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Considerando o contexto da evolução dos conceitos de bem-estar animal, como eu já discuti aqui no blog, uma abordagem que tem ganhado espaço após a proposta da Dra. Marian Dawkins de olharmos mais para as vontades e desejos dos animais, é a aplicação dos testes de motivação. Tal abordagem partiu da ideia, proposta pelo Dr. Duncan, de que devemos determinar não apenas as preferências dos animais pelos recursos e características do ambiente, mas também o quanto tais recursos são importantes para os animais. Os testes de motivação geralmente determinam o quanto os animais se esforçam fisicamente para acessar diferentes recursos. Normalmente, em tais testes, os animais são expostos em situações nas quais eles devem empurrar portas acrescidas de pesos extras ou repetir comportamentos pré-condicionados ou mesmo mais naturais numa dada frequência para acessar os recursos. Mas o que realmente é motivação? Como nós podemos defini-la?
De acordo com o dicionário de Comportamento Animal do Dr. McFarland, motivação é um aspecto reversível do estado do animal que desempenha um papel causal no comportamento do animal. Segundo McFarland, mudanças no comportamento em um ambiente imutável deve ser devido a processos irreversíveis tais como alguns tipos de aprendizagem, maturação ou injúria ou mesmo por processos motivacionais reversíveis. O estado motivacional do animal muda continuamente como um resultado tanto de mudanças externas quanto internas. As mudanças externas podem ser exógenas, causadas por mudanças no mundo externo que são percebidas pelo animal, ou internas e decorrentes do comportamento do próprio animal. Em ambos os casos, o estado motivacional do animal é modificado como um resultado do estímulo interferindo nos sistemas sensoriais do animal.
Ainda com base na definição proposta pelo dicionário, as mudanças internas resultam tanto de forças ambientais quanto do próprio comportamento do animal. Assim, mudanças externas de temperatura, por exemplo, devem afetar o estado motivacional do animal de uma maneira puramente física, ou eles devem ser detectados pelo animal e causarem uma mudança no comportamento que, por si só, causam uma mudança no estado motivacional. Todo comportamento tem algum efeito no estado motivacional, mesmo porque todos os comportamentos resultam em gasto de energia, o que deve mudar a condição do animal. Dessa forma, o estado motivacional de um animal é constituído por todos aqueles fatores externos e internos que tem um efeito causal no seu comportamento. Estes incluem fatores relevantes à atividades incipientes, tão bem como o comportamento atual do animal.
Assim, a partir da definição proposta pelo dicionário de Comportamento Animal, vemos que a motivação dos animais é um resultado da condição na qual o animal se encontra, tanto considerando fatores internos quanto externos. Dessa forma, pensar que a motivação dos animais deve fazer parte de suas condições de bem-estar, pois deve refletir as condições do animal, faz muito sentido. Ou seja, uma das formas de buscar melhores condições de bem-estar dos animais pode ser detectar suas motivações internas para acessar diferentes recursos, exatamente como proposto pelo Dr. Duncan. Pois assim podemos disponibilizar os recursos pelos quais ele forem mais motivados para acessar como forma de enriquecer o ambiente cativo no qual se encontram.