Na postagem anterior comecei a explicar para vocês que as estratégias comportamentais, ou seja, aqueles diferentes fenótipos comportamentais que diferem geneticamente, podem coexistir entre os indivíduos de uma mesma espécie por seleção dependente de frequência. Esse tipo de seleção ocorre quando o fitness (sucesso) de um fenótipo é uma função de sua frequência em relação a ocorrência de outro fenótipo. Ou seja, quando o fitness de um tipo fenotípico é mais raro na população, mas começa a aumentar em frequência entre os indivíduos por seleção natural, ele começará a se tornar mais frequente. O limite de aumento da frequência de ocorrência desse fenótipo ocorre no ponto em que ele represente o mesmo sucesso que os indivíduos do outro fenótipo, pois ao se tornar mais frequente que o outro fenótipo, também diminui sua própria vantagem. Vejamos um exemplo para esclarecer esse conceito.

Um peixe ciclídeo africano (Peridossus microlepis), que é um predador natural de outros peixes, pode apresentar duas formas anatômicas com comportamentos distintos (dois fenótipos) que são hereditárias. Numa das formas, o ciclídio tem a mandíbula voltada para o lado direito, e ataca suas presas pela esquerda, enquanto que na outra forma o peixe tem a mandíbula voltada para o lado esquerdo e ataca suas presas pela direita. Assim, se as presas aprendem a esperar um ataque vindo do seu lado esquerdo quando o tipo anatômico-comportamental (fenótipo) do ciclídeo predador que ataca pela esquerda é mais frequente, as presas aprendem a vigiar esse lado do seu corpo. Assim, ciclídeos que atacam as presas pela direita passam a ter vantagem  (maior fitness) e a se tornar frequentes na população, até que o ponto em que o ataque pela direita se torne tão comum quanto pela esquerda. Nesse ponto, nenhum dos dois fenótipos apresenta vantagem sobre o outro e os dois acabam mantendo-se na população. Ou seja, a frequência de ocorrência de ambos os fenótipos oscila em torno de um equilíbrio ao longo do tempo, pois o sucesso e reprodução de um fenótipo depende da frequência de ocorrência do outro fenótipo entre os indivíduos da população.

Entretanto, nem sempre diferentes estratégias que ocorrem entre os indivíduos de uma população diferem geneticamente, como comentei em minha postagem anterior. Às vezes, as estratégias que representam diferentes fenótipos são condicionais à diferenças ambientais. Ou seja, as divergências entre as diferentes estratégias deve refletir diferenças ambientais de algum tipo, de forma que os mesmos indivíduos podem apresentar estratégias diferentes dependendo do contexto ambiental. Mas este tópico será detalhadamente explicado na minha próxima e última postagem sobre a Teoria dos Jogos!