No livro o Gene Egoísta, Dawkins comenta sobre o efeito que o gene pode ter fora do corpo que o contém, podendo alterar o fenotipo de outros organismos, podendo ser até de uma outra espécie. O artigo que comentarei agora me lembrou isso.
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia estudando a influência do virus do mosaico de côco (VMC) nas suas plantas hospedeiras (abóbora, agora não me pergunte o porquê disso, sendo o côco a planta que vem no nome). Existem dois tipos de comportamento de virus que infectam plantas: o primeiro, chamado de persistente, consiste na planta infectada ficar mais atrativa para afídeos, que ao se alimentar da seiva se contaminam (o virus fica fica residindo na glândula salivar do inseto, após passar pelo seu sistema digestório) e, com isso, podem infectar novas plantas mais tarde; e o segundo, chamado de não-persistente, causa depauperação (as folhas ficam murchinhas), com isso as plantas ficam menos atrativas para os afídeos, além de do virus ficar preso ao aparelho bucal do inseto, sendo necessária que o animal se alimente rapidamente em outra planta para haver a dispersão. Com isso, virus não-persistente devem estimular as plantas a mudarem as substâncias que elas exalam para que o inseto seja repelido o mais rápido possível após se contaminar.
O VMC atua extamente desta maneira, apesar de estar aparentemente “feia”, a planta exala grande quantidade de compostos que enganam estes insetos. Pelo o odor e a distância do inseto, parecem estar em perfeita saúde. Mas, ao chegar na planta, o afídeo se alimenta rápido e logo sente que há algo de podre no reino da Dinamarca. Porém, ele já está infectado e parte para outras plantas dispersando rpidamente o virus.
Planta não infectada e infectada pelo CMV (A e B, respectivamente) e a presença de duas espécies de afídeos nelas
Sendo assim, o conjunto de genes (ou o gene) que favoreça o virus a estimular este comportamento nas plantas serão selecionados (admitindo-se que virus estejam sob influência da seleção natural). Só que o alvo desses genes não está no fenótipo do virus (por exemplo, um capsideo mais resistente, ou uma nova fomra de infecção), mas sim no fenótipo da planta (exalará outros tipos de substâncias odoríferas).
Essa mudança de odor de indivíduos infectados é observada em outras doenças também. Por exeplo, hamsters infectados por leishmania atraem mais mosquitos-palhas (vetores da doença) do que indivpiduos saudáveis. Até mesmo em humanos esse comportamento foi verificado, onde crianças infectadas pelo Plasmodium falciparum (causador da malária) atraem mais mosquitos que crianças saudáveis. Desse modo, entender a evolução da interação entre agente, hospdeiro e vetor é de extrema importância para o entendimento de doenças desse tipo.
Referência:
Mauck, K., De Moraes, C., & Mescher, M. (2010). Deceptive chemical signals induced by a plant virus attract insect vectors to inferior hosts Proceedings of the National Academy of Sciences DOI: 10.1073/pnas.0907191107
Artigo também comentado no Wired Science
Só lembrando, pois li recentemente: quem sabe o virús da AIDS não disperte mais o libido nas pessoas para que seus genes possam se propagar com mais facilidade?
Muito doido pensar nisso, mas merece um estudo.
Manoel,
muito obrigado pela explicação.
Abraços
Em relação ao teste do vírus em abóboras, citado no post.
O vírus usado no estudo é o Cucumber mosaic virus. O termo cucumber se refere ao Cucumis sativus, e não ao coco, cujo nome científico é Cocos nucifera.
Assim, o vírus foi testado em Cucurbita pepo (do grupo da abóbora) que é da família Cucurbitaceae, a mesma do Cucumis sativus.
Takata,
não sei te responder isso, mas mal não deve fazer.
Manuel,
seus comentários são sempre muito interessantes.
Abraços
Caro Breno
Muito interessante este seu texto. Dá para reflectir,em particular,a pergunta.Mas sendo os cheiros sentidos diferentemente,a coisa deve complicar-se.Depois,essa associação agente da doença com insecto é algo intrigante,pois torna-os parceiros no "crime". A propósito,há muito tempo,ia sendo quase comido por exércitos de mosquitos. Valeu um repelente,que cheirava muito bem,mas de que os mosquitos fugiam a sete pés. Lembra isto,pelo menos,gostos não se discutem,e ainda bem que a variedade de gostos é uma realidade.
Muito boa saúde.
Será que os vetores se beneficiam com os parasitas? Não manteriam com eles uma relação de mutualismo?
[]s,
Roberto Takata