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Postei aqui no Blog há algumas semanas especificamente sobre o conceito de “resiliência” em comportamento animal. Hoje gostaria de enfatizar aqui, em um breve comentário, o meu ponto de vista sobre a relação entre esse conceito e a questão da motivação dos animais para desempenhar certas atividades comportamentais ou atingir certos recursos.
Já expliquei aqui no Blog anteriormente a definição do termo “motivação” para as áreas de comportamento e bem-estar animal. Inclusive, enfatizei há um bom tempo aqui e aqui no blog, que a resposta de motivação dos animais para atingir determinados recursos ou características do ambiente tem sido utilizada como uma abordagem na área de bem-estar animal. Agora, com o conceito de resiliência em mente, fica ainda mais fácil compreendermos o uso de testes de motivação na abordagem do bem-estar animal. Se uma determinada atividade comportamental, por exemplo, forragear e conseguir assim alimento, é extremamente resiliente, ou seja, se a demanda permanece praticamente a mesma independentemente das condições e, principalmente, restrições do ambiente, o animal será altamente motivado para desempenhar tal atividade. Como o alimento em quantidade suficiente é extremamente essencial para a sobrevivência do animal a curto prazo, é fácil imaginarmos aqui que, portanto, buscar e encontrar alimento nutritivo (inclusive preferido pelo animal) deve ser uma atividade altamente resiliente. Dessa forma, por consequência, o animal normalmente está altamente motivado para acessar alimento, especialmente se for alimento preferido por ele.
É por isso que o alimento, na grande maioria das vezes, é utilizado como um recurso “referencial”, ou seja, aquele cujas respostas de motivação dos animais serão usadas para comparação com suas respostas de motivação por outros recursos. Quanto mais as respostas de motivação dos animais por outros recursos se aproximarem da motivação deles para acessarem alimento preferido quando em condições que necessitem exercer algum tipo de esforço para isso, mais tal resposta deve ser resiliente e, portanto, fundamental para o animal. Por isso que os testes de motivação com os animais podem nos contar o que exatamente dentre os recusos disponíveis no ambiente em comparação com alimentos nutritivos e provavelmente preferidos são mais importantes para manter boas condições de bem-estar para os animais. Mas é claro que é sempre bom ter em mente que utilizar um alimento preferido pelo animal como referencial para comparação entre respostas de motivação por diferentes recursos tem suas limitações. Afinal, acessar o alimento deixa de ser algo tão importante para o animal a partir do momento em que ele pode ser encontrado facilmente e em abundância ou mesmo em excesso pelo animal no ambiente. Além disso, diferentes pistas que indiquem ou, por outro lado, bloqueiem a percepção do animal pelo alimento podem interferir em suas respostas de motivação.
Para concluir, a mensagem que gostaria de deixar é que resiliência e motivação são respostas interligadas, pois se um animal tem alta motivação para desempenhar determinado comportamento (ex: esforçar-se de alguma forma para atingir algum recurso), isso deve significar que tal atividade comportamental é altamente resiliente, ou seja, varia pouco em função das restrições que o ambiente possa impor.