Teoria do Forrageamento Ótimo (TFO) – parte 1

Para falarmos sobre a Teoria do forrageamento ótimo, primeiro precisamos ver o que exatamente é forragear. Forrageamento pode ser compreendido como o conjunto de estratégias de um indivíduo para encontrar, capturar, subjugar, engolir e combater os mecanismos de defesa da presa. Ou seja, forragear não se resume a apenas procurar o alimento e comer, mas envolve também todos os custos energéticos envolvidos na procura, captura e manipulação da presa. Nesse contexto, segundo a Teoria do forrageamento ótimo, tais custos não devem ser maior que os benefícios energéticos dos itens alimentares adquiridos. Assim, tal teoria propõe a maximização do fitness, ou seja, maximizar o sucesso reprodutivo e a sobrevivência pela maximização do número de calorias ingeridas por unidade de tempo. De acordo com essa teoria, os animais devem ser naturalmente selecionados a tomar decisões ótimas, ou seja, ganhar a maior quantidade de calorias pelo menor custo possível. 

Se considerarmos um animal se alimentando naturalmente em seu habitat, é comum que hajam diversos tipos de alimentos distintos disponíveis (a não ser que o animal seja de uma espécie bem especialista, ou seja, que se alimenta de apenas um ou poucos tipos de presas). E, em geral, deve haver diferenças entre os custos e benefícios envolvidos ao se alimentar de cada um desses tipos de alimento. Dessa forma, a TFO nos permite assumir hipóteses e predições de como deve ser a tomada de alimento em determinada espécie animal com base no nosso conhecimento sobre os itens alimentares disponíveis no ambiente e os custos e benefícios envolvidos na obtenção de cada item.

Um exemplo disso seria o teste da TFO em corvos pelo Dr. Zach. Sabendo que os corvos se alimentam de mariscos e que, para abrir suas conchas (cust0) os corvos voam até certa altura de onde soltam os mariscos sobre rochas, ele pegou mariscos com conchas de diferentes tamanhos e as jogou a partir de diferentes alturas sobre conjuntos de rochas. O Dr. Zach observou que as conchas maiores tinham maior probabilidade que as demais de se quebrarem quando caíam a partir de 5m de altura. Ele também notou que acima dessa altura, a probabilidade de quebrar a concha do marisco aumentava muito pouco. Além disso, ele também observou que a chance de quebrar a concha não era alterada pelo número de tentativas prévias de tentar quebrá-la, ou seja, não compensava para uma ave desistir de quebrar uma mesma concha. Assim, na prática, vemos que os corvos geralmente pegam mariscos maiores (maior quantidade de calorias disponíveis) e os arremessam de uma altura próxima a 5m, minimizando assim a energia gasta para abrir a concha, uma vez que voar mais alto para derrubar a concha não aumentava significativamente a probabilidade de conseguir quebrá-la. Dessa forma, essa observação dos corvos forrageando mariscos confirmou as predições feitas para essa espécie a partir da TFO.

A partir do exemplo acima fica mais claro compreender a TFO a partir da análise dos custos e benefícios envolvidos no forrageamento dos animais. Mas será que a análise é sempre assim tão simples? Será que devemos considerar que os animais sempre buscam por alimento da forma mais eficiente possível? Quais seriam as críticas à Teoria? Essas perguntas serão respondidas uma próxima postagem sobre a TFO!