Em 1988, Richard Lenski reviveu este experimento, mas usando E. coli e controlando a disponibilidade de recurso (comida mesmo, mais precisamente glicose). E em um único dia, com poucos indivíduos, você pode obter milhares. O tempo de vida desta bactéria é muito curto, alguns poucos minutos. É claro que de um dia para outro não vamos encontrar diferenças, mas o cultivo contínuo em meio de cultura durante anos, pode gerar bilhões de gerações de E. coli. E aí que está o grande sacada. O gigantesco número de gerações aumenta enormemente a chance de mutações aleatórias. É como ocorreu, por exemplo, desde o ancestral em comum do homo sapiens e os gorilas (o que aconteceu por volta de 7 milhões de anos atrás), só que dentro de frascos e numa escala de tempo de anos.
Inicialmente, Lenski separou 12 linhagens e utilizou o mesmo tratamento para todas (ciclos de saciedade e fome). Sendo que toda semana, amostras são separadas e congeladas para servirem como um inventário. Isto é, seria como se congelassem parte de nossos ancestrais de gerações em gerações. E o porquê disso é simples: a possibilidade de rastrear as mutações aleatórias que foram os primórdios de uma característica nova. Comparando as novas gerações com as gerações mais antigas (45.ooo gerações de distância), as mais novas crescem 75% mais rápido e são duas vezes maiores . Porém as causas ainda não foram descobertas pelo grupo de cientistas.
Estas diferenças já são muito marcantes e merecem muitos estudos para melhor explicá-las. Porém o mais surpreendente ainda está por vir. Uma das doze linhagens sofreu alguma mutação por volta da geração 31.000 que surpreendeu Lenski. Em meios em que o suprimento de alimento já tinha acabado, foi observado um grande crescimento bacteriano (ao invés de ficar translúcido, o meio apresentavam certa turbidez). Essa linhagem aprimorou ao longo de 14.000 gerações (45.000 – 31.000 = 14.000) a capacidade de se alimentar de citrato. Isto é muito interessante, pois a E. coli não é “normalmente” capaz de incorporar esta molécula. Mas o que trouxe de benefício esse novo comportamento? Essas bactérias precisam de pequenas quantidades de ferro para sobreviver, mas não são capazes de absorver átomos livre de ferro. E imaginem o que tem ligado ao citrato? Isso mesmo! Ferro. Desse modo, mesmo depois que a glicose do meio acabava, essa linhagem ainda era capaz de crescer devido a incorporação do citrato presente no mesmo meio.
O trabalho de Lenski agora é tentar observar quais foram as mutações inciais que permitiram que essa linhagem pudesse se alimentar, mesmo que pouco eficientemente, de citrato, mas que ao longo do tempo (14.000 gerações) foi aperfeiçoada. Esta característica possibilitou que essa linhagem (e somente esta, o que é o mais interessante) ter duas fontes de energia. Ao final desta etapa, Lenski vai poder dizer se uma nova espécie foi formada. Isso mesmo que vocês estão pensando! Evolução em alguns poucos anos! Imaginem o que Darwin diria!
Recomendo a leitura completa de um especial sobre os 200 anos do nascimento de Darwin aqui, onde essa história sobre E. Coli é contada por Carl Zimmer.
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