Seleção sexual – continuação

Ainda considerando o tema seleção sexual, já vimos sobre o que exatamente nós podermos chamar de seleção sexual aqui e aqui, bem como já vimos sobre as diferentes estratégias de machos e fêmeas que potencializam seus próprios sucessos reprodutivos aqui. Ou seja, já vimos o que é seleção sexual e como ela pode ser complexa e envolver estratégias variadas. Mas será que tudo isso vale a pena para as fêmeas? O que exatamente elas ganham ao escolher os machos? Hoje vamos ver os benefícios da seleção sexual para as fêmeas. 

Ao selecionar parceiros para reprodução, a fêmea pode receber benefícios diretos e indiretos. Os benefícios diretos estão mais associados a ganhos materiais, enquanto os benefícios indiretos estão mais associados a ganhos para os filhotes (que, indiretamente, potencializam o sucesso reprodutivo das fêmeas). Os benefícios materiais são recursos obtidos pela fêmea ao se acasalar com um macho em particular, podendo ser um presente nupcial, o acesso aos territórios com alimento mais abundante ou de melhor qualidade, cuidado parental aumentado, entre outros.

O presente nupcial é um recurso físico, tal como um item alimentar que um macho provê a uma fêmea, que aumenta o sucesso do macho na cópula. Os presentes nupciais podem ser uma presa, carniça, material vegetal, secreções glandulares ou até mesmo alimento regurgitado. É comum em artrópodes que os machos forneçam algum presente nupcial às fêmeas.

Outro benefício direto e comum que as fêmeas podem receber é o acesso a recursos de alta qualidade defendidos por um macho territorial com o qual ela acasala. Ryan Calsbeek e Barry Sinervo examinaram o quanto a qualidade do território afeta a escolha da fêmea e o sucesso reprodutivo em uma espécie territorialista de lagartos (Uta stansburiana). Nessa espécie, os machos defendem territórios onde posicionam-se sobre rochas e se exibem para as fêmeas. A presença de rochas está associada a uma melhor detecção de predadores e a manutenção de um microclima importante para uma espécie ectotérmica (que depende muito do ambiente externo para controlar sua temperatura corporal) como esse lagarto. Os pesquisadores observaram que as fêmeas dos lagartos preferiram os melhores territórios, mesmo quando eles eram ocupados por machos menores.

Com relação aos benefícios indiretos que a fêmea pode receber ao escolher seu parceiro, eles estão associados à qualidade genética do macho com a qual a fêmea acasala. A qualidade genética do macho afeta a sobrevivência e o sucesso da prole gerada, pois esta herda parte da genética do macho. Ou seja, se as fêmeas se acasalam com machos de melhor qualidade, elas terão filhotes com melhor qualidade genética, ou seja, as fêmeas terão maior sucesso reprodutivo nessas condições. Mas como acessar a qualidade genética dos parceiros se as fêmeas não podem observar diretamente os genes dos machos?

As fêmeas podem selecionar os machos com base nos traços sexuais secundários deles, ou seja, as características morfológicas e/ou comportamentais que são desenvolvidas de forma diferenciada nos machos, como vimos aqui. Assim, voltamos a ideia inicial do motivo pelo qual a seleção sexual é importante, mesmo envolvendo o desenvolvimento de características custosas de manter e a perigosa competição entre os indivíduos de uma mesma espécie. Quando um macho tem uma característica muito exacerbada e diferenciada (que provavelmente chama mais a atenção de um possível predador) ou quando ele ganha uma luta mesmo sofrendo injúrias de um oponente, isso é um indicativo para a fêmea de que esse macho deve ser mais forte, ter mais habilidades e vigor, ou seja, melhor qualidade genética, já que sobreviveu mesmo em meio a essas condições adversas. Assim, o pesquisador Zahavi sugeriu que os caracteres sexuais secundários exagerados permitem ao sexo escolhedor (geralmente a fêmea) acessar a qualidade do outro sexo (geralmente o macho).

Com base na informação acima, já podemos imaginar que a escolha das fêmeas favorece o aparecimento de táticas reprodutivas alternativas nos machos, pois nem todos são capazes de ganhar disputas, defender territórios de boa qualidade ou expressar os traços sexuais secundários em sua forma mais exagerada. Mesmo porque se fosse assim, a fêmea não teria muito o que escolher, e a seleção sexual não faria muito sentido. Esse tópico será mais discutido na próxima postagem sobre seleção sexual!