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O planeta Terra passa por modificações graves na sua dinâmica climática. O homem tem importante papel nesse fenômeno, principalmente, pela a emissão de gases estufa para atmosfera. Entretanto, a própria natureza também emite tais gases normalmente, o homem é que desregulou este balanço ao começar a queimar combustíveis fósseis.

Neste contexto, vários modelos matemáticos estão sendo desenvolvidos a todo momento para simular e, assim, estimar esta dinâmica de emissão e sequestro de gases estufa da atmosfera. Já adianto que este é ponto de maior polêmica nos estudos climáticos, pois dependendo das variáveis utilizadas e do peso que cada uma delas recebe, o resultado final dos modelos são diferentes. Por isso, escutamos tanta variação na estimativa de aumento da temperatura média do planeta. Cada modelo gera um resultado diferente, por isso, por vezes, é gerado uma estimativa média. É assim que a Ciência funciona. Nada mais é do que uma atualização de modelos que tentam explicar os fenômenos naturais.

Na última edição da revista Science, foi publicado um trabalho que re-estimou a liberação de metano dos ambientes aquáticos continentais (lagoas, lagos, rios e áreas alagadas). É bem estabelecido na literatura que os ambientes terrestres funcionam como sumidouros de gases estufa, isto é, eles absorvem esses gases da atmosfera. Entretanto, os ambientes aquáticos continentais funcionam como interseção entre a atmosfera e o ambiente terrestre, visto que matéria orgânica produzida no ambiente terrestre, na maioria das vezes, encontra um ambiente aquático onde é decomposta. Esta decomposição emite gases e, dependendo das condições, gases com potencial estufa maior que o CO2 (por exemplo, metano e óxido nitroso).

P3240186.JPGUma das lagoas avaliadas pelo trabalho

Modelos levam em conta o quanto o ambiente terrestre pode absorver de gases estufa da atmosfera, mas não estavam dando o peso certo para a contribuição dos ambientes aquáticos continentais no balanço de emissões. Este estudo mediu a emissão de metano em mais de 500 ambientes deste tipo pelo mundo, além de fazer medidas mais completa. Fato este não realizado antes devido a dificuldade de medir fluxos de metano diários em ambientes com características peculiares que dificultam o trabalho.

Com isso, os pesquisadores concluíram que as emissões de metano dos ambientes aquáticos podem chegar a 0,65 Pg C (CO2 equivalentes) por ano (a unidade Pg é 1015g, lembrando que 106g é 1 tonelada). Contabilizando esse fluxo de metano em modelos recentes, a contribuição de sequestro de carbono por ambiente terrestre pode ser 25% menor. Isto é, essa emissão representa tem a capacidade de contrabalancear 25% do que as florestas sequestram por ano.

Pro fim, parte desse trabalho foi realizado pela equipe do laboratório onde fiz meu mestrado. E tive contato com alguns dos autores. O que sempre foi muito bom. O primeiro autor é um sueco muito legal, sempre responde suas perguntas, por mais idiotas que elas possam ser. 

Referência:

Bastviken, D., Tranvik, L., Downing, J., Crill, P., & Enrich-Prast, A. (2011). Freshwater Methane Emissions Offset the Continental Carbon Sink Science, 331 (6013), 50-50 DOI: 10.1126/science.1196808