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Quando pensamos em bem-estar animal, não é infrequente que animais invertebrados tais como moluscos, crustáceos, insetos, etc não sejam logo lembrados… Se nem sequer os peixes costumam ser facilmente lembrados quando tratamos de questões relacionadas ao comportamento e bem-estar animal, quem dirá os animais invertebrados! Mesmo os invertebrados incluindo espécies com elevadas capacidades cognitivas e com a expressão de comportamentos bem complexos, é mais difícil que as pessoas pensem neles quando a questão envolvida é o bem-estar animal… É claro que tanto a elevada capacidade cognitiva quanto a expressão de comportamentos complexos não necessariamente fundamentam a ocorrência de senciência no animais, mas lembre-se que, uma vez que a senciência não possa ser provada ou “desprovada” nos animais, por uma questão de ética, os animais sempre merecem o benefício da dúvida. O mesmo vale se os animais forem invertebrados…
Nesse contexto, é muito importante lembrar que nós interagimos com e utilizamos em nossa alimentação diversas espécies de animais invertebrados. Criamos abelhas para a produção de mel. Nós nos alimentamos de camarão, sendo que eles podem ser criados em ambiente cativo num sistema de produção. Nós nos alimentamos de ostras, lulas, polvos, siris, caranguejos, lagostas, etc, todos invertebrados. Também cultivamos ostras em cativeiro em sistemas de produção de pérolas, que são exploradas comercialmente. E nossa interação com esses animais não pára por aí… Assim, fica evidente a necessidade de levarmos em conta as condições de bem-estar nas quais esses animais são mantidos, ou ainda na forma direta como interagimos com eles no processo de produção ou de extração da natureza. Mesmo porque o extrativismo neste caso, ou seja, a coleta de animais ou produtos de origem animal da natureza, impacta não apenas nos animais em si, mas também em todo o ambiente em que ocorrem e nas relações ecológicas em que estão envolvidos. Por isso, questões relacionadas ao extrativismo devem ser muito bem pensadas e, ao menos em alguns casos, totalmente banidas da forma como são feitas considerando o tamanho do impacto que geram.
Devemos ainda considerar que há diversas evidências científicas apontando para a clara capacidade de vários desses animais de perceberem estímulos nocivos, ou seja, a dor, de forma consciente. Aqui vale lembrar que mesmo que a percepção consciente de animais invertebrados seja mais rudimentar, o que é inclusive esperado do ponto de vista evolutivo, ainda assim é consciente. E se há consciência, não importando o nível, há a capacidade de perceber e sentir algo ruim… E, se essa capacidade existe, ou pelo menos se existe a possibilidade de que essa capacidade exista nesses animais, temos a obrigação de considerá-la e, portanto, pensar em questões de bem-estar também para os invertebrados. Por isso, é fundamental pensar e repensar na forma como lidamos com esses animais… Assim, considerando as práticas que envolvem manejo, criação, extração ou até mesmo o sacrifício desses animais atualmente, convido você a refletir sobre tais práticas. Como podemos melhorá-las? O que podemos evitar? Como podemos oferecer melhores condições para esses animais considerando o contexto envolvido? Esta pode parecer uma reflexão mais complexa e profunda, mas não deixa de ser essencial para as questões de bem-estar animal…