Divulgação científica e a importância do CNPq na governança da ciência brasileira – uma conversa com Arquimedes Paiva

Publicado por GEICT em

Por Thais Lassali

Nos mais diversos âmbitos acadêmicos, tem se tornado cada vez mais comum os debates sobre a importância da divulgação científica (DC) para a popularização do conhecimento produzido dentro das universidades. A partir disso, esse conceito acabou se tornando mais presente no cotidiano acadêmico, sendo alvo do interesse de grupos de pesquisa, de pesquisadores e, claro, de agências de fomento. É justamente sobre a atuação dessas últimas, mais especificamente sobre a do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que se debruça o artigo “Dinâmicas da pesquisa em divulgação científica no Brasil: trajetórias e carreiras”, de Arquimedes Belo Paiva e Marko Monteiro, respectivamente, membro e líder do GEICT. Além disso, Paiva atualmente exerce a função de Gerente de Plataformas e Serviços Digitais junto à Diretoria de Análise de Resultados e Soluções Digitais (DASD) do próprio CNPq.

Em entrevista ao Blog do GEICT, Paiva explicou que o artigo tem como objetivo mostrar “o papel fundamental do CNPq para institucionalizar e consolidar a divulgação científica como um campo do conhecimento no Brasil”. Para compreender como isso ocorreu, os autores utilizam dados ligados à Bolsa Produtividade em Pesquisa (PQ), que seleciona pesquisadores que possuam produção científica, tecnológica e de inovação de destaque em suas respectivas áreas do conhecimento com o objetivo de incentivar o aumento da produção científica, tecnológica e de inovação de qualidade. Assim, as bolsas PQ são, de certa forma, destinadas aos melhores pesquisadores da ciência brasileira.

Imagem utilizada pelo CNPq para noticiar a chamada de Bolsa Produtividade em Pesquisa em 2024. A foto foi descrita pelo CNPq como “Imagem ilustrativa de pesquisadora sênior e estudante”. Crédito da foto: Freepik.
Imagem utilizada pelo CNPq para noticiar a chamada de Bolsa Produtividade em Pesquisa em 2024. A foto foi descrita pelo CNPq como “Imagem ilustrativa de pesquisadora sênior e estudante”. Crédito da foto: Freepik.

A área de divulgação científica passou a ser incluída na concessão desse tipo de bolsa em 2013, algo que se mantém até hoje com números crescentes, ano a ano, de submissão e de aprovação de projetos. Entretanto, a preocupação do CNPq com a divulgação da ciência é ainda mais antiga, segundo Paiva.

“É possível ver isso desde o início dos anos 2000 com chamadas para Olimpíadas, chamadas para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, chamadas para Feiras Científicas. Logo depois, isso avança para a concessão de Bolsas de Produtividade em Pesquisa, que é quando a área de divulgação científica alcança o auge dessa institucionalização junto ao órgão”.

Desse modo, ao escolher financiar primeiramente eventos e, em seguida, pesquisas em divulgação científica o CNPq acaba influenciando a importância dada à essa área, fazendo com que a comunidade científica brasileira passe a entendê-la como relevante. Assim, não apenas a agência, mas também as modalidades de financiamento que ela decide implementar acabam tendo um papel central na governança da ciência brasileira. E, por consequência, na política científica exercida pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, órgão ao qual o Conselho está atrelado. Em outras palavras, o artigo de Arquimedes Paiva e de Marko Monteiro procura ser uma contribuição para a pesquisa sobre governança da ciência, pensando como as decisões de financiamento do CNPq, por exemplo, ajudam a orientar a criação e consolidação de áreas de pesquisa, como a DC.

Ao mesmo tempo, Paiva acredita que o CNPq, ao entender a importância da divulgação científica como campo do conhecimento, está também preocupado com seu papel na democratização do que é produzido dentro das universidades brasileiras. Para ele,

“A constituição de redes de pesquisas voltadas à divulgação da ciência tem a tarefa de disseminar e consolidar a construção democrática do país. Com os desafios que a democracia impõe, é necessário ter o letramento científico da população. Então, o desenvolvimento da divulgação científica e o aprofundamento desse campo dialogam com a importância da democracia em um país como o nosso”.

Foto de Arquimedes Paiva. Fonte: Currículo Lattes.
Foto de Arquimedes Paiva. Fonte: Currículo Lattes.


0 comentário

Deixe um comentário

Avatar placeholder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *