Teoria do Forrageamento Ótimo (TFO) – parte 2

Anteriormente, vimos o que é a Teoria do Forrageamento Ótimo (TFO) e, a partir de um exemplo, mostrei a vocês como podemos observar o comportamento animal e inferir hipóteses a partir da TFO que posteriormente podemos testar. Entretanto, será que a análise é sempre simples como vimos em nosso exemplo dos corvos forrageando moluscos marinhos? Mais ainda, será que devemos considerar que os animais sempre buscam por alimento da forma mais eficiente possível, considerando que a TFO implica em maximização do fitness dos animais? Vamos então aprofundar o conceito da TFO…

Vejamos um outro exemplo… Aves ostraceiras, como o próprio nome já diz, alimentam-se de ostras, que requerem, assim como os moluscos marinhos de nosso exemplo anterior, um custo para serem abertos. Alguns pesquisadores calcularam então a rentabilidade de diferentes tamanhos de ostras, com base nas calorias contidas no mexilhão (benefício) e o tempo necessário para abri-lo (custo). Tais pesquisadores concluíram que os mexilhões maiores que 50 mm requeriam mais esforço para serem abertos, mas forneciam mais calorias por minuto gasto do que os mexilhões menores. Assim, foi lógico para tais pesquisadores esperar que os ostraceiros deveriam focar primariamente nos mexilhões maiores… Entretanto, não foi isso que observaram na prática. Na verdade, os ostraceiros preferem mexilhões entre 30 e 45 mm, que embora sejam maiores do que a média, ainda não são os mexilhões maiores de 50 mm ou mais… Por que será que isso acontece?

Muitos mexilhões grandes são impossíveis de abrir por estarem cobertos por cracas, e as aves nunca tocam mexilhões com cracas encrustadas. Por outro lado, mexilhões entre 30 e 45 mm tem menor chance de estarem cobertos por cracas enquanto ainda fornecem mais calorias por minuto de gasto energético que os mexilhões menores. Assim, a hipótese inicial formulada a partir da TFO foi rejeitada, mas novas observações permitiram a formulação de uma nova hipótese e um novo modelo para o forrageamento ótimo dos ostraceiros, que foi posteriormente testado e corroborado. Assim, a TFO permitiu através de observações e do teste de hipóteses, melhorarmos nosso conhecimento sobre a tomada de alimento dos ostraceiros.

Dessa forma, vemos que a TFO nos permite formular hipóteses sobre o comportamento alimentar dos animais e testá-las. Uma vez que a hipótese é negada, um novo modelo pode ser proposto e novas hipóteses podem ser testadas, e quando uma hipótese for corroborada, nós melhoramos o nosso conhecimento a respeito da tomada de alimento de determinada espécie. Ou seja, os modelos não devem ser construídos para fazer afirmações sobre “perfeição” em evolução, mas sim para tornar possível testar se o pesquisador identificou corretamente as variáveis que tem moldado a evolução do comportamento do animal até o momento…

Além disso, os animais nem sempre buscam por alimento de forma tão eficiente quanto possível… Para muitos forrageadores a tomada de alimento tem, de fato, consequências que vão além da simples aquisição de calorias… Mas esse é um tema que será visto na terceira e última parte das postagens sobre a TFO. Não percam!