Seleção de habitat – parte 3

No final de minha última postagem aqui no blog, eu mencionei que a seleção de habitat pode ser afetada não apenas pela competição intraespecífica, mas também por outros fatores. Nesse sentido, hoje veremos que esses fatores incluem experiência de vida dos animais, diferenças genéticas, adaptação contra a endogamia e a competição por parceiros sexuais.

As experiências que os indivíduos têm ao longo da vida podem influenciar em suas escolhas por habitats específicos. Por exemplo, pássaros cujas tentativas de nidificação para reprodução fracassaram em determinada região escolhida num ano, não retornam ao mesmo lugar no ano seguinte. Ou seja, esses animais podem selecionar um novo ambiente para reprodução com base em experiência passada em outro ambiente. Isso ocorre, por exemplo, na espécie Turdus migratorius. 

Em outros casos, há diferenças genéticas fortemente associadas ao processo de escolha de habitat. Por exemplo, na espécie de formiga Solenopsis sp, conhecida como “fire ant”,  quando ocorre a produção de uma nova geração de rainhas na colônia, algumas se dispersam, acasalam e começam uma nova colônia enquanto outras permanecem na colônia onde nasceram. Aqui podemos questionar qual seria a razão de algumas dispersarem e outras não, principalmente considerando que isso significa deixar um local familiar e rico em recursos e gastar energia ou mesmo correr um maior risco de predação por exposição ao se dispersar. O que ocorre, nesse caso é que há dois genótipos diferentes nas novas rainhas (por exemplo: X e Y), de forma que as formigas operárias que são do genótipo X são capazes de reconhecer as rainhas com genótipo Y e acabam por desmembrá-las. Com isso, se as novas rainhas com o genótipo Y permanecerem na colônia, elas serão mortas e, por isso, dispersam.

Além disso, a dispersão de alguns indivíduos de um agrupamento familiar pode evitar um processo em que ocorre acasalamento entre indivíduos aparentados, conhecido como endogamia. Na endogamia, os filhotes provenientes de tais acasalamentos tem mais chances de carregar alelos recessivos, que podem ser danosos ou fatais. Quanto maior o grau de parentesco entre os indivíduos que acasalam, maior a chance de tais alelos ocorrerem em seus filhotes. Um exemplo de dispersão e seleção de novo habitat associada a endogamia pode ser observada numa pequena espécie de mamífero conhecida como Belding’s ground squirrel. Nessa espécie, que vive em agrupamentos, as fêmeas auxiliam as mães na defesa da toca e dos filhotes. Ou seja, é importante que as fêmeas mais novas permaneçam junto às mais velhas. Nesse contexto, os machos dispersam e buscam um novo ambiente, um comportamento que acaba evitando a endogamia.

Ainda podemos observar a dispersão e seleção de um novo ambiente nas espécies em que há competição acirrada por parceiros sexuais. Em muitos desses casos, são os machos que disputam as fêmeas com outros machos, como é o caso, por exemplo, dos leões. Quando um leão perde uma disputa por um harém de fêmeas com outro macho, ele se dispersa para longe do rival, buscando novas oportunidades de conquistas de fêmeas para reprodução. Nesses casos, mesmo que o ambiente seja favorável e rico em recursos, a falta de acesso às fêmeas força os leões perdedores a buscarem um novo território.

Assim, vemos que a seleção de habitat é, na realidade, bem mais complexa do que apenas selecionar um ambiente preferido e mais promissor para se estabelecer e/ou se reproduzir. E assim encerramos este tema, ao menos temporariamente, aqui no blog!