O que é melhor: testar a preferência ou a motivação do animal pelo recurso?

Já abordamos diversas vezes aqui no Blog a importância da avaliação das respostas de preferência e motivação dos animais por diferentes recursos ambientais para melhorar suas condições de bem-estar ao oferecer itens preferidos e para os quais demonstram motivação para acessar. Essa é uma faceta importante das considerações de bem-estar. Entretanto, considerando a ideia que visa incluir no ambiente aquilo que o animal quer para melhorar sua qualidade de vida, será que é melhor usar as respostas de preferência ou aquelas de motivação para determinar o que realmente o animal quer? Na verdade, a mensagem que quero passar a você hoje é que tais abordagens (respostas de preferência e de motivação dos animais pelos recursos) não devem ser concorrentes; muito pelo contrário, devem ser complementares…

Desde que Marian Dawkins nos propôs (2006, 2008 – artigos citados aqui no Blog) voltar nossa atenção mais para o que os animais querem do que para indicadores fisiológicos e comportamentais de bem-estar, a avaliação das respostas de preferência dos animais tem ganhado espaço. A proposta de Duncan (2006 – que também será citado em breve aqui no Blog), por outro lado, coloca que mais do que determinar o que o animal prefere, é importante determinar também o quanto o animal prefere determinado item/recurso do ambiente. Então, veja que essas abordagens não devem competir entre si, na verdade elas são naturalmente complementares. Determinar o que o animal quer que tenha no seu ambiente inclui a ideia de determinar o que ele prefere e, dentre suas preferências, quais são as que mais e as que menos prefere. É intuitivo pensar que as preferidas são melhores do que as não preferidas e que as mais preferidas são ainda melhores do que as menos preferidas em termos de bem-estar animal. Tudo isso nos guia a melhor entender e avaliar o que, de fato, o animal quer.

Entretanto, quando analisamos diversos estudos na literatura que abordam respostas de preferência e de motivação dos animais, em geral o que vemos são estudos enquadrados em duas linhas distintas, uma focada nas preferências e não preferências dos animais e outra focada na motivação dos animais pelos recursos/itens do ambiente. Ainda são raros os trabalhos, até onde sei, que abordam ambos os tipos de resposta dos animais pelos recursos/itens do ambiente.

No trabalho que publiquei em 2016 em co-autoria com Gilson Volpato (também citado aqui no Blog) nós propomos um índice de Preferência, através do qual podemos claramente determinar em nível individual as respostas de preferência e não-preferênca pelos itens ambientais, bem como as intensidades dessas respostas (ou seja, itens mais preferidos e menos preferidos ou itens mais evitados e menos evitados pelos animais). Validamos esse índice em outros estudos (também citados aqui no Blog) em que justamente comparamos as respostas de preferência e não preferência dos animais com suas respostas de motivação pelos mesmos recursos. Assim, buscamos determinar e propor uma abordagem mais completa na busca pelo que de fato os animais querem através do Índice de Preferência. Assim, nosso índice parece ser uma ferramenta útil e promissora para determinar o que os animais querem, considerando tanto a preferência em si quanto a intensidade de sua resposta.