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Quando falamos em bem-estar animal, é comum já imaginarmos a partir de nossa própria visão e com base no que estamos observando num animal específico, qual deve ser a condição de bem-estar desse animal… Se vemos que ele está fisicamente saudável, expressando comportamentos tidos como naturais e esperados para aquela espécie naquelas condições e que aparentemente tal animal não se encontra sob algum tipo de estresse ruim ou outra forma de sofrimento psicológico, é fácil inferirmos que ele deve estar em boas condições de bem-estar. Mas veja que tudo isso vem de nosso olhar externo sob as condições desse animal… É claro que nosso próprio viés interpretativo estará sempre rondando situações como essa, afinal somos nós que inferimos a condição do animal e, para isso, nossa própria visão, considerando nossos conhecimentos e nossa forma de observar e lidar com situações como essa, automaticamente interfere no processo. Veja que por mais que sejamos objetivos, consideremos as mais diversas facetas que constituem o bem-estar animal e evitemos possíveis influências de nossos pré-conceitos, ainda será uma visão nossa sobre a situação do animal.
É aí que entra a importância de buscar focar também não apenas nisso tudo que foi mencionado acima, que claramente também é importante, mas também na própria visão dos animais sobre as condições em que estão envolvidos. Para isso, tentar enxergar através dos próprios olhos dos animais, como nos propõe Marian Dawkins em artigo já indicado no Blog, é fundamental para tentar melhorar suas condições de bem-estar. Imagine uma condição em que, de fato, o animal está saudável, expressando comportamentos esperados de acordo com a espécie e a situação e aparentemente não está sob sofrimento psicológico. Será que ele gostaria de ter algo mais em seu ambiente para se sentir melhor? O que será que pode estar faltando para melhorar suas condições de vida? Como podemos identificar isso? Nesse sentido, fica clara a importância dos testes de preferência e motivação já tão mencionados no Blog anteriormente.
Embora eu já tenha abordado tais testes, é bom lembrar a raiz da significância deles para questões de bem-estar animal. Eles são uma ótima ferramenta que nos permite tentar identificar o que é importante ter no ambiente para o animal pelos seus próprios olhos. É claro que, conforme também já enfatizado anteriormente no Blog, nem testes de preferência e nem testes de motivação são infalíveis, mas nos permitem ter uma ideia melhor sobre o que os animais escolhem livremente para terem no seu ambiente (testes de preferência) e o quanto estão dispostos a lutar por isso (testes de motivação). Lembre-se que, como também já mencionado por aqui no Blog, não apenas ausência de sofrimento é importante para as considerações sobre bem-estar animal a nível psicológico, mas também a presença de condições que oferecem algum prazer aos animais. E o que seria melhor para oferecer algum grau de prazer do que algo que o animal preferiu livremente e consistentemente e que batalhou para ter acesso? A resposta está claramente implícita…