Passei seis anos da minha vida dedicados a academia. Iniciação científica, mestrado e um doutorado engatilhado. Porém entre o doutorado e o mestrado, tive um ano para repensar minha vida. Diferente dos anos anteriores onde fui emendando uma coisa na outra, a onda acadêmica me levava.
Para que eu faria um doutorado? Prazer, realização pessoal, orgulho, gostar de ciência… tudo isso eram atrativos. Porém, toda hora me vinha a cabeça o tempo entre o mestrado e doutorado que fiquei sem bolsa. Me encontrei no limbo, sem contato nenhum fora da universidade e sem possibilidade de ganhar dinheiro dentro dela. E foi nessa situação de extrema tristeza e desilusão que tomei algumas atitudes para minha nova vida.
Isto mesmo, como na alegoria da caverna de Platão. Um mundo de sombras. A sombra da publicação, a sombra da pressão do seu programa de pós-graduação, a sombra do seu orientador, entre outras. É… o mundo de ilusão da universidade é muito sedutor. Professores com egos inflados, viajando pelo mundo (e de graça! Como vocês sabem a universidade sempre libera verba para esses “congressos”). Eu admirava isso. Toda essa politicagem dentro dos institutos. Estava cercado de Pseudo-Deuses.
Sempre imaginei: “Poxa, me formei numa universidade ótima, tenho mestrado nessa mesma universidade, arrumo emprego quando quiser…” Nem preciso dizer que quebrei a cara. O mundo real é diferente, as coisas são bem mais difíceis! Os contatos são muito importantes. Por sorte, acabei conseguindo trabalho alguns meses depois. Hoje, leciono em dois colégios. Mas, trabalhar como biólogo ainda não consegui.
Nesse momento, me pergunto: E se eu tivesse um doutorado? Bem, na minha humilde opinião, seria a mesma situação, só que 4 anos a mais na falta de experiência no mercado. Qual o futuro de um Doutor no Brasil? Se não for para ser professor de Universidade ou em um raro centro de pesquisa, acho que só vale de pontos a mais um uma possível prova de título em um concurso público. Nosso país precisa absorver esses pós-graduados. Não podemos ter a profissão de pesquisadores? Nosso país gera tanta tecnologia assim para a quantidade de doutores e mestres que produzimos? Ou será que estamos formando uma massa de desempregados super qualificados? Qual o futuro de um doutor? Pós doutorado atrás de pós doutorado para ter uma bolsa?
Um doutor não pode nem financiar um carro no nome dele. Ele não tem comprovante de renda! É um absurdo! Temos prazo de validade, esse prazo é a data do término da bolsa! Ou quem sabe, te pasteurizam de novo e prolongam essa prazo por mais 2 anos.
É nesse contexto que vemos as notícias de fraude de dados se ampliando cada vez mais. É a pressão para sermos os melhores do mundo, temos que publicar em revistas internacionais. Fazer ciência para o Brasil e publicar para gringos. Tenho certeza que o número de pessoas que leram os trabalhos que participei como um dos autores é ínfimo diante das pessoas que já leram o que escrevi nesse blog.
Mas aonde quero chegar? Acredito que é vital que o Brasil crie instituições para absorver todos estes cientistas altamente qualificados. Pois, ou os perderemos para o exterior ou não vão trabalhar na área que foram altamente capacitados a trabalhar (investimento de milhares de reais no lixo). Ou se não, teremos que abrir 1 milhão de universidades para ter vaga para tanto professor!
Bem, essa é minha humilde opinião. E que venham as críticas…rs
Sou mais um carinha do exército de doutores do Brasilzão. Emendando uma coisa na outra, graduação, lato sensu, mestrado, doutorado. Entre graduação e lato sensu passei em um concurso público até razoável, poderia me acomodar e esperar por progressões. Não fui adiante para quê? Tentar ajudar a melhorar o mundo com ensino, pesquisa e extensão..estudei nas melhores universidades públicas do país, pra quê?
Comecei a maratona de concursos para docente, pra quÊ? No último, muito sério por sinal..rss, fiz o meu melhor para aula didática unindo teoria e prática profissional para "burro" entender, pra quê? Para uma banca a qual não havia ninguém da minha área de conhecimento, resultado fiquei para trás, pq os ignorantes não tinham capacidade para valorizar meu empenho.
Tudo isto e o único retorno: desgaste físico, financeiro (gasta-se para fazer mestrado e doutorado sem bolsa, mesmo em públicas), emocional e familiar.
O que aprendi? Não tenho certeza ainda, no geral talvez contemplar o que se têm seja uma forma mais apropriada de encarar isto, e principalmente a família (esposa e filho).
A maioria dos que conheci fizeram carreira acadêmica (hj docentes) por $$$, status...acho que devem estar certos e eu errado!
resumindo...me sinto um otário e tudo isto uma patifaria!
Quando terminei de ler o seu texto, me deu uma vontade quase incontrolável de bater palmas. Você disse tudo! Eu estou aqui me preparando para a minha defesa de mestrado e me sinto exatamente como você. Enquanto todos os meus colegas de graduação estão trabalhando, alguns em grandes indústrias, até com idas ao exterior a trabalho, eu estou aqui terminando meu mestrado, já sem bolsa há alguns meses, com dívidas e mais dívidas, dependendo da ajuda de familiares para me manter. Acho isso bem triste pelo tanto que estudei, me dediquei, virei noites escrevendo e ainda mais quando considero a pressão que ficou em minhas costas enquanto não terminava de escrever um artigo ou a dissertação. Nesse tempo de mestrado, eu me casei e tive minha filha, mas tudo isso com um peso enorme na consciência de que eu deveria estar me dedicando aos estudos ao invés de estar vivendo. Fui para a lua de mel respondendo emails referentes ao artigo que eu tinha que escrever. Na maternidade, eu enviei emails para a minha orientadora. Se pelo menos eu tivesse um retorno disso tudo. Vou sair do mestrado sem muitos contatos profissionais e dos currículos que enviei durante a pós-graduação, não tive resposta de nenhum, nem para uma entrevista. E faço mestrado em uma das melhores universidades públicas da América Latina. O mundo da pós-graduação está muito distante mesmo do mundo real. Pior que a gente só consegue perceber isso quando já está fazendo a pós-graduação. Fico impressionada quando leigos me dizem que o meu próximo passo deve ser o doutorado. Eles não sabem do que estão falando. Espero que um dia todo esse esforço me traga algum retorno, mas por enquanto não vejo luz no fim do túnel.
Nossa, sempre caio aqui no seu Blog...ando pensando muito sobre isso, em como a realidade da universidade é tão distante do mercado de trabalho...Em como depois reclamam que a sociedade não valoriza os cientistas e blábláblá...eu acho, infelizmente, que esses "professores que se acham semideuses" não tem interesse real em divulgar a ciência e outra realidade triste que vejo e muito me desanima é a CORRUPÇÃO na universidade...se tiver algum tipo de CPI para investigar, creio que aí é que a sociedade desanimará mais ainda... Triste realidade, mas espero que consigamos virar esse jogo! Obrigada por suas reflexões...
Boa reflexão!
Sou psicóloga ,psicopedagoga e mestranda na UNB de Brasília, lendo seu texto bateu um desespero, mas volto para contar como as coisas estão . Abç
Gostaria muito de ter lido esse texto, e muitos outros que tenho visto sobre a realidade da ciência no país, há 8 anos atrás, quando aos 15 anos decidi prestar o vestibular para Ciências Biológicas. Hoje, terminei o mestrado, e estou dando aulas apesar de perceber que não tenho vocação para a docência. Minha formação foi muito mais teórica e basicamente para pesquisa e ensino, não sabia nada sobre a realidade do mercado de trabalho. Durante esses anos fui conhecendo mais a fundo os bastidores das universidades e hoje sei que se eu optar por ainda fazer um doutorado, será por falta de uma opção melhor, visando ao menos conseguir um salário digno, sendo que este nao deveria ser o objetivo principal. Mas estou considerando fazer uma outra graduação. Essa correria louca por publicações e títulos parece que não acaba nunca pra que opta por seguir a carreira acadêmica. Acho que não é pra todo mundo. E por mais que eu tenha me esforçado tanto desde o começo da graduação, mesmo tendo tido sempre ótimas notas e me dedicado ao máximo ao que estava fazendo, parece que nunca é suficiente, é necessário sempre mais. Me identifiquei com vários comentário nessa página.
O Brasil precisa encontrar uma forma de aproveitar melhor os profissionais que consegue formar nas Universidades, para que os mesmos possam trabalhar em suas área de estudo, não sei ao certo, mas muitos profissionais formados em uma área, trabalham em outra por falta de oportunidades em sua área.
Títulos no Brasil só servem para quem quer fazer concurso público. A minha pós graduação não me valeu de nada porque nunca me abriram as portas para adquirir experiência na área da pós (uma vez que você é graduado, mesmo querendo trabalhar de graça para adquirir experiência, não é possível porque vai de encontro às leis trabalhistas e nenhuma empresa quer se arriscar). A minha graduação me valeu mais, pois antes de terminar a universidade iniciei estágio voluntário e consegui seis meses depois o meu primeiro emprego. Logo em seguida me formei e consegui seis anos de tempo de experiência em outra área. Eu tentei a pós na ilusão de que poderia ampliar o meu leque de conhecimentos e atuação, adquirir experiência em outra área para, quem sabe um dia, em caso de necessidade, não ficar na "rua da amargura", mas foi realmente um investimento sem retorno.