Em um artigo desta semana na Nature, o pesquisador David Tilman avaliou a mudança na nossa dieta, com grande presença de açúcar refinado, gorduras refinadas, óleos e carne e o aumento da incidência de diabetes do tipo II, doenças coronárias e outras doenças crônicas, além de como isto está relacionado com emissão de gases estufa pela agricultura e pecuária.
Ele observou 3 tendências na dieta relacionadas com o aumento do produto interno bruto per capita:
1) Com o aumento na demanda por proteína animal, a demanda por legumes diminui;
2) Quanto maior a renda de um ´país, maior a demanda dele por calorias vazias; e
3) A demanda calórica per capita aumenta junto com a renda, por exemplo, em países com PIB per capita de aproximadamente $12.000 dólares por ano, o consumo calórico total diário pode ser de 500 Kcal superior ao nutricionalmente necessitado.
Como podemos notar, isto tudo se baseia em um cenário de desenvolvimento econômico mundial, isto é, aumento da urbanização e da produção industrial de alimentos. Tilman estima que, quando comprada com a dieta de 2009, em 2050, nossa dieta terá 15% mais calorias e 11% mais proteínas, 61% mais colorias vazias, 18% menos porções de frutas e vegetais, 2,7% menos proteínas de origem vegetal, 23% mais de carne de porco e aves, 31% mais de carne de ruminantes, 58% mais de laticínios e ovos e 82% de peixes e frutos do mar.
Porém essa mudança em nossa dieta não vem sozinha, no mesmo artigo ela aponta que a emissão de gases na produção de carne (neste exemplo, ruminantes) é 250 maior que na produção de legumes. Quando mudamos a fonte animal para porcos ou peixes, essa diferença tende a cair, além de observarmos a mesma tendência quando comprarmos diferentes tipos de produção de uma mesma fonte animal (por exemplo, gado em pastagem e gado confinado).
Nos gráficos abaixo ele mostra a diferença em as fontes alimentares e a emissão de gases do efeito estufa por (a) quilocaloria, (b) porção e (c) grama de proteína.
Diante desses cenários, a publicação estima que haverá um aumente de 80% na emissão de gases estufa oriundos da produção de alimentos até 2050 caso o ritmo de crescimento e o estilo de nossa dieta se mantenham.
Interessante também são os dados de uso de terras para a produção de alimentos baseado no tipo de dieta:
Nota-se que, se assumíssemos todos um dieta vegetariana, quase não precisaríamos de mais terras para a produção de alimentos (gráfico da esquerda) para alimentarmos o mundo em 2050 em relação as que já dispomos hoje em dia para tal finalidade.
Já em relação a parte médica, o gráfico abaixo mostra a redução no risco de certos tipos de doenças com base na dieta da pessoa.
Portanto, o artigo alerta que o trilema dieta-meio ambiente-saúde deve ser norteador de políticas públicas globais.
Em um primeiro momento, parece-nos que a dieta vegetariana seria a solução para tudo, porém devemos entender que este artigo não é a prova cabal para isso. Basicamente, as dietas mediterrânea, pescetariana e vegetarianas não incluem as calorias vazias, valorizando uma alimentação balanceada. Fora que a presença proteína animal não foi considerada um malefício, a mediterrânea possui a presença de carnes, mas em pequenas porções (tanto bovina, quanto suína), além dos peixes e frutos do mar como a pescetariana.
Além do mais, escolha da dieta é uma escolha pessoal, existem pessoas que não conseguem deixar de comer carne. O que não é nada estranho visto que somos animais onívoros por natureza!
Sendo assim, esse artigo fica mais como um alerta para o rumo que nossa dieta está seguindo e os problemas inerentes (tanto ambientais, como de saúde) dela. Mais uma vez, a polêmica reside na questão de como a sociedade encara o planeta: atualmente, como um mero provedor de recursos naturais, ilusoriamente, infintos. Além, é claro, da adoção de hábitos mais saudáveis.
No final, a escolha ainda é individual. Pessoalmente, não consigo deixar de comer carne, mas tenho plena certeza de que a quantidade deve ser bem menor.
Referência: doi:10.1038/nature13959
Lindo, mas a pesquisa esqueceu uns detalhes:
Quem trabalha fora nem sempre pode levar comida de casa. Seja porque não tem onde esquentar, seja porque é inviável carregar quando se pega transporte público (não sei se vocês sabem, mas muitas pessoas pegam trem, ônibus, bicicleta ou vai a pé, mesmo, para ecnomizar passagem) ou mesmo por simples conservação ou porque trabalha na rua.
Sendo assim, as pessoas acabam comendo na rua, e ou se come algo acessível ao bolso ou se come o que tem.No meu trabalho (um colégio), por exemplo, nem sempre dá para eu levar marmita. Tem nutricionista? Tem, e os cozinheiros são ruins, a cmida volta e meia está absurdamente salgada, e é hipercalórica. E quando fazem peixe, a cantina fatura horrores vendendo ovo frito, pq o peixe é algo que eu não daria ao meu pior inimigo (sim, daria. Ele que se dane!).
O preço das coisas está alto, semana passada vi um quilo de pêssego a R$50,00! (CINQUWENTA REAIS!). Come outra coisa? Beleza. O quê? Abacate? OOOOOOOOOOOOps!
Não tem mais alimentos frescos, os vegetais nem sempre estão em boas condições, compramos coisas visando o que dá no nosso orçamento e acabamos com péssimo ritmo de vida.
É muito simplista dizer "as pessoas estão comendo errado". Mas parece que ninguém faz a pergunta-chave: Por quê?
BTW, sobre a emissão de gases: alguém aqui quer um retrocesso de tecnologia? Não. Boa parte dos EUA usa energia termoelétrica. A melhor opção seria usinas nucleares, mas o cagaço infantil das pessoas não querem isso. Usinas eólicas matam muitos pássaros e dá uma poluição sonora absurda. Hidrelétricas modificam o microclima das regiões e tudo o que vemos aí é fruto de nosso avanço tecnológico. Mas ninguém quer voltar a 1950, com menos carros nas ruas, sem celular, telefone fixo praticamente inexistente nas residências, TV ainda mal tinha chegado etc.
Resumindo? Estamos todos ferrados.Merry Christmas
Cara, toda a argumentação aí está no ponto: a sociedade é assim, não pode mudar. Oras, como se inicia uma mudança cultural? Espera mudar sozinha?
Quando as pessoas buscarem alimentação saudável, surgirá mercado. O tio da marmita na esquina do trampo vai fazer um marmitex com arroz integral, proteína de soja, etc.
Com maior consumo de vegetais, haverá mais investimento em produtos de qualidade, como há na carne. Haverá mais rotatividade, resultando em produtos frescos. Com oferta e procura, o pêssego até baixa de preço.
Apenas repetindo o que já foi dito nos comentários do facebook: as imagens não estão aparecendo.
Valeu Fábio, conserto feito!