A COVID-19 foi anunciada oficialmente como uma doença causada por um novo vírus em 31 de dezembro de 2019. Já estávamos antenados a notícias sobre uma “pneumonia” que se alastrava, dos cuidados e quarentenas na cidade de Wuhan, sem saber se realmente seria uma doença que exigiria atenção mundial, ou se tratava de um novo alarde sobre um possível risco de pandemia.
Não seria a primeira vez que o risco de uma doença global estava sendo noticiado. Havia a expectativa de que, após alguns meses, ninguém mais ouviria falar sobre a COVID-19. Conhecemos a SARS em 2003, MERS em 2012, Ebola em 2014 e H5N1 (mais conhecida como Gripe Aviária) em 2010 (que já havia sido notícia em 1997 também). Todas essas doenças foram anunciadas como potencialmente pandêmicas em vários noticiários. Recentemente, entre 2009 e 2010 tivemos a pandemia do vírus H1N1, conhecido como vírus da Gripe Suína. Existem muitas diferenças entre o SARS-CoV-2, causador da COVID-19, e esses outros vírus. Mas isso é assunto para outro momento.
Nossas expectativas sobre algo passageiro foram frustradas, e nos deparamos, meses mais tarde, com o anúncio de uma nova pandemia. Assumimos o desafio científico/comunicacional de entender e divulgar as informações relacionadas a toda população mundial…
Ciência e comunicação foram e continuam sendo importantes aliadas no combate à pandemia, impactando visivelmente a vida das pessoas. A COVID-19 fez o mundo inteiro se debruçar às pressas para conhecer, compreender e buscar soluções para sobreviver a este vírus. Hoje, 22 meses desde o anúncio oficial da China para a Organização Mundial de Saúde e 20 meses desde o anúncio oficial de pandemia, dia 11 de março de 2020, continuamos neste processo.
Na comunicação científica, saímos rapidamente dos anúncios de “potencial pandêmico” para uma pandemia. Logo se descobriu que o agente etiológico, o causador da doença, é um vírus respiratório. Atualmente, as pesquisas científicas vêm nos mostrando que o SARS-CoV-2 infecta e causa lesões em outras partes do organismo humano com consequências mais longas do que fora previsto.
Desde o anúncio do aparecimento da nova doença, foram (e seguem sendo) meses produzindo materiais que informam corretamente e contestam mentiras produzidas constantemente, confundindo a população e tornando mais difícil manter as pessoas seguras e com saúde. Vários são os enfrentamentos de comunicadores de ciência nesta pandemia, como a frustração do público diante da esperança de medicamentos que vencessem a doença rapidamente; estudos fraudados que se espalham como pragas; governos que apostam em algo que não funciona, enquanto ignoram medidas preconizadas pela OMS; a desinformação que se apresenta como um vírus comunicacional e exige um trabalho conjunto e acessível a diferentes públicos. O Blogs Unicamp também compartilha do desafio diário (e por vezes exaustivo) de se comunicar sobre a pandemia. Como um portal de Divulgação Científica entendemos o impacto da ciência e da comunicação na sociedade e, no caso da pandemia, sobre a saúde pública da população brasileira.
Blogs de Ciência da Unicamp e os Especiais temáticos
Desde 2015, o portal do Blogs Unicamp reúne e disponibiliza gratuitamente conhecimento científico para um público não acadêmico, produzido por docentes, pós-graduandos e pesquisadores universitários, em especial da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Além do conteúdo produzido nos mais de 100 blogs por mais de 500 autores, o Blogs Unicamp organiza produções coletivas e colaborativas. Desde 2018, a iniciativa vem organizando “edições especiais” que são produções coletivas em torno de um tema (na prática, blogagens temáticas) — com edital de convite, data limite para inserção dos textos, site próprio, programação intensiva de lançamento e divulgação em redes sociais. Em geral, os especiais configuram-se como um evento que é colaborativo e festivo.
Em 2020, não esperávamos a produção de um especial sobre uma doença. Todavia, com o anúncio oficial de pandemia pela OMS em 11 de março e de fechamento da Unicamp no dia seguinte, a equipe administrativa e científica do Blogs Unicamp se reuniu virtualmente e decidiu que neste ano o especial não teria um tema relacionado a uma celebração. Mais do que nunca a divulgação científica nos parecia uma necessidade social urgente, que diante dos objetivos e missão do projeto, não poderíamos nos abster. Era emergencial nos envolvermos de forma dedicada ao tema da COVID-19, em todas as áreas de conhecimento. O Especial COVID-19 acompanha as demandas sociais por informação e, diferentemente de outras edições de especiais, não tem data para ser finalizado. A produção de conteúdos permanecerá ativa enquanto for necessário abordar o tema. Essa decisão foi tomada no dia 14 de março quando já existiam alguns textos sobre COVID-19 em alguns blogs do projeto. O Blog Especial COVID-19 foi lançado no dia 21 de março. A princípio, convidamos todos os participantes do portal do Blogs Unicamp. Posteriormente, estendemos o convite a toda a comunidade da Universidade que estivesse trabalhando com pesquisas relacionadas à COVID-19 e ao SARS-CoV-2.
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Este livro é um registro de como o nosso trabalho como divulgadores científicos amadureceu, com contradições, conteúdos que pareceram datados ou seguiram válidos e, fundamentalmente, foram revisitados inúmeras vezes — por nós e por leitores que acompanharam nossa jornada a quem agradecemos por nos acompanhar nessa jornada.
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O livro Linha de Fundo
Um pouco antes de completarmos um ano orbitando em volta do Sol, falando de COVID-19, decidimos que seria importante nos organizarmos para deixarmos registrado de forma organizada este nosso trabalho ao longo de um ano. Assim, começamos a elaborar este livro que agora apresentamos a vocês.
Este livro é um registro de como o nosso trabalho como divulgadores científicos amadureceu, com contradições, conteúdos que pareceram datados ou seguiram válidos e, fundamentalmente, foram revisitados inúmeras vezes — por nós e por leitores que acompanharam nossa jornada a quem agradecemos por nos acompanhar nessa jornada.
É uma obra que além da leitura, seleção e editoração do conteúdo do especial, exigiu uma preparação emocional. Não é um processo tranquilo, dado seu teor, frente a tudo o que enfrentamos em nosso cotidiano.
Elaborar este livro foi uma tarefa de muitas mãos: desde pesquisadores que escreveram os textos, até a equipe toda do Blogs de Ciência da Unicamp que tornou a dolorosa rotina de uma doença que ainda nos assola, motor para seguir informando com acurácia todos aqueles que buscavam sanar dúvidas, desbancar desinformações, compreender melhor a doença e seus efeitos no organismo e na sociedade.
O livro foi dividido em seis partes. Como introdução, apresentamos a Linha do Tempo, em que é possível analisar a progressão da doença no Brasil e os textos que foram sendo produzidos em relação a este avanço. Além disso, há o texto Linha de Fundo, no qual explicamos o papel da Divulgação Científica neste tempo e o significado do termo Linha de Fundo para nós.
Pensamos na leitura deste livro de duas formas, igualmente lineares:
● A primeira a partir de temáticas que foram se organizando e iniciam no primeiro capítulo e se findam no último.
● A segunda, seguindo a linha do tempo e entendendo de que forma os textos foram sendo pensados conforme a doença avançava. Para isso, a linha do tempo vai apresentando os capítulos um a um, de acordo com a semana epidemiológica da doença no Brasil.
Nossa proposta com o livro foi organizar exatos 12 meses de trabalho. Selecionamos os textos que foram mais lidos, debatidos, comentados ao longo deste ano, tentando abranger o máximo de áreas possíveis:
● Na primeira parte do livro,
● Na segunda parte do livro,
● Em
● Na parte quatro,
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● Por fim, para encerrar, apresentamos dois textos: o balanço de um ano convivendo com uma doença sem tratamento, com as drogas que foram idealizadas como potenciais – e pouco a pouco descartadas cientificamente. Além disso, no último texto, o artigo que foi elaborado por todos nós quando a pandemia completou um ano. Falamos das mortes e de nossa vida atravessada pela pandemia e das esperanças pela vacina, sem abandonar a gravidade de nossos atos, em um país que não priorizou a vida. Não foram números o que nos afetou, foi a vida em sua ausência.
Com o livro, apresentamos um panorama de um ano de trabalho, atravessado pela Pandemia de COVID-19, das dores e tristezas que nos acometeram, com a ciência e a divulgação científica sendo nosso rumo, trajetória, parceria constante. Continuamos aqui: juntos. ■