Nesta última postagem do ano, gostaria de deixar aqui uma mensagem simples para aqueles que acompanham minhas postagens no Blog e, portanto, certamente se interessam por questões relacionadas ao comportamento e bem-estar animal. A palavra da vez é reflexão. Em minhas últimas postagens aqui e aqui no Blog, expressei alguns pontos de vista que tenho sobre a questão dos extremismos e da necessidade de autocrítica quando pensamos e abordamos questões de bem-estar animal. Agora eu gostaria de apresentar um breve fechamento para tais colocações para encerrar minhas postagens do ano de 2018.
Quando abordei o problema dos extremismos e, logo depois, a importância de realizarmos uma profunda autocrítica ao lidarmos com o bem-estar animal, meu foco foi deixar clara a importância de sempre buscarmos refletir sobre as coisas. Ou seja, enfatizar a relevância de procurar sempre contextualizar cada situação específica em que o animal está envolvido antes de julgar e, principalmente, antes de tomar decisões. É claro que os extremismos tem sua importância e função na área do bem-estar animal. Sem nenhum extremismo é provável que muita coisa ainda estivesse sendo simplesmente ignorada pelas pessoas no que se refere ao bem-estar animal… A meu ver, às vezes é necessário um pouco de extremismo para fazer as coisas se moverem e, de fato, abandonarem o outro extremo em que se encontram…Mas, por outro lado, sair de um extremo e caminhar para outro pode ser um problema tão ruim quanto… E é aqui que entra a história de pessoas super bem intencionadas, ou seja, que desejam, de fato, mudar as coisas para melhorar o bem-estar dos animais, mas que fazem isso de maneira equivocada ou descontextualizada… E é aí que mora o perigo…
É por isso que a palavra final deste ano que eu gostaria de deixar para vocês é reflexão. Quanto mais estudamos, especialmente na área de bem-estar animal, que é ainda tão recente (veja aqui sobre o início da Ciência do bem-estar animal), mais percebemos que ainda há muito por descobrir nessa área… Além disso, lembre-se sempre que Ciência, independentemente da área, é provisória. Conhecimento científico é provisório. Ou seja, as coisas podem mudar. Aquilo que hoje julgamos como algo bom que deve melhorar o bem-estar dos animais futuramente pode não ser tão bom assim… Ou ainda ao contrário…ou seja, algo que hoje julgamos como ruim e que deve estar prejudicando o bem-estar dos animais pode na realidade não ser exatamente da forma como imaginamos inicialmente…
Assim, é importante estudar, ler artigos científicos, procurar se atualizar e ver o que o mundo está discutindo sobre o bem-estar animal, principalmente na Ciência. E, nas leituras, procure ser crítico. Procure parar para pensar sobre o que leu. Procure trazer para a prática o que leu na teoria e para a teoria o que observou na prática. Evite se apegar fixamente a teorias específicas. É claro que normalmente temos mais afinidades com algumas linhas e menos com outras, inclusive em bem-estar animal, mas isso não deve nos impedir de enxergar o que há de bom nas linhas que temos menos afinidade. Foque em ter um pensamento crítico, e não pré-determinado por possíveis preconceitos que já tenha em mente. Tudo isso nos ajuda a melhor contextualizar e enxergar questões de comportamento e/ou bem-estar animal e assim, certamente nos ajuda a tomar melhores decisões nessas áreas.
Para encerrar, gostaria de deixar aqui uma frase da renomada cientista Dra. Marian Dawkins (traduzida do inglês) que particularmente gosto muito e que reflete, ao menos em parte, a importância de contextualizar, refletir e buscar entender melhor o ponto de vista dos próprios animais para melhorar suas condições de bem-estar:
“Existe o perigo de que pessoas bem intencionadas definam o bem-estar animal em termos do que eles pensam que os animais querem ou o que os agrada. Mas se nós levamos a sério a senciência animal, devemos assegurar que a voz do animal seja ouvida”
Dawkins, 2008