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Este texto é para lembrar que, quando tratamos de questões relacionadas ao bem-estar animal, por mais que seja importante avaliar cada situação com calma visando tomar as melhores decisões para a qualidade de vida do animal, nem sempre isso é possível. É claro que, em situações ideais e nas quais temos tempo para agir, é sim relevante tentar melhorar todos os aspectos possíveis que envolvem o bem-estar animal. Afinal, o bem-estar é um conceito complexo que, como eu digo muitas vezes por aqui, envolve inúmeras facetas. E quando falo em todos os aspectos possíveis, falo em saúde, expressão comportamental, aspectos psicológicos e emocionais, relação com as pessoas envolvidas, entre outros…
Mas veja que, muitas vezes, podemos nos deparar com situações muito complicadas em que provavelmente teremos que fazer o melhor possível dentro das possibilidades existentes e do tempo viável. De nada adianta defendermos fortemente tudo que precisa ser melhorado ou modificado num determinado ambiente se sabemos que, na prática, não teremos autorização, ou não teremos tempo ou mesmo não poderemos aplicar isso por outras razões, que podem até ser financeiras. Nesses casos, teremos que fazer o que for melhor numa situação ruim…
Imagine, por exemplo, uma condição em que temos um zoológico mantido pela prefeitura local. Não deve haver muito dinheiro para investir nesse zoológico, certo? Assim, na hora de melhorar a qualidade de vida dos animais que lá estão, não adianta imaginar os recintos “perfeitos”, as características “perfeitas” que precisam ser adicionadas nos ambientes, ou mesmo os espaços “perfeitos” que são necessários nos recintos. Teremos que agir com criatividade e com pouco dinheiro para fazer o que for melhor nessa situação. Aqui vale lembrar que alguns ótimos enriquecimentos ambientais podem ser preparados com materiais muito simples e em conta e, ao mesmo tempo, serem muito eficazes.
Outro exemplo que pode ser facilmente imaginado é uma situação em que encontramos um animal silvestre vivendo ilegalmente há muitos anos com uma família que, embora tenha adquirido o animal de forma ilegal, cuida bem dele. Nessas condições, dificilmente um animal como esse poderá voltar para a natureza, pois estará muito ‘imprintado’ com os comportamentos e as condições humanas (para quem não sabe ou não se lembra o que é imprinting, veja aqui). Se essa condição é denunciada, qual seria o melhor encaminhamento para esse animal? É claro que numa condição ideal ele deveria estar vivendo na natureza, mas não temos mais essa opção… Se a família o trata bem, o quanto o bem-estar desse animal será afetado ao ser retirado desse ambiente? Será que o local para onde será enviado realmente proporcionará melhores condições de vida e bem-estar? É uma situação muito difícil e é claro que a família deve ser punida legalmente de alguma forma, mas o que fazer e como proceder com o animal em questão?
Existem casos de “vida ou morte” (às vezes até literalmente!) em que precisamos decidir o que é melhor para o animal em tempos curtos e dentro das possibilidades viáveis. Nesses momentos, é importante considerar sempre o que é melhor para o animal e também para as pessoas envolvidas, levando em conta suas participações respectivas naquela condição. Nunca podemos nos desvincular desse contexto. Pense sobre isso…