Defensivos químicos: passo a passo para as melhores escolhas

Publicado por Descascando a ciência em

Os defensivos químicos são aliados importantes no manejo agrícola, mas seu uso exige conhecimento e planejamento para garantir eficiência, sustentabilidade e preservação das tecnologias agrícolas.

No manejo agrícola, cada insumo tem seu papel, e os defensivos químicos são ferramentas importantes para a proteção das plantas cultivadas. Eles atuam no controle de insetos-praga, plantas daninhas e microrganismos patogênicos, sendo peças-chave dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP), estratégia que prioriza a eficácia e a sustentabilidade.

No entanto, é uma tecnologia que exige conhecimento e planejamento para seu uso eficiente. Ao escolher e aplicar esses produtos corretamente, o produtor não só protege suas plantas, mas também preserva a tecnologia, contribuindo para a sustentabilidade do sistema agrícola. Porém, é necessário conhecer as particularidades de cada produto, para que a assertividade seja assegurada. Então, vamos falar sobre os diferentes aspectos que podem fazer com que sua escolha pelos produtos sejam a melhor possível!

Conhecendo os tipos de defensivos químicos

Os defensivos químicos são formulados pela combinação de dois componentes principais:

  1. Ingrediente ativo: uma molécula sintética que possui a capacidade de modificar um sistema fisiológico específico do organismo-alvo (como insetos, fungos ou plantas daninhas), sendo responsável pela ação efetiva do defensivo.
  2. Aditivos: antes chamados de inertes, são substâncias auxiliares que, embora não tenham efeito direto sobre as pragas, são essenciais para potencializar a ação do ingrediente ativo, garantindo maior eficácia, estabilidade ou facilidade na aplicação do produto. Nas bulas, estes componentes são chamados de “outros ingredientes”.

É o ingrediente ativo que define o alvo do defensivo químico e, com base nele, os produtos podem ser classificados de diferentes formas, como:

Pela natureza da praga que combatem:

  • Herbicidas: controlam plantas daninhas.
  • Inseticidas: para o controle de insetos como lagartas e pulgões.
  • Fungicidas: controlam  fungos que causam doenças nas plantas.
  • Nematicidas: para controlar os nematoides.
  • Acaricidas: para o controle de ácaros.

Pelo seu mecanismo de ação:

São muitos os mecanismos de ação, que são dependentes da natureza da praga. Afinal, o objetivo de um defensivo químico é impedir o funcionamento de processos vitais no organismo-alvo.

Para se ter uma ideia, existem listados 16 modos de ação para herbicidas, 14 para fungicidas e 38 para inseticidas, além de dezenas de moléculas disponíveis para cada um. 

Por exemplo, no caso dos herbicidas as moléculas possuem mecanismo de ação específicos para fisiologia de plantas, tais como:

  • Herbicidas inibidores da Acetil-CoA carboxilase: impedem a síntese de lipídios, essencial para a formação das membranas celulares das plantas.
  • Herbicidas inibidores da EPSP sintase: bloqueiam a produção de aminoácidos como triptofano, fenilalanina e tirosina, resultando na morte da planta.
  • Herbicidas que inibem a fotossíntese: atingem diferentes pontos do processo fotossintético, impossibilitando que a planta converta a luz em energia.

No podcast MIP EM DIA, eu Gabriela Vieira,  conto pra vocês sobre a história dos inseticidas químicos e falo também sobre os principais modos de ação e como eles funcionam para controlar os insetos no episódioDe onde vieram os inseticidas químicos?” 

Além disso, é importante atentar-se ao tipo de formulação do defensivo químico. As formulações mais comuns devem ser diluídas em água. Algumas delas são encontradas como: 

  • Concentrado emulsionável;
  • Pó solúvel;
  • Pó molhável;
  • Granulado dispersível.

Além dessas, existem as formulações para:

  • Diluição em solventes orgânicos;
  • Aplicação direta;
  • Tratamento de sementes;
  • Especiais (iscas, pastas etc.).

Conhecer essas especificidades é essencial para evitar perdas e preservar a eficácia dos produtos.

Além de garantir a segurança e aumentar a eficiência dos defensivos químicos, conhecer as moléculas e os mecanismos de ação dos insumos utilizados na lavoura é essencial para evitar o surgimento de resistência nos organismos-alvo. Quando o produtor utiliza repetidamente ativos que agem sobre o mesmo mecanismo de ação, ocorre uma seleção natural de organismos resistentes. Isso reduz a eficácia do produto, compromete o controle das pragas e resulta em perdas significativas de produtividade.

Leia também

Não existe milagre, existe manejo! A importância do MIP para o produtor

Dicas para o uso consciente dos defensivos químicos

Para garantir sua eficiência e evitar problemas como resistência, é essencial seguir estas etapas:

  • Identificação correta da praga ou doença: antes de aplicar, identifique a espécie problemática.
  • Uso de produtos registrados: Sempre utilize produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a praga e a cultura em questão. Vale lembrar que, diferente dos produtos biológicos, os químicos são sempre registrados para o alvo e para a cultura!
  • Siga as instruções do produto: respeite o modo de aplicação, período de carência, etc.
  • Rotação de modos de ação: alterne os defensivos utilizados para evitar a seleção de organismos resistentes.

Uma ferramenta bastante útil é o aplicativo Manejo de Resistência Brasil. Através dele, o usuário pode pesquisar os ingredientes ativos, as classificações quanto dos grupos químicos e mecanismo de ação. Para baixar, basta clicar nos links abaixo:

 Conhecer e usar defensivos químicos de forma consciente é mais do que uma questão de produtividade — é um compromisso com a sustentabilidade, a preservação das tecnologias agrícolas e a segurança alimentar. Ao investir no bom uso desses insumos, podemos  fortalecer as lavoura e contribuir para um agronegócio mais responsável!

Passo a Passo para Escolha e Uso de Defensivos Químicos_2

Principais fontes:

Singh A, et al. Advances in controlled release pesticide formulations: prospects to safer integrated pest management and sustainable agriculture. Journal of Hazardous Materials, 2019.

Gressel, J. Perspective: present pesticide discovery paradigms promote the evolution of resistance – learn from nature and prioritize multi-target site inhibitor design. Pest Management Science,  2020.

Sobre os autores:

Dra. Gabriela Vieira: Engenheira agrônoma, bióloga, doutora em fitossanidade e é especialista em Manejo Integrado de Pragas (MIP) e produtos biológicos. Trabalha como consultora, palestrante e treina profissionais do agro no Brasil todo.

Dr. Paulo Camargo é sócio-diretor do Descascando a Ciência. Biólogo, mestre em microbiologia e doutor em biologia funcional e molecular.

Dr. Francisco Henrique é sócio-diretor do Descascando a Ciência. Engenheiro Agrônomo, mestre e doutor em agricultura tropical e subtropical


Descascando a ciência

O objetivo do Descascando é deixar conteúdos sobre o mundo agrícola e a ciência mais fáceis de serem entendidos. Queremos facilitar o "cientifiquês", para que todos tenham acesso à informação.

0 comentário

Deixe um comentário

Avatar placeholder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *