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Quando pensamos em questões relacionadas ao bem-estar animal, especialmente quando focamos em aspectos emocionais, é fácil percebermos a importância de eliminar o sofrimento da vida do animal visando melhorar suas condições. Isso ocorre provavelmente porque é fácil imaginar que para estar bem é preciso, antes de mais nada, estar livre de sofrimento. Entretanto, será que essa visão não é um pouco simples demais quando pensamos nas diversas facetas que envolvem o bem-estar animal? Será que a ausência de condições que propiciem algum tipo de prazer aos animais, mesmo que estejam livres de qualquer tipo de sofrimento, também não é prejudicial para a qualidade de vida dos animais? Será que dependendo da situação e do contexto, o prazer em si não pode ser até mesmo mais relevante do que a ausência de sofrimento? Algo que evoque bastante prazer não pode ser mais significativo para o animal do que algum pequeno sofrimento momentâneo?
Mesmo quando analisamos as famosas “5 liberdades“, podemos perceber que elas se resumem a ausência de sofrimento de alguma forma. A primeira liberdade é a de estar livre de fome e sede, a segunda é a de estar livre de dor, doença ou injúria, a terceira é de ter liberdade para expressar os comportamentos naturais da espécie (ou seja, estar livre de ambientes que não permitam isso) e a quinta liberdade se refere a estar livre de medo e de estresse. Assim, vemos que as cinco liberdades, embora sejam um marco muito importante para o bem-estar animal e representem pontos importantes para assegurar condições mínimas de qualidade de vida para os animais, elas são mais restritas a ausência de sofrimento. Mesmo quando pensamos na abordagem mais ampla e atual que considera 5 domínios a partir das 5 liberdades, ainda vemos que o foco é evitar sofrimento em qualquer esfera possível, seja física, nutricional, comportamental ou emocional. Nesse cenário, é evidente que nem as 5 liberdades e nem mesmo os 5 domínios abrangem todos os aspectos do bem-estar animal, embora sejam pontos de partida muito importantes para lidar com essas questões. A questão do prazer ainda está de fora…
E como podemos fornecer prazer aos animais? Aqui novamente entra a questão das respostas de preferência e motivação dos animais por diferentes itens e recursos do ambiente. Já vimos aqui e aqui neste blog sobre essas respostas… mas basicamente, vale lembrar que se referem a determinar aquilo que o animal deseja ter e o quanto deseja ter. Assim, se oferecermos condições preferidas e também que os animais estejam altamente motivados para acessar, é fácil imaginar que estaremos oferecendo algo que lhes dê algum prazer. Por isso, os testes de preferência e motivação (aqui e aqui) são tão importantes quando pensamos em questões de bem-estar animal… Pense sobre isso.