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Um tema diretamente relacionado ao cuidado parental que vimos nas últimas postagens aqui e aqui no blog é aquele relacionado aos sistemas de acasalamento dos animais. Baseado na definição encontrada no Dicionário de comportamento animal do Dr. McFarland, o investimento parental, que é um dos principais aspectos do cuidado parental e engloba tanto o tempo despendido cuidando da prole quanto a energia gasta nesse processo, influencia o sistema de acasalamento das espécies. Os membros do sexo que investe consideravelmente menos em comportamento parental competirão entre si para acasalar com membros do outro sexo, ou seja, com membros do sexo que investe mais em comportamento parental (que geralmente são as fêmeas). E isso está relacionado aos sistemas de acasalamento das espécies.
A partir disso, veremos agora os principais sistemas de acasalamento encontrados nos animais, também com base na definição encontrada no dicionário do Dr. McFarland. O sistema de acasalamento é um aspecto básico de organização social das espécies. Há dois tipos básicos mais conhecidos, que são a monogamia, na qual cada indivíduo adulto e sexualmente maduro acasala-se com apenas um membro do sexo oposto de sua espécie; e a poliginia, na qual um indivíduo sexualmente maduro acasal-se com dois ou mais indivíduos do sexo oposto de sua espécie, seja simultaneamente ou sucessivamente.
A monogamia é comum em aves e muito rara em outros grupos, sendo que observamos a ocorrência de dois tipos de monogamia na natureza. Há a monogamia perene, na qual o indivíduo acasala com apenas um parceiro por toda sua vida ou até que haja uma separação do par em função de uma falha de um dos indivíduos em cumprir suas “obrigações”. Quando ocorre tal tipo de monogamia, os pares de indivíduos geralmente mantém uma associação entre si mesmo fora da estação reprodutiva. Por outro lado, temos também a monogamia sazonal, que ocorre em espécies em que os indivíduos formam pares monogâmicos apenas durante a estação reprodutiva. Ou seja, quando passa o período de reprodução, os indivíduos das espécies em que ocorre esse tipo de monogamia passam a levar vidas separadas pelo resto do ano. Muitas espécies de aves migratórias apresentam esse tipo de monogamia, inclusive tendendo a voltarem para o mesmo local de reprodução a cada ano unindo-se novamente aos seus mesmos pares monogâmicos a cada estação reprodutiva.
Com relação à poligamia, a forma mais comum de acasalamento que nós podemos encontrar é a poliginia, na qual um macho acasala com várias fêmeas diferentes. Por outro lado, temos também a poliandria, na qual vemos a situação inversa, ou seja, uma fêmea acasala com vários machos de sua espécie. O sexo que acasala com vários membros do sexo oposto é aquele que investe menos numa mesma prole (geralmente os machos) e, portanto, acasalar-se mais e ter mais filhotes são características que fazem parte dessa estratégia mais quantitativa. Por outro lado, o sexo que investe mais numa mesma prole (geralmente as fêmeas) é aquele que melhor seleciona seu parceiro, obtendo assim uma prole com maior probabilidade de sobrevivência e futuro sucesso reprodutivo. Assim, acasalar-se com apenas um ou poucos parceiros de melhor qualidade e investir mais numa mesma prole fazem parte dessa estratégia mais qualitativa.
Há ainda as espécies promíscuas, ou seja, aquelas em que não há formação de pares, sendo que tanto machos quanto fêmeas se acasalam com mais de um membro do sexo oposto de sua espécie. É importante salientar que todos esses sistemas de acasalamento mencionados aqui hoje nem sempre são tão delimitados como especificado acima (especialmente a monogamia, pois pode ocorrer cópula extra-par em pares monogâmicos). Além disso, é importante ressaltar que a evolução de todos esses sistemas de acasalamento é influenciada pelo nicho ecológico ocupado pela espécie, pela seleção de parceiros, pelo investimento parental (como mencionado acima) e pelo próprio território em que a espécie ocorre. Ou seja, não é tão simples quanto parece!