Teoria dos Jogos – parte 3

Conforme mencionei em minha postagem anterior, nem sempre diferentes estratégias comportamentais dentro de uma mesma espécie estão associadas a uma forte diferença genética entre os indivíduos. É claro que sem a base genética não é possível expressar um comportamento de forma diferenciada, mas às vezes a maior influência é a ambiental. Assim, estratégias que representam diferentes fenótipos acabam sendo condicionais às diferenças ambientais e podem ocorrer num mesmo indivíduo. Ou seja, os mesmos indivíduos podem expressar comportamentos diferentes dependendo do contexto ambiental. Para entender melhor esse tópico, vamos ver um exemplo.

Uma ave popularmente conhecida como “vira-pedras”, como o próprio nome já diz, vira pedras para vasculhar a lama ou a areia em busca de pequenos moluscos, dos quais se alimenta. Mas essa não é a única técnica empregada pela ave em sua busca por alimentos. Aves “vira-pedras” também podem empurrar e virar filamentos de algas, onde mais facilmente encontram inúmeros invertebrados dos quais se alimentam. A preferência entre essas duas técnicas envolvidas no forrageamento da ave varia entre os indivíduos. Entretanto, cada indivíduo não está fadado a usar sempre a mesma técnica, ou seja, um mesmo indivíduo pode empregar técnicas diferentes dependendo do contexto ambiental em que se encontra.

Essa ave geralmente forrageia em pequenos grupos, cujos indivíduos estabelecem uma hierarquia de dominância. Dessa forma, indivíduos que estão no topo da hierarquia forrageiam nos melhores locais e afastam subordinados que se aproximarem, evitando assim que tais subordinados explorem porções mais ricas da área. Assim, os dominantes acabam monopolizando áreas com algas, onde encontram numerosos invertebrados, enquanto os subordinados mantém distância e são forçados a vasculhar areia ou lama em busca de alimento. Nessas condições, vemos que os “vira-pedras” assumem diferentes estratégias dependendo de sua posição na hierarquia, a qual pode variar ao longo do tempo. Ou seja, vemos aqui a ocorrência da estratégia condicional, que envolve a habilidade de alterar o comportamento adaptativamente dependendo das condições ambientais que o animal está enfrentando no momento.

Assim, a partir de tudo que foi discutido sobre a Teoria dos Jogos, vemos que tanto diferenças com maior base genética quanto diferenças mais ambientais podem explicar o nosso questionamento inicial (veja minha primeira postagem sobre a Teoria dos Jogos aqui) de como e por quê fenótipos comportamentais alternativos ocorrem e se mantém na população ao longo do tempo. Nossa conclusão é de que as variantes comportamentais podem coexistir tanto pela seleção dependente de frequência dos fenótipos (vide postagem anterior aqui) quanto pelo resultado da seleção que torna os indivíduos flexíveis em suas respostas à condições ambientais variáveis.