Febre Amarela volta a aumentar no Brasil

Foto de um mosquito pousado na pele. No texto consta: Febre Amarela: Entenda melhor como prevenir esta doença que está voltando a crescer no Brasil. Texto por Ana Arnt, Mariene Amorim, Maurilio Bonora Junior
Texto escrito por Ana de Medeiros Arnt, Mariene Amorim e Maurílio Bonora Junior

A febre amarela (FA) é uma doença que volta e meia é assunto em nosso país. Mas quando falamos que ela está atingindo regiões urbanas e do sudeste brasileiro, há quem se espante com a notícia. Hoje vamos falar um pouco sobre a caracterização da doença, a necessidade de vacinas e os motivos fundamentais de falar desta doença em nosso país, atualmente!

Em tempo, sempre é bom deixar claro para quem não quer seguir o texto inteiro e precisa de uma informação rápida e objetiva. Começaremos pelas informações vacinais, ok?

Vacinação de Febre Amarela

Tu podes encontrar vacina contra a febre amarela em qualquer posto de saúde em nosso país e esta é a medida mais eficaz de proteção contra a doença (ótimo dia para ser pró-vacina! Tomar vacina e não adoecer: bom demais!). Desde 2017 temos o esquema vacinal de dose única. Isto é, para quem tomou vacina depois desta data, já está coberto. Quem tomou antes de 2017, a recomendação é vacinar novamente após 10 anos. Caso tenha dúvidas — ou não lembre quando foi sua última dose, recomendamos que consulte profissionais da saúde para uma indicação sobre tomar ou não a vacina agora.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, a vacina da febre amarela é extremamente eficaz, segura e acessível. Além disso, a vacina confere imunidade eficaz dentro de 30 dias para 99% das pessoas imunizadas.

Ou seja: se vacine!

Febre amarela: características e transmissão

A febre amarela — assim como dengue, Chikungunya e Zika — é transmitida por mosquitos. Doenças transmitidas por insetos, aracnídeos (aranhas, escorpiões, opiliões, ácaros)são classificadas como arbovirose — que é um termo que vocês podem ler por aí, associado à doença.

Os principais sintomas da febre amarela são: febre, dores musculares com dor lombar proeminente, dor de cabeça, perda de apetite, náusea ou vômitos. Em geral, os sintomas desaparecem dentro de 3-4 dias.

No entanto, há uma parcela de pessoas infectadas (entre 15 e 25%) que desenvolve uma segunda fase da doença. Esta segunda fase é mais grave, com um risco de morte maior. Os sintomas são: pele e olhos amarelados, urina escura, dores abdominais com vômitos ou sangramentos. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 20-50% das pessoas que desenvolvem a doença grave podem vir a óbito.

Na presença destes sintomas — mesmo os mais leves — recomendamos a consulta médica para um diagnóstico preciso.

Infelizmente a febre amarela não possui medicamento antiviral específico, mas há cuidados às pessoas infectadas, para minimizar os efeitos dos sintomas. Em especial, evitar desidratação, falência do fígado e dos rins, além da febre.

A infecção pela febre amarela acontece por dois tipos de ciclos: silvestre e urbano. Em geral, temos principalmente o ciclo silvestre no nosso país, sendo transmitido pelo mosquito dos gêneros Haemagogus e Sabethes.

No ciclo silvestre, os principais afetados pela doença são macacos. Nós, seres humanos, somos “hospedeiros acidentais”, isto quer dizer que a menor quantidade de afetados são humanos. A doença não passa diretamente de macacos para seres humanos. Eles são hospedeiros, como nós, deste vírus.

No ciclo urbano, o mosquito transmissor é um velho conhecido nosso: Aedes aegypti. Sim! O mesmo mosquito que também transmite dengue, Chikungunya e Zika. Neste caso, o hospedeiro principal é o ser humano.

Febre amarela como uma doença endêmica

Há alguns anos, voltou a circular o termo endemia em nosso país. Na época (2022), perguntávamos se a covid-19 havia virado uma endemia ou não — e existiam pessoas que torciam para que fosse esse o cenário. Endemia não é uma quantidade pequena de casos, e esse debate para covid-19 não fazia sentido (e não faz até hoje).

Mas então, o que quer dizer endemia? Este termo significa que todos os anos ocorre a notificação regular de casos de uma determinada doença ou infecção, em regiões específicas. Em nosso país, em especial na região amazônica, são esperados casos de febre amarela todos os anos. Neste sentido, as ações de saúde pública de combate à doença acontecem prioritariamente nesta região.

Uma endemia não quer dizer que uma doença não seja grave, ou que existam poucos casos. Diz respeito à noção de sazonalidade da doença (épocas mais frequentes) e casos regulares — ou seja, uma manutenção de quantidade de casos anuais, ao longo de um tempo.

 Acompanhamento de casos na América do Sul

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) possui um painel com dados consolidados de febre amarela desde 1960 até 2022. No total, tivemos 9.397 casos da doença no continente sul-americano e 3.315 mortes no total (35,28% de letalidade).

Neste período, o Brasil notificou 3.443 casos confirmados da doença e 1.192 óbitos (34,62% de letalidade). Em comparação com outros países da América do Sul, estamos em 1⁠º lugar em quantidade de casos e 2⁠º em quantidade de óbitos, ficando atrás do Peru, com 1.343 óbitos e 3.281 casos confirmados (40,93% de letalidade).

No entanto, esta comparação precisa levar em conta não apenas a totalidade de casos, mas o acompanhamento histórico dos países, em relação aos casos confirmados. Enquanto o Peru teve casos regulares por um período e vem diminuindo os casos confirmados, o Brasil, que vinha apresentando pouquíssimos casos da doença, teve um aumento brutal de casos entre 2016 e 2019.

Febre amarela no Brasil

Para termos uma noção da situação da Febre Amarela no nosso país, em 2014 tivemos um caso confirmado, e em 2015 foram nove casos confirmados (com cinco óbitos).

Já em 2016 passamos para 51 casos confirmados, com 37 óbitos (72,55% de letalidade). Em 2017 tivemos 807 casos confirmados, com 270 óbitos (33,45% de letalidade). O ano de 2018 apresentou os dados mais alarmantes deste conjunto de anos, tendo 1.308 casos confirmados da doença, com 446 óbitos (29,33% de letalidade). A quantidade de casos de 2019 até 2022 foi baixando, com apenas 5 casos reportados em 2022, dos quais 4 vieram a óbito. Em 2023, foram registrados 6 casos, dos quais 4 foram fatais. Já em 2024, o número volta a aumentar, com 61 casos, dos quais 30 foram fatais.

Segundo o Ministério da Saúde, foram aplicadas 4,6 milhões de doses de vacina contra febre amarela até 19 de fevereiro de 2025. Há atualmente uma intensificação de vacinação para controle da doença. Desde novembro de 2023, houve solicitação de doses extras (em relação ao que era previsto e solicitado em anos anteriores), no estado de São Paulo. A cobertura vacinal contra a febre amarela atingiu 70% no Brasil, o que se configurou como um avanço em relação à 2022, quando atingimos 60,7% de cobertura.

Aumento de casos em 2025

A OPAS lançou um alerta, em fevereiro de 2025, sobre o aumento de casos da doença em várias regiões da América do Sul. Este alerta — seguindo o que já falamos sobre a situação endêmica da doença — acompanha exatamente a notificação e confirmação de casos com distribuição geográfica diferente do esperado. Ou seja, estamos vendo aparecer casos da doença em regiões diferentes daquelas que usualmente vemos notificações. São Paulo está entre as regiões com novos casos de febre amarela, configurando-se como uma mudança no padrão de transmissão do vírus.

Em 26 de março de 2025, a OPAS lançou um novo Alerta Epidemiológico, apontando a preocupação com o aumento de casos, novamente. No Brasil, foram notificados 81 casos da doença, incluindo 31 óbitos (taxa de letalidade de 38,3%). Dentre os casos notificados, temos 34 casos em São Paulo, com 19 óbitos; 41 casos no Pará, com 7 óbitos; em Minas Gerais são 5 casos, sendo 4 óbitos; e 1 caso que veio a óbito no Tocantins. Dentre todos os casos confirmados, somente 1 caso era de uma pessoa vacinada.

Mesmo com o aumento de casos, ainda estamos vivendo — pelo que dizem as análises laboratoriais e genômicas — um ciclo silvestre da doença.

Recomendações para a Febre Amarela

Como dito anteriormente, nosso país tem visto um aumento de casos, novamente. Grande parte dos casos confirmados — incluindo todos os óbitos — são de pessoas não vacinadas. É fundamental o aumento da cobertura vacinal como prevenção da doença.

Na presença de sintomas, é importante o encaminhamento em unidades de saúde, para teste e acompanhamento da doença. Em caso de confirmação do diagnóstico, é importante informar também se a pessoa é ou não vacinada.

Caso não tenhas sido vacinado, sugere-se a procura pela vacina em posto de saúde mais próximo.

*Os gráficos e tabelas foram elaboradas com base nos dados da OPAS, reestruturadas por Mariene Amorim, autora deste texto
    *Tu podes se interessar também por outros textos sobre ARBOVIROSES no Blogs EMRC

    Para saber mais

    Agência SP (2025a) Febre Amarela: Governo de SP reforça vacinação e alerta para cuidados em áreas de mata, Agência de Notícias do Governo do Estado de São Paulo.

    ___ (2025b) Vacina da Febre Amarela precisa de reforço? Quem deve tomar? Tire suas dúvidas sobre a doença, Governo de São Paulo, Coordenadoria de Controle de Doenças.

    Brasil, Ministério da Saúde (sem data) Arboviroses, Saúde de A a Z.

    ___ Febre Amarela, Saúde de A a Z.

    ___ Febre Amarela: Vigilância, Saúde de A a Z

    ___ (2025) Ministério da Saúde distribui 80 mil doses de vacina contra febre amarela para o Pará, Ministério da Saúde, Notícias para os estados.

    Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (2025) Nota técnica no 14/2025 – CGARB/DEDT/SVSA/MS.

    Lopes, V da S, Souza, PC de, Garcia, ÉM, & Lima, JC (2023) Hesitação da vacina da febre amarela e sua relação com influências contextuais, individuais ou de grupo e questões específicas da vacina: uma revisão de escopo, Ciência & Saúde Coletiva, 28(6), 1717–1727.

    OPAS (sem data) Tópicos: Febre Amarela, Acesso em 29 de Março de 2025

    OPAS (2025a) Casos de febre amarela aumentam na América Latina, mostra alerta epidemiológico da OPAS, Notícias.

    OPAS (2025b) Alerta Epidemiológica Febre Amarela na Região das Américas, 25 de Março de 2025.

    Vasconcelos, PFC (2003) Febre amarela, Revista Da Sociedade Brasileira De Medicina Tropical, 36(2), 275–293.

    Os autores

    Ana de Medeiros Arnt é licenciada em Ciências Biológicas, pesquisadora do Grupo Pesquisa em Educação em Ciências (PEmCie) e coordena o Blogs de Ciência da Unicamp e o Especial Covid-19.

    Mariene Amorim Natural de Salvador, Bahia, e biomédica formada pela Universidade Tiradentes – Aracaju, Sergipe. Mestre e Doutora em Genética e Biologia Molecular pela Unicamp, na área de Virologia. Trabalha com vírus emergentes desde 2015. Atualmente é pesquisadora de pós-doutorado no Instituto de Medicina Tropical, da Universidade de São Paulo (USP), onde trabalha com sequenciamento e metagenômica dentro da iniciativa Amazônia +10.

    Maurílio Bonora Junior é bacharel em Ciências Biológicas e Mestre e Doutorando em Genética e Biologia Molecular pela Unicamp, pesquisador do Grupo de Pesquisa em Cultura, Educação e Divulgação Científica e Divulgador Científico no Blogs de Ciência da Unicamp e no EMRC.

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