O que é Preferência?

Com base na proposta da doutora Marian Dawkins de que devemos nos voltar mais para as vontades e desejos dos animais, testes de preferência tem sido intensamente utilizados na literatura visando detectar itens preferidos dos animais que, portanto, devem melhorar suas condições de bem-estar, como já mencionei aqui. Assim, tais testes tem sido utilizados como uma abordagem para fornecer aos animais condições mais prazerosas através de seu próprio ponto de vista. Como eu também já mencionei aqui no blog, testes de preferência podem apenas parear duas opções de escolha ou fornecer múltiplas opções, simultaneamente ou sequencialmente, sendo que testes de múltipla escolha devem ser mais confiáveis pois fornecem mais opções para os animais.

Entretanto, há várias questões envolvendo os testes de preferência. Por exemplo, a mais fundamental de todas: como definir preferência? O que seria uma preferência? Muitos dos testes nessa área tem considerado que as escolhas realizadas pelos animais em um único teste ou durante poucos testes devem representam suas preferências. Mas se pensarmos em preferências como sendo respostas mais consistentes ao longo do tempo,  será que escolhas momentâneas necessariamente representam respostas de preferência? Ao olharmos no dicionário de Comportamento Animal do doutor David McFarland, encontraremos apenas a definição de escolha (ele não define preferência), como está traduzido abaixo:

“Escolha é uma situação na qual o animal pode fazer uma discriminação simultânea entre alternativas. Normalmente, um animal escolherá a alternativa que traga o melhor ganho a curto prazo. Algumas vezes, entretanto, os animais escolhem alternativas inferiores. Tal fato é interpretado como uma estratégia que resulta em um ganho a longo prazo”.

Será que o fato dos animais escolherem “alternativas inferiores” em alguns momentos não seria uma questão de diferenças de motivação em relação às opções disponíveis dependendo do contexto ou do momento? Ou ainda, será que escolher alternativas consideradas, pelos nossos olhos, como “inferiores” não poderiam representar variação individual? De fato, vários pesquisadores tem demonstrado a ocorrência de variabilidade individual significativa em respostas de preferência, que normalmente são ignoradas na maioria dos estudos. Uma vez que o principal foco da aplicação de tais testes é determinar as vontades dos animais, faz sentido que a variação individual de resposta, quando significativa, seja levada em consideração visando melhorar as condições de bem-estar dos animais cativos. 

Assim, se considerarmos que deve haver diferença de motivação dos animais por diferentes itens em diferentes momentos ou situações, é lógico pensar que escolha momentânea não necessariamente represente respostas de preferência a longo prazo. Além disso, como a variabilidade individual de resposta pode ser bem significativa, as preferências devem então variar entre os indivíduos. Nesse sentido, uma única ou poucas respostas de escolha não podem ser consideradas como preferência a longo prazo, mas o histórico das escolhas realizadas pelo animal ao longo do tempo podem melhor representar suas preferências. Assim, podemos definir preferência como sendo uma resposta de escolha que é consistente ao longo do tempo e que pode variar consideravelmente entre os indivíduos, algo que deve ser levado em consideração nos estudos que buscam determinar as vontades e desejos dos animais.