Não se assuste. O exemplo clássico que aprendemos no colégio está correto. Mamíferos e aves são normalmente utilizados nos exemplos de animais que buscam a homeostase de forma ativa (com gasto de energia). A homeostase é a capacidade de um organismo manter condições internas constantes diante de um ambiente externo variável. Chamamos estes organismos que mantém a homeostase através da geração de calor corporal interno de endotérmicos. Organismos como répteis e as abelhas (e todos os outros insetos) normalmente são classificados como ectotérmicos, que ajustam a sua temperatura interna através do comportamento. Tenho certeza que você já escutou falar do termo “lagartear”, que significa ficar estendido deitado, sem pressa, como os répteis costumam fazer debaixo do sol para aumentar a sua temperatura interna.
Vai um protetor solar aí? Acho que não precisa… Cédito: ingridtaylar Mas é claro que a natureza é um pouco mais complexa e o limite que colocamos nas nossas classificações nem sempre são seguidos a risca pelos outros animais, como no caso as abelhas. O comportamento de grupo destes animais é tão interessante que chega a formar uma linguagem própria (como a famosa “Dança das abelhas”, já comentada no blog
aqui) e até controlar a temperatura interna de uma colméia inteira, submetida a uma variação externa de temperatura. Controlar de forma verdadeira, aumentando a geração de calor interno em várias abelhas que resultam no aumento de temperatura da colméia como um todo. Mas pera aí. As abelhas não eram classificadas como ectotérmicas, dependendo apenas de aspectos comportamentais para aumentar a sua temperatura interna? Era o tipo de controle de temperatura mais estudado. As abelhas apenas controlariam a temperatura da colméia em conjunto, sem aumentar a temperatura de cada abelha, separadamente. Pesquisadores da Áustria mostraram através de uma interessante metodologia que a história não é bem assim.

Precisamos comprar um aquecedor urgente. Crédito: PLoS One Com a ajuda de uma câmera que enxerga e mede diferenças de temperatura (processo chamado de termografia), Stabentheiner e colaboradores conseguiram não só constatar o importante papel individual das abelhas na geração de calor para uma colméia, como descobrir que existe uma importante variação em quais abelhas produzem mais calor de forma interna. Quando há uma variação de temperatura externa da colméia, pode haver uma reorganização na quantidade de abelhas responsáveis pela produção de maior parte do calor. Normalmente são as abelhas mais velhas as responsáveis pela regulação da temperatura da colônia, já que há um gasto de energia muito grande neste processo. O aumento de temperatura interna das abelhas se dá através dos músculos toráxicos responsáveis o voo. Assim, cada abelha pode aumentar a sua temperatura interna e contribuir com a regulação da temperatura de toda a colméia, um trabalho de grupo que mantém a temperatura em um ótimo por volta de 33 e 36 graus Celsius.
A importância deste estudo está na abordagem individual de um processo que normalmente é estudado pelo conjunto de abelhas como um todo, o “super organismo”. Fatores ambientais relacionados a colméia inteira continuam tendo certa importância na termorregulação das abelhas. Mais o papel individual se torna incontestável. É por essas e outras que os animais sociais são sempre um tema tão interessante para os biólogos.
Referência:
Stabentheiner, A., Kovac, H., & Brodschneider, R. (2010). Honeybee Colony Thermoregulation – Regulatory Mechanisms and Contribution of Individuals in Dependence on Age, Location and Thermal Stress PLoS ONE, 5 (1) DOI: 10.1371/journal.pone.0008967
Caros,
Gostaria de parabenizar pelo blog, afinal as abelhas são animais sociais para lá de interessantes, digo com a propriedade de quem trabalha com as mesmas.
Abraço
Sem dúvidas Manuel! Sou muito interessado pela sociobiologia. Tirando os exageros a parte, a relevância do estudo destas relações é indiscutível.
Abraços e bom final de semana!
Caro Luiz Bento
É um grande atrevimento eu estar aqui a comentar o seu texto,uma vez que de abelhas ainda sei menos do que de mim,que muito pouco é. Mas contando com a sua benevolência,aqui lhe deixo um reparo e uma sugestão. O reparo diz respeito ao seu "é claro que a natureza é um pouco mais complexa". Só um pouco? A sugestão é que os animais sociais fossem também "um tão interessante tema" para os sociólogos,e não só,por óbvias razões.
Pedindo muitas desculpas pelo atrevimento,os meus agradecimentos pelo que fiquei a saber sobre abelhas,e não só.
Muito boa saúde.