Seleção sexual – última parte!

Conforme vimos na postagem anterior aqui no blog, o fato das fêmeas geralmente escolherem seus parceiros sexuais leva à expressão de táticas reprodutivas alternativas dos machos, porque nem todos são capazes de ganhar disputas, defender territórios de boa qualidade ou expressar traços sexuais secundários em sua forma mais exagerada. Ou seja, a preferência da fêmea é um estímulo para o desenvolvimento e manutenção de múltiplos fenótipos (conjunto de características apresentadas por um indivíduo) comportamentais associados à reprodução nas populações. Assim, hoje veremos quais são as táticas alternativas mais comuns utilizadas pelos machos.

Nesse contexto, partimos do pressuposto de que, numa população, temos aqueles machos mais competitivos e aqueles menos competitivos. Ou seja, temos aqueles machos maiores, mais velhos e em melhores condições fisiológicas, que são os preferidos pelas fêmeas, e também aqueles machos menos competitivos que usam táticas alternativas, usurpando acasalamentos dos machos mais competitivos.  Esses últimos são conhecidos como machos parasitas.

Há muitas táticas diferentes utilizadas por machos parasitas. Uma das mais conhecidas é a do macho satélite. Nessa tática, o macho parasita permanece próximo ao macho mais competitivo para interceptar as fêmeas que são atraídas para esse macho. Por exemplo, na rã arborícola européia, as fêmeas preferem acasalar-se com machos que produzem os chamados mais energéticos e de frequência mais baixa, que só os machos maiores podem produzir. Como os machos parasitas não conseguem produzir tais chamados, eles ficam em silêncio e permanecem próximos aos machos mais competitivos, aumentando assim seus encontros com as fêmeas que são atraídas.

Uma outra tática conhecida dos machos parasitas é a do macho sneaker. Nessa tática, o macho parasita tenta evitar a detecção de um macho competitivo ao mesmo tento em que acasala com a fêmea. Assim, o macho sneaker pode rapidamente entrar no território de um macho competitivo para fertilizar os ovos que estão sendo depositados no ninho pela fêmea. Um exemplo dessa estratégia é vista no peixe lua. Nessa espécie, os machos mais competitivos defendem ninhos em territórios de reprodução, sendo que as fêmeas se aproximam desses machos e desovam em seus ninhos. Nessa situação, os machos sneaker invadem os territórios dos machos competitivos e, enquanto a fêmea está desovando, os machos sneaker tentam fertilizar os ovos assim que eles são depositados.

As táticas alternativas dos machos podem evoluir e serem mantidas nas populações de duas formas diferentes: por estratégia condicional ou por estratégia evolutivamente estável. Na estratégia condicional, indivíduos com elevada condição física adotam a tática do macho competitivo, enquanto aqueles numa condição ruim adotam a tática do macho parasita. Assim, os machos podem adotar qualquer uma das duas táticas dependendo da condição física em que se encontram, como é o caso da rã arborícola européia mencionado acima. Na estratégia evolutivamente estável, caso uma tática seja adotada pela população, ela não pode ser superada por uma outra tática, uma vez que ela produz  maior vantagem para o macho. Assim, ela é mantida por seleção dependente de frequência, ou seja, o sucesso da tática alternativa aumenta conforme ela vai se tornando mais rara na população (pois ele “explora” a outra tática existente, que é a do macho mais competitivo). Essa hipótese prediz sucesso igual para ambas as táticas uma vez que elas coexistam de forma estável, como é o caso do peixe lua mencionado acima.

Até agora, analisamos a fundo o tema seleção sexual aqui no blog (não deixe de conferir as postagens anteriores sobre o tema aqui, aqui, aqui e aqui), mas não vimos todos os detalhes… A seleção sexual não pára por aí… Por exemplo, as fêmeas podem observar e copiar as preferências de outras fêmeas pelos machos quando eles são muito similares entre si ou elas são ainda muito inexperientes. Além disso, as preferências podem variar ao longo do tempo e até mesmo serem revertidas ou podem ainda influenciar processos de dispersão dos animais ou mesmo podem se relacionar a uma base pré-existente de escolha por determinada característica. As preferências sexuais podem, até mesmo, influenciar em processos de especiação (processos de origem de uma nova espécie). Ou seja, realmente a seleção sexual é um tema bem complexo, mas os conceitos mais gerais e importantes envolvidos nesse tema foram vistos aqui no blog. Espero que tenham aproveitado!