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Limpadores/detritívoros: exemplos de estratégias de alimentação
Assim como tenho feito para exemplificar as estratégias de tomada de alimento de animais herbívoros (aqui), carnívoros (aqui) e onívoros (aqui), hoje adiciono abaixo imagens que claramente ilustram alguns exemplos claros de estratégias de tomada de alimento em animais que são considerados como limpadores ou detritívoros. Esses animais são aqueles que se alimentam dos “restos” que muitas vezes são, inclusive, descartados por outros animais.
Essa estratégia pode ser muito eficiente pois, por exemplo, evita gasto de energia em perseguição ou emboscada e mesmo de confrontação com estratégias anti-predatórias da presa, ao mesmo tempo em que possibilita a ingestão de alimentos nutritivos. Por outro lado, pode requerer um processo de co-evolução que permita, nos casos em que esses animais “limpam” outros (como, por exemplo, nas imagens do caranguejo e do peixe limpador), que haja uma interação harmoniosa e vantajosa para ambas as partes. E claro, podem haver trapaças nesses casos! Veja o exemplo dos peixes limpadores.
Peixes podem apresentar uma alta carga parasitária, o que é prejudicial a esses animais ao longo do tempo. Nessas situações, tais peixes (conhecidos como “clientes”) nadam até locais específicos conhecidos como “estações de limpeza”. Nessas estações existem peixes limpadores e, após uma série de sinalizações complexas de ambas as partes, o serviço de “limpeza” é realizado. Às vezes os peixes limpadores mordem seus clientes e se alimentam de seu muco, mas podem perder seus clientes por isso. Nesses casos impera o balanço entre alimentar-se brevemente de um item preferido (muco) ou alimentar-se por mais tempo de um item menos preferido (parasitas do cliente).
O Urubu-de-cabeça-vermelha se alimenta exclusivamente de carniça fresca. São animais que utilizam mais o sentido visual que o olfativo para encontrar alimento, sendo que passam cerca de 8h/dia voando em busca de carcaças. Esses animais possuem uma adaptação interessante associada a seu hábito alimentar: eles não tem penas na cabeça. Isso facilita a tomada de alimento no interior das carcaças sem que esses animais se sujem muito.
Alguns caranguejos, como esses da imagem, alimentam-se praticamente de tudo, incluindo desde algas expostas pela baixa da maré até animais mortos. Quando esses caranguejos tem a oportunidade eles são capazes de tirar e se alimentar de pele morta e ectoparasitas de iguanas.
O corvo-de-bico-grosso alimenta-se de quase qualquer animal ou vegetal vivo ou morto. É um animal muito hábil em se ajustar às condições de novos ambientes e itens alimentares distintos. Inclusive, em áreas urbanas, esses corvos são vistos depositando nozes no meio de rodovias e esperando que os carros passem sobre elas. Em seguida, esses corvos se alimentam das nozes quebradas. Esse é um bom exemplo do uso de ferramentas por animais.
O demônio da Tasmânia é um mamífero predador e, ao mesmo tempo, limpador. Ele tem bigodes muito sensíveis e uma ótima habilidade olfativa associada. Assim, é um animal capaz de encontrar carniças facilmente, mesmo na escuridão. São solitários e defendem suas carcaças expressando comportamentos agressivos, incluindo sons ameaçadores..