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ResearchBlogging.orgContinuando o post sobre comunicação bacteriana, agora focaremos em bactérias que atuam dentro no nosso próprio corpo. Mais uma vez, a comunicação bacteriana do tipo Quorum Sensing vai ser de extrema importância nas ações tomadas pelas bactérias.

Como primeiro exemplo, a molécula C12 funciona com um sinal que coordena a expressão (Quorum Sensing) de genes de virulência pela bactéria Pseudomonas aeruginosa. Este microorganismo é causador de infecções oportunistas, como em queimados e pessoas com problemas de baixa imunidade. Estudos indicavam que a molécula de C12 ajudava nosso corpo a desenvolver inflamação no local onde ela se encontrava. Porém, o seu papel é o extremo oposto. Essa molécula além de atuar na comunicação entre as bactérias, inibe uma importante via estimuladora da resposta imune. Assim, quando o nosso corpo tenta “grampear” o que as bactérias estão dizendo umas a outras, ele mesmo sai perdendo. Sobrando mais tempo para a colônia Pseudomonas aeruginosa se desenvolver sem a interferência de nosso sistema imune.

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– Cuidado hemácia! Estamos sendo grampeados. (Staphylococcus entre duas células humanas)

Vocês pensam que nosso corpo só sai perdendo? Não é bem assim. No caso da espécie de  bactéria Staphylococcus aureus (extremamente mortais, pois rapidamente desenvolvem resistência a antibióticos) nosso corpo ganhou um batalha. Porém, o mais impressionante é que 25% das pessoas no mundo tem essa bactéria como residente em suas mucosas nasais, e mais impressionante ainda é que 1% delas possuem a forma mais resistente a antibióticos. Pesquisadores americanos observaram que um molécula do nosso sangue chamada Apolipoproteína (responsável pelo transporte de colesterol pelo nossa corrente sanguínea) podia atenuar a molécula AIP1. Sim, mas e daí? E daí, é que essa molécula é um importante sinal Quorum Sensing de virulência da Staphylococcus aureus. Assim, nosso corpo intercepta a comunicação entre os indivíduos da colônia, impedindo a expressão de genes de virulência. É nesse balanço que nós sobrevivemos. Indivíduos muito doentes ou mais velhos, expressam menos apolipoproteína, podendo ficar mais suscetíveis a infecções por esta bactéria.

Outro exemplo é a interação entre nós e nossa eterna amiguinha Escherichia coli. Pesquisadores da universidade do Texas descobriram que um receptor (QseC) além de detectar uma molécula (AI-3) que sinaliza comunicação Quorun Sensing de expressão de genes de virulência, também é capaz de detectar adrenalina e noradrenalina (hormônios humanos ligados a situação de alerta e estresse). Deste modo, estas bactérias interceptariam momentos de maior fragilidade de nosso sistema imune e se aproveitariam disso.

As pesquisas nessa área, apesar de não serem recentes, ainda não deram resultados mais diretos para a tentativa de manipularmos essa comunicação entre microorganismos. Imagina se conseguirmos isso, poderíamos dar ordens a exércitos de bactérias nos nossos corpos. Ou mais numa visão mais realista e próxima, poderemos gerar moléculas capazes de tronar mais difusa essa comunicação Quorum Sensing que expressa genes de virulência e evitar infecções oportunistas em pacientes de hospitais. Evitaremos assim casos recorrentes de infecções hospitalares.            

Mullard, A. (2009). Microbiology: Tinker, bacteria, eukaryote, spy Nature, 459 (7244), 159-161 DOI: 10.1038/459159a