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Como eu mencionei em minha última postagem sobre a Teoria do Forrageamento Ótimo (TFO), para muitos forrageadores a tomada de alimento tem consequências que vão muito além da simples relação entre o ganho de calorias e o custo para obtê-las. Vejamos abaixo um exemplo para entendermos melhor essa questão…
Se um determinado predador tem moldado a evolução do comportamento alimentar de uma presa, o modelo ótimo selecionado a partir de predições formuladas com base na TFO não deve focar apenas nas calorias ganhas e gastas. Se o forrageamento expõe o animal ao risco de morte inesperada (o que deve ser frequente na natureza), uma vez que esse risco seja alto, naturalmente esperamos que o forrageador sacrifique o ganho calórico a curto prazo pela sua sobrevivência a longo prazo.
Vejamos agora uma situação que exemplifica claramente o ponto abordado no parágrafo acima. O parque Nacional de Yellowstone é um parque norte-americano localizado nos estados de Wyoming, Montana e Idaho dos Estados Unidos. Em 1930, os lobos foram considerados extintos nesse parque e, a partir de 1995, começaram a ser reintroduzidos. Tal reintrodução claramente afetou o comportamento de uma espécie de veado conhecida como uapiti. Tais animais são potenciais presas dos lobos e passaram a permanecer mais tempo alimentando-se nas florestas, onde ficam mais protegidos, do que nos prados, onde encontram mais alimento. Entretanto, os uapitis pagam um preço alto por essa mudança de comportamento. Agora nascem menos filhotes de uapitis, e aqueles que nascem tem menor chance de sobreviverem à passagem do rigoroso inverno. Ou seja, além dos uapitis sofrerem o efeito direto da predação por lobos, também sofrem o efeito indireto da presença desses predadores, tendo seu padrão de forrageamento e o nascimento e sobrevivência dos indivíduos afetados.
Portanto, ao invés de buscarmos identificar a “perfeição da natureza” nos comportamentos envolvidos no forrageamento de uma espécie, é muito importante considerarmos todo o contexto envolvido na vida do animal. Assim, devemos usar a TFO para formular hipóteses e testá-las a partir do que conhecemos sobre a espécie para identificar fatores ecológicos que estão moldando o comportamento de forrageamento dos indivíduos. Uma vez que as predições e o modelo que selecionamos não corresponderem com a realidade, o problema não é a TFO, mas sim nossa provável falta de conhecimento sobre todo o contexto envolvido no forrageamento ou a história evolutiva da espécie. Afinal, o que vemos hoje é apenas uma janela temporal da história de vida da espécie, que continuamente está se ajustando a mudanças no ambiente que a cerca. Assim, nem sempre obter o máximo de energia pelo mínimo custo é viável no momento.