Tomada de alimento – parte 1

Com relação à tomada de alimento nos animais, já vimos no blog (aqui, aqui, aqui e aqui) sobre a predação, que está incluída nesse processo, mas o principal enfoque visto foi nas estratégias predatórias e anti-predatórias dos animais. Entretanto, a tomada de alimento envolve muito mais além disso. Para começo de conversa, como sabemos, nem todos os animais são predadores! Muito pelo contrário… Assim, agora veremos sobre a tomada de alimento nos animais de forma mais geral, explicando como esse processo acontece nos mais diferentes animais. Vamos começar por uma questão fundamental: como os animais sabem o que comer? Como sabem quais itens alimentares podem ser ingeridos?

Normalmente há algumas “pistas” nos alimentos que os animais conseguem usar para identificar aqueles que podem ser ingeridos sem trazer-lhes algum tipo de problema, tais como envenenamento, por exemplo. As pistas incluem: 1) itens familiares, com os quais os animais já estão acostumados e, portanto, já sabem que são comestíveis; 2) coloração amarelada ou avermelhada das frutas, que normalmente representam aquelas mais doces e maduras; 3) presas que se locomovem em um determinado padrão já conhecido pelo animal; 4) alimentos que são palatáveis. Entretanto, como descobrir quais alimentos são palatáveis? Normalmente os indivíduos aprendem o que é comestível com a experiência. Por exemplo, a borboleta monarca é um inseto que possui substâncias tóxicas em seu corpo. Assim, se ingerida por uma ave, por exemplo, levará à intoxicação alimentar, o que futuramente levará a respectiva ave a evitar alimentar-se de borboletas com padrão de coloração da borboleta monarca. Além disso, em espécies em que ocorre a sobreposição de gerações, o aprendizado dos filhotes sobre quais itens são comestíveis pode depender dos pais. Isso ocorre nos chimpanzés, por exemplo.

 Saber o que ingerir como alimento é um primeiro passo fundamental… mas o processo em si de como ingerir tais alimentos também é relevante. A diversidade nesse processo é enorme entre os animais! Dependendo do tamanho das partículas, consistência e estrutura do alimento, os métodos de captura são diferentes. Por exemplo, pequenas partículas de alimento podem ser capturadas com o simples uso de cílios (ex: esponjas), uso de cerdas para filtração (ex: baleias e flamingos), tentáculos (ex: pepinos-do-mar) ou por meio de armadilhas mucosas (ex: moluscos gastrópodes). Por outro lado, grandes partículas ou mesmo massas de alimento podem ser capturadas por raspagem, perfuração ou mastigação (ex: Ouriços-do-mar, caracóis, insetos, vertebrados), ou captura seguida de deglutição da presa (ex: celenterados, peixes, cobras, aves, morcegos), ou ainda ingestão direta de massas inativas que incluem partículas alimentares, como no caso das minhocas. Fluidos ou tecidos moles podem ser ingeridos de diferentes formas dependendo do tipo de fluído, por exemplo, sucção de seiva de plantas ou néctar (ex: pulgões, abelhas), ingestão de sangue (ex: sanguessugas, carrapatos), sucção de leite (ex: jovens mamíferos), digestão externa (ex: aranhas) ou tomada através da superfície corpórea (ex: tênias). 

O método de capturar o alimento ainda depende de outras características do próprio alimento que vão além de apenas a que tipo daqueles vistos acima tal alimento pertence. Os animais possuem diferentes adaptações e utilizam diversas estratégias para capturar diferentes tipos de alimento. A partir disso, os animais podem ser classificados quanto à sua forma de tomada de alimento: 

  • Animais carnívoros: alimentam-se de outros animais e devem ser capazes de localizar, matar, e comer a presa. Muitos têm mecanismos especializados de detecção da presa, armas bem desenvolvidas, e exibem comportamentos alimentares especializados como espreita/perseguição e emboscada. Alguns se alimentam de animais maiores que eles e caçam em grupo;

  • Animais herbívoros: alimentam-se de plantas, sendo que muitos são especializados em partes específicas da planta como frutas ou folhas. Assim como os carnívoros, requerem adaptações especiais para se alimentarem como dentes que moem e trituram para mastigar o material resistente das plantas;

  • Animais onívoros: são generalistas e se alimentam de uma variedade de alimentos, tanto de fonte vegetal quanto animal. Por serem generalistas, geralmente (mas nem sempre) faltam adaptações muito especializadas para alimentação, mas requerem flexibilidade anatômica e comportamental para localizar, processar e utilizar os alimentos. 

  • Animais limpadores e detritívoros: são generalistas e se alimentam de diversos itens, sendo que os detritívoros ingerem matéria orgânica em decomposição. Novamente, por serem generalistas, frequentemente não tem adaptações especializadas para alimentação, mas geralmente apresentam flexibilidade anatômica e comportamental associadas à alimentação. 

  • Animais parasitas e parasitódes: alimentam-se de tecidos ou fluídos de plantas ou outros animais, sendo que os parasitas em geral não causam a morte do hospedeiro;

Nas próximas postagens veremos mais detalhadamente sobre as estratégias da tomada de alimento de animais carnívoros, herbívoros, onívoros, limpadores/detritívoros e parasitas/parasitoides. Não percam!