Padrão Fixo de Ação

Recentemente aqui no blog, falei sobre o comportamento conhecido como imprinting, que é um tipo de comportamento aprendido. Também já expliquei aqui para vocês as diferenças entre comportamentos mais inatos (genéticos) e aqueles mais aprendidos. Hoje vou falar sobre um comportamento mais inato, ou seja, que tem pouca influência ambiental e forte base genética, o Padrão Fixo de Ação.

Tal comportamento se expressa como uma sequência de comportamentos que não requerem nenhuma aprendizagem, ou seja, as expressões comportamentais envolvidas no padrão fixo de ação são naturalmente desempenhadas pelo animal em situações específicas. Mas que situações seriam essas? Aquelas nas quais o estímulo ambiental apropriado é disparado no ambiente. Ou seja, a influência ambiental neste caso praticamente se resume ao aparecimento de um estímulo sensorial adequado que desencadeia toda a expressão comportamental subsequente do padrão fixo de ação. Tal estímulo é conhecido como estímulo sinal, já que corresponde a um “sinal” que dispara uma sequência comportamental específica  que, a não ser pelo próprio estímulo sinal, é praticamente independente do ambiente.

O padrão fixo de ação tem duas características importantes que precisamos saber. Primeiro: ele é composto por uma sequência de comportamentos estereotipados, ou seja, comportamentos repetitivos. Lembrando aqui que comportamento estereotipado é diferente de estereotipia, sendo que esta última é considerada como um comportamento anormal e, em geral, indicativa de que o animal não está bem (como também já vimos aqui no blog). Segundo: uma vez que o padrão fixo de ação é deflagrado pelo estímulo sinal, os comportamentos envolvidos são expressados até que o padrão se complete, independentemente do que ocorrer no ambiente. Agora vocês devem estar pensando: “Como assim independentemente do que ocorrer no ambiente?”. Para entenderem melhor essa colocação, vou dar o exemplo mais clássico, que é a expressão comportamental que caracterizou o padrão fixo de ação. 

Por volta de 1938, Lorenz e Tinbergen (dois dos “pais” da Etologia, como falei aqui para vocês) examinaram o comportamento dos gansos de rolar de volta para o ninho aqueles ovos que tivessem, por alguma razão, sido deslocados para fora. Eles observaram que mesmo se o ovo fosse retirado no meio do processo de rolamento em direção ao ninho, ainda assim a gansa continuava o movimento até chegar ao ninho. Ou seja, uma vez que o comportamento de rolar o ovo era iniciado, ele era completado até o fim, e sempre de uma maneira específica (padrão). 

Um outro ponto interessante e característico do padrão fixo de ação é que o estímulo sinal que desencadeia a resposta comportamental pode ser bem “rústico” ou seja, nada muito específico ou detalhado. Por exemplo, existe uma espécie de peixe conhecida como “esgana-gato”(ou three-spined stickleback em inglês) em que os machos defendem territórios contra outros machos invasores em épocas de reprodução. Nessa espécie, quando o macho está mais maduro e apto a reproduzir, seu ventre fica com uma coloração característica bem avermelhada. Tal coloração avermelhada na região ventral de um macho invasor funciona como um estímulo sinal que desencadeia a resposta agressiva do macho dono do território. Apenas a coloração avermelhada na região ventral é suficiente para disparar a agressão do outro macho, mesmo que tal coloração esteja na “região ventral” de objetos inanimados nada semelhantes em forma e estrutura com um esgana-gato real…

Assim, o importante aqui é compreender que o padrão fixo de ação é um comportamento com forte base genética e que precisa apenas de um estímulo sinal apropriado para ser desencadeado, sendo que é composto por sequências estereotipadas que uma vez iniciadas não podem ser interrompidas até serem completadas. E não se esqueçam que o estímulo sinal pode ser algo tão simples quanto a presença de uma determinada cor no ventre!