Defensivos químicos: passo a passo para as melhores escolhas
Os defensivos químicos são aliados importantes no manejo agrícola, mas seu uso exige conhecimento e planejamento para garantir eficiência, sustentabilidade e preservação das tecnologias agrícolas.
No manejo agrícola, cada insumo tem seu papel, e os defensivos químicos são ferramentas importantes para a proteção das plantas cultivadas. Eles atuam no controle de insetos-praga, plantas daninhas e microrganismos patogênicos, sendo peças-chave dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP), estratégia que prioriza a eficácia e a sustentabilidade.
No entanto, é uma tecnologia que exige conhecimento e planejamento para seu uso eficiente. Ao escolher e aplicar esses produtos corretamente, o produtor não só protege suas plantas, mas também preserva a tecnologia, contribuindo para a sustentabilidade do sistema agrícola. Porém, é necessário conhecer as particularidades de cada produto, para que a assertividade seja assegurada. Então, vamos falar sobre os diferentes aspectos que podem fazer com que sua escolha pelos produtos sejam a melhor possível!
Conhecendo os tipos de defensivos químicos
Os defensivos químicos são formulados pela combinação de dois componentes principais:
- Ingrediente ativo: uma molécula sintética que possui a capacidade de modificar um sistema fisiológico específico do organismo-alvo (como insetos, fungos ou plantas daninhas), sendo responsável pela ação efetiva do defensivo.
- Aditivos: antes chamados de inertes, são substâncias auxiliares que, embora não tenham efeito direto sobre as pragas, são essenciais para potencializar a ação do ingrediente ativo, garantindo maior eficácia, estabilidade ou facilidade na aplicação do produto. Nas bulas, estes componentes são chamados de “outros ingredientes”.
É o ingrediente ativo que define o alvo do defensivo químico e, com base nele, os produtos podem ser classificados de diferentes formas, como:
Pela natureza da praga que combatem:
- Herbicidas: controlam plantas daninhas.
- Inseticidas: para o controle de insetos como lagartas e pulgões.
- Fungicidas: controlam fungos que causam doenças nas plantas.
- Nematicidas: para controlar os nematoides.
- Acaricidas: para o controle de ácaros.
Pelo seu mecanismo de ação:
São muitos os mecanismos de ação, que são dependentes da natureza da praga. Afinal, o objetivo de um defensivo químico é impedir o funcionamento de processos vitais no organismo-alvo.
Para se ter uma ideia, existem listados 16 modos de ação para herbicidas, 14 para fungicidas e 38 para inseticidas, além de dezenas de moléculas disponíveis para cada um.
Por exemplo, no caso dos herbicidas as moléculas possuem mecanismo de ação específicos para fisiologia de plantas, tais como:
- Herbicidas inibidores da Acetil-CoA carboxilase: impedem a síntese de lipídios, essencial para a formação das membranas celulares das plantas.
- Herbicidas inibidores da EPSP sintase: bloqueiam a produção de aminoácidos como triptofano, fenilalanina e tirosina, resultando na morte da planta.
- Herbicidas que inibem a fotossíntese: atingem diferentes pontos do processo fotossintético, impossibilitando que a planta converta a luz em energia.
No podcast MIP EM DIA, eu Gabriela Vieira, conto pra vocês sobre a história dos inseticidas químicos e falo também sobre os principais modos de ação e como eles funcionam para controlar os insetos no episódio “De onde vieram os inseticidas químicos?”
Além disso, é importante atentar-se ao tipo de formulação do defensivo químico. As formulações mais comuns devem ser diluídas em água. Algumas delas são encontradas como:
- Concentrado emulsionável;
- Pó solúvel;
- Pó molhável;
- Granulado dispersível.
Além dessas, existem as formulações para:
- Diluição em solventes orgânicos;
- Aplicação direta;
- Tratamento de sementes;
- Especiais (iscas, pastas etc.).
Conhecer essas especificidades é essencial para evitar perdas e preservar a eficácia dos produtos.
Além de garantir a segurança e aumentar a eficiência dos defensivos químicos, conhecer as moléculas e os mecanismos de ação dos insumos utilizados na lavoura é essencial para evitar o surgimento de resistência nos organismos-alvo. Quando o produtor utiliza repetidamente ativos que agem sobre o mesmo mecanismo de ação, ocorre uma seleção natural de organismos resistentes. Isso reduz a eficácia do produto, compromete o controle das pragas e resulta em perdas significativas de produtividade.
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Dicas para o uso consciente dos defensivos químicos
Para garantir sua eficiência e evitar problemas como resistência, é essencial seguir estas etapas:
- Identificação correta da praga ou doença: antes de aplicar, identifique a espécie problemática.
- Uso de produtos registrados: Sempre utilize produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a praga e a cultura em questão. Vale lembrar que, diferente dos produtos biológicos, os químicos são sempre registrados para o alvo e para a cultura!
- Siga as instruções do produto: respeite o modo de aplicação, período de carência, etc.
- Rotação de modos de ação: alterne os defensivos utilizados para evitar a seleção de organismos resistentes.
Uma ferramenta bastante útil é o aplicativo Manejo de Resistência Brasil. Através dele, o usuário pode pesquisar os ingredientes ativos, as classificações quanto dos grupos químicos e mecanismo de ação. Para baixar, basta clicar nos links abaixo:
- Android: Manejo de Resistência Brasil – Apps no Google Play
- iOS: Manejo de Resistência Brasil na App Store
Conhecer e usar defensivos químicos de forma consciente é mais do que uma questão de produtividade — é um compromisso com a sustentabilidade, a preservação das tecnologias agrícolas e a segurança alimentar. Ao investir no bom uso desses insumos, podemos fortalecer as lavoura e contribuir para um agronegócio mais responsável!
Principais fontes:
Singh A, et al. Advances in controlled release pesticide formulations: prospects to safer integrated pest management and sustainable agriculture. Journal of Hazardous Materials, 2019.
Gressel, J. Perspective: present pesticide discovery paradigms promote the evolution of resistance – learn from nature and prioritize multi-target site inhibitor design. Pest Management Science, 2020.
Sobre os autores:
Dra. Gabriela Vieira: Engenheira agrônoma, bióloga, doutora em fitossanidade e é especialista em Manejo Integrado de Pragas (MIP) e produtos biológicos. Trabalha como consultora, palestrante e treina profissionais do agro no Brasil todo.
Dr. Paulo Camargo é sócio-diretor do Descascando a Ciência. Biólogo, mestre em microbiologia e doutor em biologia funcional e molecular.
Dr. Francisco Henrique é sócio-diretor do Descascando a Ciência. Engenheiro Agrônomo, mestre e doutor em agricultura tropical e subtropical
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