Os desafios de uma medicina veterinária mais integrativa e preventiva

Este comentário é de Nuno Emanuel Oliveira Figueiredo Silva, que é médico veterinário pela Universidade de Lisboa, além de mestre em Biotecnologia Animal e doutor em Anestesiologia, ambos pela Unesp, campus de Botucatu (SP). Ele também tem formações em Medicina Integrativa, com foco em melhorar a qualidade de vida do animal como um todo. Nuno é médico veterinário voluntário do ambulatório de acupuntura e dor Crônica da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp, campus de Botucatu (SP).

O conceito de Medicina Integrativa é abrangente e faz parte da transição do paradigma materialista da ciência para uma medicina mais humana e espiritualizada da parte dos profissionais de saúde para com os pacientes. No caso dos médicos veterinários, a relação é tripla, pois envolve sua relação tanto com o tutor quanto com seu animal. Nessa relação, uma boa comunicação e empatia são fundamentais em vários níveis. Tanto em Portugal como no Brasil, posso dizer que basicamente não recebemos formação nessa área, sendo que a prática clínica diária nos coloca frente a vários desafios.

Por exemplo, como falar com o tutor sobre a presença de uma doença grave em seu animal? E quando a eutanásia é uma possibilidade real? Como dar a notícia da morte do animal e também preparar o tutor para o luto? O bom senso aconselha a não usar “receita de bolo” para todos os casos… Além disso, uma relação de confiança com o tutor passa também pela humildade em reconhecer as nossas limitações profissionais como veterinários e como seres humanos, sendo fundamental ter a honestidade para, por exemplo, indicar um colega que possa melhor diagnosticar e tratar um caso específico.

É importante lembrar que estamos numa época de muitas síndromes psicológicas que afetam os tutores e que, paralelamente, acabam refletindo em doenças comportamentais ou mesmo físicas em seus animais. É necessário investir para implementar cada vez mais uma medicina preventiva, tanto para o corpo quanto para a mente, dos três agentes envolvidos nesta equação: veterinário, tutor e animal. Em nível internacional, mesmo os veterinários são dos profissionais com as maiores taxas de depressão, esgotamento e também suicídio. Há várias causas para esta situação alarmante, incluindo o desgaste da relação com os tutores e a incapacidade para lidar com os “insucessos” dos tratamentos que aplicam.

Tal como os médicos da saúde humana, os veterinários foram moldados pelo sistema para curar doenças, gerando uma sensação de impotência e frustração quando isso não acontece na prática. É claro que os veterinários não devem ser indiferentes ao sofrimento dos pacientes e dos respectivos tutores, mas não podem, por outro lado, levar os problemas de seus casos clínicos para casa. Nós, os veterinários, somos agentes da cura, mas a cura ou a melhora substancial do animal passa também pelos cuidados e pela postura do tutor em várias doenças, bem como pela evolução natural do paciente. Nesse sentido, uma reflexão atribuída a Hipócrates é cada vez mais atual e pertinente: “Curar algumas vezes, aliviar o sofrimento sempre que possível, confortar sempre.”