Quando pensamos no bem-estar animal, é fácil imaginar a relação direta desse conceito com a ideia de qualidade de vida. Entretanto, por mais incrível que isso pareça, a qualidade de vida é uma expressão que entrou para as considerações mais formais na ciência do bem-estar animal a partir de 2010, ou seja, apenas mais recentemente.
Para entender o significado da qualidade de vida, ou do inglês – quality of life, nas questões sobre o bem-estar animal, é fundamental entender um outro conceito muito importante, que é a ‘vida que vale a pena ser vivida’ (life worth living em inglês). Quando avaliamos toda a vida de um animal e pesamos as coisas boas que aconteceram de um lado e as coisas ruins que aconteceram do outro, estamos determinando se as boas foram superiores às ruins. Nesse sentido, estaremos fazendo uma avaliação da qualidade de vida do animal e consideraremos que ele, de fato, teve uma vida que valeu a pena ser vivida caso julguemos que as coisas que foram boas em sua vida superaram consideravelmente as ruins.
Esse balanço entre coisas boas e ruins ao longo de toda a vida é que chamamos de qualidade de vida do animal, um conceito que se relaciona de forma muito próxima com a proposta dos novos 5 domínios de avaliação do bem-estar animal que já foi comentada aqui no blog. Essa proposta destaca a importância de não apenas considerarmos o que é ruim para o animal em termos de saúde, nutrição, ambiente, comportamento e estado mental, mas também de levarmos em conta as coisas boas que acontecem em cada um desses 5 domínios.
Por exemplo, quando pensamos no próprio estado mental dos animais, é claro que eliminar ou ao menos reduzir sofrimento é muito importante para melhorar o bem-estar, mas não é suficiente para assegurar que a qualidade de vida seja boa. Um animal também precisa de estímulos positivos que lhe causem prazer para que esteja bem. E isso vale para todos os outros domínios.
E é por isso que pensar em qualidade de vida, com sua definição científica em termos de bem-estar animal, é tão importante. É ela que nos lembra que não basta eliminar sofrimento e coisas ruins da vida do animal, mas gerar estímulos positivos é tão importante quanto. Afinal, se apenas tirarmos tudo que é ruim sem oferecer coisas boas, ou seja, sem disponibilizar estímulos positivos para o animal, não estaremos assegurando uma boa qualidade de vida.
Por último, vale lembrar que pensar na qualidade de vida como sendo um balanço entre coisas boas e ruins ao longo da vida também é importante em situações nas quais nem é possível eliminar ou evitar algum tipo de sofrimento. Nesses casos, se mesmo com a presença de algum tipo de desconforto o animal for positivamente estimulado, ou seja, se tiver ao seu alcance coisas que lhe dão prazer, ele poderá estar até em melhores condições do que um animal que não tem nada ruim em sua vida, mas que também não tem nada de bom…ou seja, que simplesmente não tem NADA… Pense sobre isso!