outro animal ou à alguma situação que poderia ser aversiva/estranha ou ainda acostumá-lo a presença do ser humano. Por exemplo, em cavalos é uma boa opção começar o processo de dessenssibilização no potro recém-nascido, ou seja, logo após o seu nascimento, a pessoa pode ir até o potro e acariciá-lo por várias vezes. Isso deve gerar uma boa primeira experiência do animal com o ser humano o que pode, inclusive, torná-lo um animal adulto com boas relações com seres humanos. Além disso, há outras “janelas temporais” que podem se abrir ao longo da vida de um animal em momentos específicos em que tal animal possa estar sensibilizado com algo. Por exemplo, houve um caso famoso divulgado na mídia em que uma fêmea de leopardo, ao atacar e matar uma fêmea adulta de babuíno, adotou o filhote dela que estava agarrado à mãe já morta. A fêmea de leopardo cuidou e protegeu o filhote de babuíno por um bom tempo. É possível que isso tenha ocorrido porque a fêmea de leopardo estava numa fase maternal, ou seja, tinha tido filhotes e estava com o senso de cuidado maternal aflorado. Assim, ela poderia estar em uma “janela temporal” associada à maternidade no momento em que avistou o filhote órfão de babuíno.
Assim, vemos que o imprinting é um comportamento que pode gerar respostas adversas e até mesmo nada esperadas na natureza, mas que em condições naturais geralmente tem um alto valor adaptativo. “Estampar” rapidamente uma condição com apenas uma ou poucas experiências, sem a necessidade de muita repetição ao longo do tempo para fixar o comportamento, pode ser fundamental para salvar a vida do animal em condições perigosas, como os gansinhos que quase instantaneamente seguem sua mãe, sendo assim mais protegidos por ela.