Trapaça (cheating)

Hoje vamos falar sobre um conceito relacionado a diversos comportamentos observados no reino animal, tais como seleção sexual, disputas, e estratégias anti-predatórias em grupo. É o conceito conhecido como “trapaça”, ou cheating em inglês. De acordo com o dicionário de comportamento animal (Dictionairy of Animal Behaviour) de David McFaland que está nas indicações de leiturra deste Blog, a trapaça é uma estratégia evolutiva através da qual alguns individíduos de uma mesma espécie de alguma forma conseguem ganhar alguma vantagem sobre os outros por não se comportarem da forma esperada por eles. Ou seja, em vista dos padrões comportamentais da espécie, alguns comportamentos são esperados em determinadas situações e condições pelos indivíduos, mas quando ocorre a “trapaça”, a expressão comportamental é diferente do esperado de acordo com a situação, o que, de alguma foma, leva o indivíduo que exprressou tal comportamento a ter alguma vantagem.

Por exemplo, considerando as estratégias anti-predatórias em grupos, a estratégia em que o indivíduo sentinela sinaliza a presença do pedador para os outros membros do grupo é uma na qual observamos a ocorrência de trapaça. Nessa situação, o sinal de alarme tem naturalmente o custo de atrair a atenção do predador para o indivíduo que emitiu o alame. Veja que embora todos os membros do grupo se beneficiem do sinal de alarme, como o indivíduo emissor atrai o predador para si, essa estratégia está aberta à possibilidade de trapaça. Um bom exemplo disso ocorre nos pombos. Quando esses animais estão se alimentando em grupo, eles emitem um sinal especial quando estão prestes a partir do local. Entretanto, se eles partem com pressa, sem emitir o sinal, todas as outras aves também parte em alarme. Assim, o pombo que estava como vigilante, ao partir sem emitir o sinal característico, está ao mesmo tempo avisando os outros membros do grupo de um perigo eminente enquanto também ganha uma vantagem de tempo por partir logo antes dos demais membros do grupo. Esse tipo de “trapaça” é assumida como tendo forte base genética.

Há diversos outros exemplos sobre “trapaças” no reino animal, tais como machos que oferecem pesentes nupciais falsos para as fêmeas na cópula. Assim, o presente, que deveria representar um importante ganho energético para a fêmea numa situação em que ela deve perder bastante energia com o desenvolvimento e cuidado da prole, na verdade está vazio… Nessa situação, o macho normalmente não perde a cópula com a fêmea por isso, pois quando ela descobre a “trapaça” já é tarde demais, além dele economizar tempo e energia ao não conseguir alimento para colocar no presente que oferece à fêmea… Há ainda uma situação de trapaça bem interessante utilizada por machos sneakers, ou seja, aqueles que normalmente não são selecionados pelas fêmeas para cópula por não apresentarem as qualidades dos machos preferidos e que, nesse contexto, usam outras estratégias que lhes permite conseguir reproduzir. Nessa trapaça, os machos sneaker se assemelham à fêmeas e, assim, conseguem entrar até mesmo no meio de uma cópula e copular com a fêmea sem ser agredido e expulso pelo macho dominante, o que claramente lhe confere ganho em sucesso reprodutivo…

Se procurarmos no meio das mais variadas estratégias comportamentais dos animais, vamos ver que há diversas opotunidades de “trapaça”de acordo com a definição desse contexto. Assim, fica claro que é algo mais fequente do que imaginamos no reino animal!