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Inspirado em um comentário do Luiz em outro blog, resolvi escrever este post sobre uma das perguntas que por mais de 40 anos instigou os ecólogos. Hairiston (1960), em um trabalho importantíssimo para as bases do estudo de teias tróficas, reuniu os organismos em distintos grupos levando em consideração o modo de alimentação (herbívoros, carnívoros e outros) e no final do final do trabalho levantou a pergunta: Por que o mundo é verde?

O mecanismo seria o seguinte: os carnívoros exercem pressão na população de herbívoros via predação e, assim, liberam os produtores primárias da pressão por pastagem dos herbívoros. Um exemplo clássico de cascata trófica. Algo bem simples, difícil de ser mostrada em ambientes naturais. Porém, Jonh Terborgh (respeitável professor da Universidade de Duke e autor de um dos mais incríveis livros sobre conservação “Requiem for nature”, algo como marcha fúnebre para a natureza) publicou um artigo na Science em 2001 com título “Ecological Meltdown in predator-free forest fragments”.

Neste artigo, Terborgh e outros pesquisadores puderam observar em tempo real o efeito da ausência de predadores em fragmentos de floresta. Estes fragmentos foram gerados com a construção de uma hidroelétrica na Venezuela. Com a criação do reservatório, foram alagados mais de 4.300 kilômetros quadrados. Devido a natureza irregular desta área, foram formadas ilhas no topo de pequenos morros. Sendo que em algumas dessa ilhas era possível ou não encontrar os famosos predadores de topo (carnívoros).

Ilhas Guri (fragmentos formado pelo reservatório de uma hidroelétrica)


Deste modo, Terborgh pode responder a pergunta feita por Hairston, em 196o, com provas reais. E basicamente o que se viu foi o que Hairston tinha imaginado. Nos fragmentos sem carnívoros, era observado superpopulações de herbívoros. Formigas, iguanas e macacos herbívoros não precisavam mais se preocupar com predadores. Era o céu para eles! Comer e se reproduzir. Tudo na calma. Ao contrário do que muitos pesquisadores pensavam, pois acreditavam que esse crescimento não seria tão grande devido a disponibilidade de alimentos, Terborgh observou um aumento da densidade de herbívoros muito expressivo. Estes animais não se importavam tanto se um dia o suprimento de alimento poderia acabar, eles aumentavam em número absurdamente. Nestes fragmentos, Terborgh também observava que não existia serrapilheira (acúmulo de folhas mortas no solo da floresta), além disso era possível observar o ceú com facilidade (algo extremamente difícil em florestas tropicais, pois o dossel é muito denso), fatos este que tem influência decisiva nos processos biogeoquímicos que ocorrem no solo, além de afetar a dinâmica dos vegetais ali presentes.

Com base nestes fatos, observamos a importância da preservação de todos os componentes teia trófica. Este equilíbrio é muito tênue. Com as taxas de fragmentação dos ambientes naturais cada vez maiores (seja por criação de hidroelétricas, seja por desmatamento), a possibilidade da ocorrência do colapso (ou como disse Terborgh, derretimento) das teias tróficas cresce exponencialmente. O que torna esse fenômeno uns dos mais importante para a Biologia da Conservação. E fica aqui a minha nova pergunta, sabendo porque o mundo é verde, por quanto tempo ele ainda continuará assim? Não estou fazendo essa pergunta com um tom ambientalista, mas me preocupo muito com a fragmenteção de nossa matas. Um exemplo claro é a a Mata Atlântica, reduzida a menos de 10% da sua cobertura original, porém mais grave ainda, é que a mesma se encontra totalmente fragmentada. Isto potencializa ainda mais o desaparecimento deste bioma tão diverso.

Refrências:

Terborgh, J., L. Lopez, P. Nuñez V., M. Rao, G. Shahabuddin, G. Orihuela, M. Riveros, R. Ascanio, G. H. Adler, T. D. Lambert and L. Balbas. 2001. Ecological Meltdown in predator-free forest fragments. Science 294: 1923-1926.

Hairston, N.G.; Smith, F.E. and Slobodkin, L.B. 1960. Community structure, population control and competition. American Naturalist 94: 421-425